É chegada a reta final para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre nos próximos dois domingos, 4 e 11 de novembro. Os 5,5 milhões de inscritos têm pela frente uma maratona de provas objetivas de 45 questões cada, além de redação. Pensando nisso, o Correio, em parceria com a Universidade Católica de Brasília (UCB), promoveram o Dia da Descompressão, um aulão gratuito com dicas para a realização da prova, ministrado pelo professor de física Diego Nolasco em uma sala de cinema do Cinemark do Taguatinga Shopping. O ambiente escolhido não foi por acaso. Aliando aprendizado e diversão, ali mesmo eles assistiram, em seguida, a um filme em cartaz, Fúria em Alto Mar.
Diego Nolasco utilizou vídeos e questões de provas antigas para demonstrar maneiras mais simples de resolver os desafios propostos, analisando apenas o que é dito nos enunciados. ;A jogada, hoje, não era dar uma aula de conteúdo, mas construir um ambiente no qual os alunos pudessem perceber que o Enem não é algo que existe para acabar com a sua carreira. Ao contrário, está aí ao seu lado. E tudo que você precisa fazer é estar do lado dele também, saber como usar as informações que ele proporciona através da prova;, explica o professor.
Alta performance
O primeiro passo é controlar o lado emocional. O ideal é que o estudante não esteja nem muito ansioso e nem muito relaxado. Isso porque, de acordo com o professor, pequenas doses de estresse mantêm o cérebro em estado de alerta e a memória ativa, voltada para a solução de problemas. Permite, assim, que o conhecimento seja melhor aproveitado.
No entanto, em níveis muito elevados, o estado de alerta se torna um sabotador, inutilizando as informações adquiridas e aumentando a falta de atenção aos detalhes. ;Um cara nervoso vai ler os enunciados e querer partir para fazer contas, derivar equações, e isso é uma perda de tempo. É preciso estar em um estado emocional que eu chamo de alta performance, que te permita entender que o enunciado está ali para te ajudar;, explica Nolasco. ;O examinador não está preocupado em exigir conteúdo o tempo todo, ninguém precisa ser doutor em física para ir bem nessa prova. Tem que ser um bom estudante, um bom leitor, com boa interpretação de texto.;
E a dica para garantir esse estado de concentração é preparar-se de maneira antecipada, simulando situações de prova que trabalhem os aspectos emocionais. ;Um grande segredo para a excelência é repetir, repetir e repetir;, declara o palestrante.
A estudante Maria Paula Lino, 17 anos, está em busca de uma vaga no curso de direito e acredita que ter participado dessa aula vai ajudar muito no seu desempenho. ;Muitas vezes, esquecemos que o enunciado tem todas as informações que a gente precisa e nós realmente começamos a divagar muito na prova, buscar conhecimentos mais distantes para tentar resolver algo que na realidade é muito mais direto;, conta. ;Ajudou muito quem costuma ficar desesperado com a matéria e acha que precisa sair decorando tudo. Na verdade, basta interpretar o que está escrito.;
Interpretação de texto
No aulão, o professor apresentou quatro questões do caderno de exatas da última prova e demonstrou que é possível retirar fórmulas inteiras de dentro do enunciado. Para isso, porém, é preciso anotar os dados mais relavantes contidos no texto e fazer um breve resumo. ;O Enem é uma prova de interpretação de texto e nada mais. Antes de fazer qualquer conta, tente pescar a resposta na própria prova. Você precisa, sim, de algum conhecimento prévio, mas isso não é o mais
exigido;, afirma Diego.
Também deve-se prestar atenção nas imagens que acompanham o texto, observa ele, pois muitas vezes a resposta está ali. O professor convidado, Luís Cícero, doutor em química pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), resolveu uma questão sobre catalisadores, na qual a resposta correta estava demonstrada na gravura que acompanhava o texto introdutório. ;Não precisa se desesperar, está tudo na sua frente. Alguém que não se preparou de maneira adequada vai tentar replicar o mecanismo e fazer a questão de maneira bem aprofundada, quando, na maioria das vezes, isso não é necessário;, garante Luís.
Na busca dos fatos
Outra dica é buscar sempre por fatos durante a leitura, e não se deixar levar pelas opiniões apresentadas. ;Toda vez que você ler algo do tipo ;segundo fulano;, não leve em consideração. O Enem aborda questões polêmicas, como o aquecimento global, que gera diferentes opiniões e muitas controvérsias, mas o que é cobrado são os fatos;, exemplifica o professor de física. ;Vai com calma, respira. Muita gente lê os itens e pensa que tem três respostas possíveis, mas só há uma que responde exatamente o enunciado;, acrescenta Luís Cícero.
Luana Carvalho, 25, conta que, agora, sente-se mais preparada para realizar o exame. ;A ideia geral que os professores passaram sobre os conteúdos das questões também foi bem diferente, eu não tinha uma ideia tão clara e tão ampla sobre essas matérias;, revela. ;Estou 90% preparada, 100% é difícil, mas estamos no ;corre;, vamos conquistar nossas vagas;, declara. A abordagem prática da prova, a partir da maneira correta de se pensar os problemas, também foi um diferencial. ;Foi muito bacana o formato da aula, é um incentivo para a gente cuidar mais da nossa inteligência emocional. A gente passa o ano todo se preparando para saber todos os conteúdos, usar as fórmulas e decorar os nomes. E aí, na hora, a gente acaba fazendo errado porque ficou nervoso;, descreve a estudante Kézia Kosta, 21.
;O momento é de assertividade e lucidez, não é hora para pensar que deveria ter estudado mais;, sintetiza o professor Diego. Ainda assim, é necessário compreender o momento como parte de um processo que não é definitivo e que, se o resultado não agradar, está tudo bem. É possível tentar de novo, quantas vezes for preciso. ;Vocês são jovens, com um futuro gigante pela frente, não deixem seus insucessos lhes definirem, usem eles como uma forma de melhorar, abracem seus sonhos e façam deles um degrau;, incentiva. ;Nós vemos muitas pessoas frustradas por aí, porque desistiram dos sonhos e foram fazer ;o que dava;. Eu sei que as condições das nossas escolas públicas não são as mais ideais, mas nós somos brasileiros, não desistimos. Eu espero que vocês tomem decisões que os façam ter orgulho das suas próprias trajetórias;, conclui.