Chegou a hora. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) bate à porta: em 4 e 11 de novembro, milhões de estudantes em milhares de municípios espalhados pelo país comparecerão aos locais de prova. Para ser mais preciso, são 5.513.662 estudantes inscritos e confirmados em 1.725 municípios. Não é pouco, definitivamente. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela realização do exame, cerca de 600 mil pessoas trabalham para a maior prova do Brasil tomar forma e ser posta em prática.
[SAIBAMAIS]A partir de sua elaboração, a prova passa por quase uma dezena de passos até chegar às mãos dos candidatos. Ainda em maio, as provas foram enviadas pela Polícia Federal, de avião, a uma gráfica de alta segurança, cuja localização não é revelada pelo Inep. ;Ali, ela recebe a diagramação final e toda a impressão das provas é feita, caderno por caderno, prova por prova;, explica Maria Inês Fini, presidente do instituto (confira entrevista). Uma vez definida em termos gráficos, a prova começa a ser impressa, passando pela personalização, envelopagem e posterior armazenamento sob responsabilidade do Exército Brasileiro. Em setembro, elas seguiram para a interiorização, que consiste na expedição delas para todas as capitais brasileiras. As milhões de páginas, já com o nome de cada estudante, seguem para os locais de prova somente às vésperas ou no dia do exame.
Ansiedade
Em termos de preparação, os candidatos não largam atrás. Do contrário, não seria possível encarar as 180 questões objetivas do exame, envolvendo quatro áreas de conhecimento, além da escrita de uma redação. Muitos depositam nessa maratona as principais chances de ingresso no ensino superior. É o caso de Flávia Nunes, 24 anos, há seis em busca da aprovação em um curso de medicina. Ciente do que precisa melhorar, ela foca nos exercícios de disciplinas nas quais sente maior dificuldade. ;Tive todo tipo de estratégia, mas não deu certo. Vou focar em física, matemática e biologia, que são matérias em que preciso progredir mais;, conta.
Flávia Nunes preocupa-se mesmo é com a agilidade na resolução das questões. ;Temos pouco tempo e a prova é exaustiva;, salienta. Em 2018, os candidatos dispõem de 5h30 para fazer linguagens, humanas e redação no primeiro dia, e 5h no segundo dia (30 minutos a mais do que em 2017), quando será a vez das provas de matemática e ciências da natureza.
Para conter a ansiedade, ela resolveu apostar em um curso pré-vestibular que a ajudasse a trabalhar não apenas o conteúdo, mas os ânimos. ;O foco deles não é só estudar, mas proporcionar uma boa saúde mental e, além disso, focar nos conteúdos básicos;, diz. A estudante fez outros vestibulares e considera o Enem muito extenso. ;Ela tem muito texto e é muito cansativa. No Enem há pouco tempo e o texto é importante para resolver a questão;, compara. Yasmim Lima, 17, preocupa-se com o cansaço ao longo do exame. ;São textos enormes em quase todas as 90 questões por dia, além da redação;, ressalta. Helena Sayuri, 17, é outra que tem como grande desafio na prova vencer a ansiedade. ;Quando eu ia checar os resultados da prova ficava muito nervosa, dava um pouco de pânico. Aprendi a lidar. Faço terapia há um ano e isso me ajuda bastante.;
Daniel Saud, 15, está na outra ponta dessa história. Ainda no primeiro ano do ensino médio no Sigma, ele fará o Enem pela primeira vez, buscando adquirir experiência para quando for para valer. ;Por enquanto, vou focar no PAS. Por isso, estou estudando as obras e revendo o conteúdo;, explica. ;No colégio, temos simulado modelo PAS e Enem. Mas ambas, se comparadas às do Sigma, são relativamente mais fáceis;, brinca. O estudante não se acha ansioso, embora confesse já ter passado pelo famoso ;branco; em avaliações da escola. ;Nunca entrei em pânico, foi tranquilo;, afirma. Gabriel Fiuza, 17, também não dá muita bola para a ansiedade, mas está receoso com matemática e ciências da natureza, que se apresentaram mais exigentes em 2017, tendência que deve se manter neste ano. ;As exatas estão bem mais puxadas. Acho que até por isso aumentaram o tempo de prova. Dá para esperar uma prova mais exigente;, aposta.
