O pleito vai definir quem serão os diretores, vices e representantes dos conselhos escolares até dezembro de 2013. Docentes, servidores do quadro da Secretaria de Educação, estudantes e pais têm direito a voto. Os alunos terão aula normalmente e poderão votar em horário diferente ao turno em que estudam. O momento é comemorado por professores como Marilene Carvalho, em sala de aula há 27 anos. ;Esperei toda a minha carreira por isso. A dois anos da minha aposentadoria, é um presente;, anima-se.
Opinião ouvida
Marilene leciona, há 10 anos, no Centro de Ensino Médio Setor Leste, na Asa Sul, mas passou por escolas de outras três cidades. O colégio tem 1.400 alunos e é um dos 77 com duas chapas na disputa. ;Acho fundamental que a gente possa participar de um processo democrático. A opinião dos alunos e do professores não era ouvida. Se todos os órgãos funcionarem, a vivência democrática vai beneficiar a todos;, argumenta a professora. Ela acredita que a escolha pela comunidade favorece a ampliação dos debates que dizem respeito às unidades durante o ano todo.
Por enquanto, mesmo com o alto índice de inscrições dos professores, parte dos estudantes permanece alheia ao processo eleitoral. Matriculada no 3; ano do ensino médio, Adriadny Ribeiro, 18 anos, sabe que as eleições serão realizadas, conhece os postulantes do Setor Leste, mas ainda não se sente segura para votar. ;Acredito que vai ter mais interação entre direção e estudantes, mas não sei o que vai mudar diretamente no nosso dia a dia;, afirma. Colega dela, Carla Camila de Sousa Fernandes, 16, reclama da baixa divulgação do processo eleitoral. ;Deveria ter tido uma preparação para que a gente se inteirasse da importância disso na nossa vida. Na escola, houve um debate, mas não vimos divulgação externa. A gente ficou sabendo do processo pela internet ou pela imprensa;, reclama.
No caso das 504 escolas com chapa única ; das 653 da rede ;, os candidatos devem alcançar 50% mais um de aprovação no plebiscito entre professores e auxiliares, e 10% mais um entre pais e alunos. Aquelas que não tiverem quórum e as 26 unidades que não mobilizaram concorrentes terão mais 180 dias para um novo processo eleitoral. A Secretaria de Educação pretende realizar outra eleição em novembro, respeitando todas as etapas e com nomeação até dezembro. Se, mesmo depois do prazo extra, as escolas não apresentarem diretores eleitos, o GDF fará a indicação. O Centro de Ensino Fundamental 15, de Taguatinga, integra o grupo de unidades com apenas uma chapa. O atual diretor foi indicado ao cargo quando o antecessor se aposentou. Agora, ele se candidatou para permanecer na administração.
Diálogo
A professora de matemática e coordenadora da escola, Rosely Moreira Leite, ressalta as dificuldades de gestão como um dos motivos que explicam o número de escolas com chapas únicas. ;A remuneração não condiz com a responsabilidade de comandar uma comunidade escolar. É preciso ter respostas para todos os tipos de questões e a valorização não é dada;, afirma. Na opinião dela, a falta de um grupo concorrente não diminui a democracia na escola. Rosely acredita que o fato de o candidato, mesmo que único, ter de passar por um teste e conseguir maioria faz com que pais e alunos participem e se sintam mais à vontade para dialogar com o diretor eleito.
Para saber mais
Vaivém da democracia
O DF teve quatro experiências de gestão democrática. A primeira vez em que houve eleição para diretores se deu no governo de José Aparecido, em 1985, com duas edições. Com Cristovam Buarque, de 1995 a 1998, a metodologia voltou a ser aplicada em outras duas ocasiões. No entanto, as gestões seguintes aboliram a escolha popular e decidiram manter a definição dos dirigentes pela indicação do chefe do Executivo local. No governo passado, foi aprovada a gestão compartilhada, com provas de título, exigência de, no mínimo, três chapas e eleição. Em dezembro de 2010, a Câmara Legislativa suspendeu a Lei n; 4.036/07, que regulamentava a questão a fim de atender a reivindicação do Sindicato dos Professores.
Calendário do processo eleitoral
Amanhã
Eleições diretas para os cargos de diretor, vice-diretor e representantes de conselhos escolares.
Quinta-feira
As comissões eleitorais locais deverão enviar para as coordenações regionais de ensino, até as 9h30, as cédulas e urnas eleitorais dos centros intersectares de línguas e escolas parque. Fim do prazo para as comissões eleitorais locais divulgarem o resultado da eleição para as comissões eleitorais regionais, que deverão informar a Comissão Eleitoral Central o conjunto dos resultados.
Para Sinpro, legislação local é avançada
A Lei da Gestão Democrática do Ensino Público prevê a criação de outras estruturas, além da instituição da eleição direta, como Conferência Distrital de Educação, Conselho de Educação do DF, Assembleia Geral Escolar e Conselho Escolar. O modelo implantado no DF pode servir de exemplo para os estados. ;Nós consideramos nossa legislação a mais avançada do país. Traz mudanças significativas na forma de participação;, afirmou o diretor de Políticas Educacionais do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro), Júlio Barros. No entanto, ele diz que falta empenho do governo para difundir os dispositivos da lei.
;É preciso fazer um grande marketing na imprensa e nas escolas, chamando a sociedade para estar presente. Mas nós acreditamos que a comunidade só vai aprender a participar participando. Assim, as pessoas vão se apropriar desse princípio da democracia;, avalia Barros. A preocupação do Sinpro é de que o processo se reduza às eleições e as escolas mantenham gestões conservadoras, sem a presença efetiva da democracia na tomada de decisões pedagógicas, administrativas e financeiras.
Acompanhamento
O documento da gestão democrática foi elaborado a partir da realização de diversos seminários e plenárias promovidos pela Secretaria de Educação do DF nas 14 coordenações regionais de ensino. Para o secretário de Educação, Denilson Bento da Costa, o DF é vanguardista nessa legislação. ;A eleição direta é apenas um item que amplia a participação de todos no sistema de ensino. Existem outras instâncias importantes, como um Fórum Estadual de Educação para decidir as políticas da área do Estado;, defende o secretário. Ele enfatiza ainda que os espaços determinados pela lei, como o Conselho de Educação, dão prerrogativas para o acompanhamento e a avaliação das políticas, o que também é novidade.
Na visão do secretário, as mudanças que começam neste ano são a mola propulsora para abrir debates que melhorem a qualidade da educação. ;Cada chapa tem que apresentar uma proposta de trabalho e esse projeto será cobrado pela comunidade escolar depois. A gente espera uma mudança substancial nas escolas da rede;, completa.