O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) bate à porta dos estudantes de todo o Brasil. Em 2019, são 5,1 milhões de inscritos no exame, que comparecerão aos locais de prova em 3 e 10 de novembro. Como não poderia deixar de ser, o Correio traz ao leitor secundarista um novo especial sobre o exame, que estreia de olho nos números da prova de matemática e suas tecnologias.
Ana Júlia Lobato, 17 anos, não esconde o medo por tantos números numa só prova. ;Está meio desesperador, pois é pouco tempo para fazer tudo. Como não estava praticando nem estudando especificamente para o Enem, tem conteúdo que eu não tinha visto ainda.; Resolução de exerícios tem ajudado a jovem. ;Agora, estou pegando o jeito. É pegar velocidade no treinamento.;
Matemática básica
Não é tarde nem é conteúdo demais para quem domina os princípios básicos, garante Rafael Eberhardt, professor de matemática do canal Aulalivre.net. Ele se refere à destreza e à agilidade na manipulação dos números em trabalhos como fração, equação, regra de três e porcentagem. ;Temos a impressão de que é muito conteúdo, mas o pensamento que se desenvolve na matemática básica é algo que conseguimos usar em todos os pormenores da prova. A partir da base, o raciocínio é comum a várias questões e os conteúdos estão ligados;, garante o professor.
;Dominando as bases, é possível interpretar as questões e relacionar os conteúdos;, acrescenta a professora Angela Pereira, do canal Vivendo a Matemática. ;É neles que o candidato vai sempre ;engasgar; e perder um tempo precioso. Ele deve absorver temas como funções e semelhança de triângulos. Vejo muita dificuldade em tabuada também;, avalia Walkyria Vidal de Almeida, que leciona no Colégio Militar de Brasília (CMB).
Gabriel Rizzo, 17, entendeu a lógica da disciplina e perdeu os receios antigos. ;Sempre tive muita dificuldade, mas, hoje, tenho clareza de que matemática é simplesmente relacionar dados;, afirma o estudante do Centro Educacional Sigma. ;É pegar o que conhece e usar para solucionar os problemas. Não tenho mais medo, é só a noção de que preciso me esforçar mais.;
Conteúdos do dia a dia
Professor da disciplina no canal Ferretto Matemática, Daniel Ferretto enxerga coerência no que vem sendo cobrado em matemática e suas tecnologias ao longo dos anos. ;Desde 2009, quando foi mudado o estilo de prova, houve continuidade;, avalia. ;Não vejo motivo para maiores alardes nem mudança de foco nos estudos. É fundamental, ao contrário, que o candidato siga o que foi cobrado anteriormente.;
Os temas mais recorrentes, acredita ele, passam por razão e proporção, porcentagem, estatística, geometria plana e espacial, funções de primeiro e segundo grau, análise combinatória e probabilidade. ;Mais de 50% da prova está aí, sem dúvida;, define.
Nada que fuja ao que Vitor Veras, 18, vem estudando. ;Questões de estatística, se você sabe o conceito, já pega de uma vez. Em geometria, é preciso traçar uma reta que não está desenhada, descobrir um ângulo de um teorema que você viu uma vez e não lembra;, exemplifica.
Diego Viug, professor de matemática no ProEnem, prevê temas semelhantes. ;Pelo menos cinco ou seis questões podem ser respondidas apenas com regra de três. Em geometria espacial, o trabalho com volumes, muito comum no nosso cotidiano, também é provável. Em estatística, o foco está nas medidas de tendência central (média, moda e mediana);, enumera.
;A minha maior preocupação, talvez, seja geometria espacial;, diz Ana Júlia Lobato. ;Tenho muita dificuldade de visualizar as coisas.
Conteudista: sim ou não?
Nas últimas edições do exame, cresceu entre professores e alunos a sensação de que a prova teria ganho aspectos mais conteudistas. Nesse formato, perderiam protagonismo os temas em que basta ao candidato leitura e alguma noção aritmética. Abordagens mais pragmáticas estariam em alta.
Walkyria Vidal defende essa tese. ;Antes, você conseguia resolver questões apenas com interpretação de texto. Hoje, tem mais fórmula e cálculo. Função trigonométrica não costumava aparecer e surgiu no ano passado, com alguma dificuldade;, exemplifica.
Rafael Eberhardt relativiza as mudanças. ;As provas do exame são muito parecidas, na verdade. Enem seria conteudista se pedisse, por exemplo, a razão entre dois números complexos. Em vestibulares tradicionais, cai esse tipo de conteúdo, mais fixos na matemática pura;, opina.
;Preciso ler bem os enunciados, porque as questões são sempre contextualizadas; então tem que prestar muita atenção aos contextos cobrados. Mas quanto mais você pratica, melhor você fica;, diz Gabriela Branquinho, 17.
O contexto do dia a dia é, segundo Diego Viug , a a maior característica do exame. ;Tudo o que se aproxima do cotidiano é relevante para o Enem. Tem muita diversidade de texto e leitura de imagem. Houve, em 2018, questões de estatística que trazem muita leitura de gráficos, como vemos na vida.;
Rotina na reta final
Gabriel Dourado, 17, fez o Enem em 2018, quando ainda estava no 2; ano. ;Faltava muito conteúdo do 3; ano, mas ainda consegui me sair relativamente bem na prova;, relembra. Para a reta final, a rotina é de exercícios e revisão. ;Meu foco é refazer provas passadas. Estou testando questões e contando o tempo, porque é muito importante na hora de fazer o exame. Tive dificuldade com tempo no ano passado.;
Rafael Eberhardt aprova o método. ;A gente precisa, além de conhecimento, de paciência para ficar horas nisso. Nesse ponto, é muito importante que o aluno comece a simular esse tempo gasto. O aluno pode pegar o fim de semana e ;fingir; que está fazendo alguma prova anterior e ficar cinco horas resolvendo;, diz Rafael.
;É interessante fazer edições antigas, sempre com acesso ao método de resolução. Hoje em dia, há muito conteúdo em vídeo e texto na internet;, diz Daniel Ferretto.
E, claro, nada de calculadora na hora dos estudos. Afinal, o uso do dispositivo é vetado no dia de prova. ;Evite! O aluno acha que a calculadora vai raciocinar por ele, o que não é verdade;, alerta Walkyria Vidal.
* Estagiária sob supervisão de Ana Sá