Mulheres e jovens
O perfil dos participantes de 2018 é predominantemente de mulheres, jovens e que já concluíram o ensino médio. São 59,1% do sexo feminino e 40,9% do masculino. Candidatos entre 21 e 30 anos representam 33,8% do total. Mais de 3,5 milhões, cerca de 63,8% dos inscritos, foram beneficiados com a isenção da taxa de inscrição. No Distrito Federal, foram 106 mil inscritos, 62.611 mulheres. Os inscritos com 18 anos somam 16.500 e aqueles com idade entre 31 e 59 anos, 15.973. A região Sudeste tem o maior número de inscritos (37%), seguida pelo Nordeste (33%).
A maioria dos participantes brasilienses, 66.526, concluiu o ensino médio. Em termos nacionais, 58% dos inscritos já concluíram, 29,7% são concluintes neste ano e 10,6% concluirão no ano que vem. Diego Alves, 27, encaixa-se no primeiro grupo. Ele terminou o ensino médio há 10 anos e, hoje, prepara-se para conseguir uma vaga em ciências contábeis. ;Vejo os pontos que errei por falta de atenção e assisto a vídeos no YouTube de professores refazendo a prova. Além disso, faço alguns exercícios de apostilas do ensino médio, focando em coisas mais simples.;
Não vá se perder
O Inep disponibilizou, na última segunda-feira (21), o Cartão de Confirmação, acessível pela Página do Participante (www.enem.inep.gov.br) ou aplicativo disponível. Pelo documento, é possível acessar número de inscrição, data, opção de língua estrangeira, atendimentos específicos e/ou especializado e o local de prova.
Para a entrada, é obrigatória a apresentação de documento oficial de identidade original com foto, bem como a marcação do cartão de respostas exclusivamente com caneta esferográfica preta, de corpo transparente. O Inep recomenda levar o Cartão de Confirmação impresso, ainda que não seja obrigatório.
Mais do que o conteúdo em si, Diego Alves se preocupa com o local e a estrutura para fazer o exame. ;Ano passado, caí em uma escola de primeira à quarta série. Então, as cadeiras disponíveis eram bem baixas e saí prejudicado. O tempo é curto, você sente pressão e o espaço não ajuda;, critica. O estudante diz que o problema com as cadeiras se somou à ansiedade e o resultado foi um desempenho bem aquém do que esperava. ;Achei que ia me dar ;super bem;, mas vi que a maior parte do que errei eram questões fáceis;, lamenta.
Quatro fusos horários
Também pelo Cartão de Confirmação, o inscrito pode confirmar seu horário de prova, informação fundamental. Não é para menos: com o horário de verão entrando em vigor justamente no primeiro dia de exame, o país passa a ter quatro fuso horários. Os portões se fecham, pontualmente, às 13h (do horário de Brasília). Sendo assim, no Distrito Federal, bem como nos estados do Espírito Santo, de Goiás, de Minas Gerais, do Paraná, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e de São Paulo, os portões serão abertos às 12h e fechados às 13h.
Nos estados de Alagoas, do Amapá, da Bahia, do Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, do Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins, os portões abrem às 11h e fecham às 12h. No Amazonas, em Rondônia e em Roraima, a abertura dos portões nos locais de aplicação do Enem será realizada às 10h e o fechamento às 11h, seguindo o horário local. No Acre, único estado brasileiro cujo fuso horário tem três horas a menos em relação ao horário de Brasília, os portões serão abertos às 9h e fechados às 10h, também pelo horário local.
A maior preocupação de Gabriela Furlan, 17, reside nessa confusão de horários. ;Acho muito difícil me atrasar, porque devo fazer a prova perto de casa, mas muita gente não consegue ter essa facilidade;, afirma.
*Estagiário sob supervisão de Ana Sá