Fora um boato que circulou de que a prova teria sido adiada (o que era uma notícia falsa), o primeiro domingo de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2018 parece ter corrido bastante livre de problemas nos mais de 10 mil locais de aplicação. Até mesmo o clássico show dos atrasados não contou com muitos ;artistas; após às 13h este ano. Apesar de o horário de verão ter começado exatamente no dia da prova, o que foi grande motivo de preocupação por parte do Ministério da Educação (MEC), a redação do Eu, Estudante flagrou menos casos de atrasos nesta edição. Afinal, a tradição de estudantes darem de cara com o portão fechado ano após ano deve ter ajudado os alunos a se conscientizarem da importância de sair de casa com antecedência, até para não virarem memes.
Por falar em internet, o Enem não bombou muito por lá desta vez. Com menos atrasados e, consequentemente, menos atrasados, postagens sobre o exame não tiveram tanta graça nem viralizaram tanto. Apesar de, durante as cinco horas e 30 minutos de prova, os candidatos não poderem acessar dispositivos tecnológicos, isso não quer dizer que ficarão livres dos impactos da vida tecnológica: o tema da redação foi "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet". O assunto também permeou algumas questões, abre espaço para discussão de fake news e foi elogiado pelo presidente da República, Michel Temer; e pelo ministro da Educação, Rossieli Soares.
Eles e o ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, analisaram a segurança das provas e comemoraram os resultados. Michel Temer classificou os procedimentos do exame como de ;harmonia absoluta; entre os setores envolvidos, que envolveu mão de obra de mais de 600 mil pessoas, 31 mil na segurança. Com relação às fake news sobre o Enem, Jungmann garantiu que os culpados serão responsabilizados. ;Não há impunidade nem anonimato. Não cometam irresponsabilidades em redes sociais. Se for um crime, encontraremos quem o cometeu;, afirmou Raul Jungmann. Denúncias podem ser feitas no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
As provas
Os 5,5 milhões de candidatos tiveram de responder também a itens sobre direitos humanos, homofobia, feminicídio e violência contra a mulher. A informação vem de candidatos que saíram dos locais de prova antes do horário mínimo levar o caderno de provas para casa, ou seja, 18h30.
Alunos de vários perfis
Colegas de classe, Estevão Nascimento, 18, e Ana Lúcia Tavares, 17, fizeram a prova do Enem no mesmo local. Os dois consideraram a prova fácil, mas o tema da redação surpreendeu. Estevão, que quer usar a nota para passar para o curso de odontologia, esperava outra coisa. ;Achei que seria sobre preconceito linguístico ou violência infantil. O próprio Inep vinha colocando muita coisa relacionada no site;, comentou.
Ana Lúcia ainda não sabe que curso quer fazer, mas também espera que o Enem ajude no ingresso. Os dois já tinham alguma experiência com a prova porque foram treineiros no ano passado. Eles saíram com o caderno em mãos e querem fazer as correções de gabaritos assim que forem lançados.
A estudante do 3; ano do Setor Leste Ana Luisa dos Santos, 17, achou a prova cansativa, porém afirma que as questões estavam mais fáceis do que as do Programa de Avaliação Seriada da Universidade de Brasília (PAS/UnB). Sem muita certeza de boa nota, a jovem faz uma crítica à redação. "Fiquei chocada com o tema. Jamais achei que fosse cair isso. Achei que seria abordado assuntos de preconceito linguístico ou abuso infantil."
Grávida de sete meses, Érica Pinto, de 37 anos, sentiu muito desconforto em fazer a prova grávida. Ela já realizou o Enem em outras quatro oportunidades, mas, desta vez, a barriga atrapalhou um pouco. ;É ruim ficar sentada esse tempo todo com o bebê. Em compensação, foi uma prova mais tranquila do que as outras, com textos menores e menos densos", disse.
Marcos Antônio de Souza, 41 anos, é servidor público do Ministério do Meio Ambiente. Ele é formado em biblioteconomia pela UnB, mas conta que ainda não se sente satisfeito. "Dependendo da nota que eu tirar, quero cursar engenharia de redes", afirma. Essa é a primeira vez que ele faz o Enem, que considerou complexo. "A prova inteira era de interpretação de texto. Estava bem harmoniosa nesse sentido." Na parte de redação, ele diz que se garante. "Como tenho muita proximidade com informática no meu trabalho, consegui argumentar bem", destaca. A preparação foi por meio de videoaulas do próprio site do Inep, às quais se dedicava aos sábados e aos domingos.