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Obra infantil de Monteiro Lobato causa polêmica por racismo


Conciliação A polêmica sobre o livro pode acabar em setembro, quando haverá uma reunião de conciliação, convocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) Vai acontecer no dia 11 de setembro de 2012, às 19h30, no STF uma audiência de conciliação ao mandado de segurança 30.952 que trata do suposto racismo no livro Caçadas de Pedrinho. Estarão presentes o Ministro de Estado da Educação, o Advogado-Geral da União, autoridades do Conselho Nacional de Educação, além de outros interessados no caso.

Antes da reunião, acontecerá uma série de palestras e fóruns para debater o caso com especialistas e com a população. O primeiro deles, já marcado, vai ser em 9 de agosto: uma palestra com Frei David, do Educafro (Educação para Afrodescendentes e carentes).

Especialistas

Há opiniões divergentes sobre o caso. Em Monteiro Lobato: livro a livro, Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini, fazem uma análise frase a frase de toda a bibliografia de Lobato. O livro traz também cartas de leitores, entrevistas e outros elementos para esclarecer a construção de textos pelo autor. O livro conclui que Monteiro Lobato não colocou teor racista na obra, mas sim fez reflexões sobre a realidade do Brasil, usando humor e ironia. ;A obra de Lobato não insufla racismo, tampouco reflete atitudes preconceituosas. Ao contrário, condena-as. Dona Benta repreende Emília quando falta ao respeito com Tia Nastácia;, exemplifica Marisa Lajolo, pós-doutora em literatura comparada e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade Federal de Campinas (Unicamp).

Para ela os negros são vistos com carinho na obra: ;Tia Nastácia e Tio Barnabé - negros que figuram como personagens e às vezes protagonistas da obra infantil lobatiana, são representados com respeito e afeto;.De acordo com Marisa, as críticas a obra de Monteiro Lobato ocorre porque ele questionou os valores de seu tempo: ; O extraordinário valor da obra lobatiana decorre de sua capacidade de retratar - de forma crítica, divertida e irreverente - o quadro de valores então vigente. Esta sua independência tem custado ao autor censura de diferentes segmentos sociais: da igreja católica ao estado novo, mas Lobato sobrevive!”

Já Regina Dalcastagn; especialista em narrativa brasileira contemporânea e professora do Departamento de Literatura da UnB considera Monteiro Lobato um ator racista: ;Monteiro Lobato é racista. Não é uma declaração aqui ou ali, está em toda a obra dele. Não há como discutir se ele é ou não racista pois é explícito em sua literatura;. Regina explica que a escritora Ana Maria Gonçalves fez uma análise profunda da vida do autor por meio das cartas que ele escrevia. Algumas dessas cartas eram direcionadas ao médico diretor da Sociedade Eugênica de São Paulo, instituição de 1913 que pregava a eliminação dos negros por meio do ;branqueamento; da população.

;Monteiro Lobato se expressava de modo eufórico a favor da eugenia (eliminação dos negros e branqueamento do povo). As pessoas não gostam de admitir que ele era preconceituoso porque construíram uma imagem fantasiosa desse autor na cabeça, por ser ele criador de obras clássicas infantis, como Sítio do Picapau Amarelo;, critica Regina. Ela considera que o Ministério da Educação deve investir dinheiro em outras obras: ;Esse é um livro ultrapassado e preconceituoso. Tem tanta obra mais moderna e interessante por aí precisando de apoio que seria muito melhor para as crianças;.