O auditório do Correio foi palco, na manhã desta quinta-feira (25), da terceira e última oficina de Squarisi visando o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Após a atividade da semana passada, inteiramente dedicada à interpretação de texto e gramática, a professora e editora de Opinião retornou ao tema de redação. Ao longo de três horas, o auditório lotado de estudantes receberam o passo a passo para a melhor escrita, em diversos exercícios práticos, com direito a sessões de respiração e relaxamento e prêmios para os participantes.
Dad Squarisi partiu novamente do conceito de círculo do Zorro para explicar as etapas de aprendizado da escrita. O personagem, ansioso e sem foco, não conseguia combater como pretendia. O mestre que o adotou, então, o orientou a ;começar pelo começo;, por assim dizer. Passo a passo, círculo a círculo. ;Passado um tempo, ele foi ampliando o círculo. Aprendeu a ter técnica e, com a técnica, aprendeu a vencer os inimigos. Aqui, nós iremos fazer como fez o Zorro.;
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Em 2017, apenas 53 estudantes tiraram nota 1.000, de um total de mais de 4,7 milhões de provas corrigidas. Ao contrário do que pode-se supor a partir disso, não há segredos, garante ela. ;Se olharmos algumas redações que alcançaram a nota máxima, disponibilizadas pelo Inep, não são nada excepcionais. Não são geniais, mas estão estruturadas em parágrafos, têm começo, meio e fim, com argumentos simples, porém concatenados.;
Na outra ponta dessa história, 309 mil tiraram nota zero. A maior parte dessas notas são fruto de fuga do tema, segundo a professora. Um erro que pode ser evitado. ;Falta atenção ao tema proposto. Não abordam o aspecto que está sendo pedido, dando a impressão, ao examinador, de que a pessoa decorou um tema.;
Marina Carvalho Silva, 29 anos, conta que está fazendo o Enem pela segunda vez. Na primeira, confessa, não estava muito preparada. ;Através da leitura, tendemos a ter uma facilidade para a escrita. Então, esse é um dos motivos da importância dessa oficina para mim", comenta Marina. Iniciativas como essa ajudam os alunos a aprimorarem sua preparação, garante a estudante. "Somos orientados desde as salas de aula a lermos muitas revistas, jornais e livros. Somos pessoas que lidam com escrita diariamente. Além de aprendermos a aplicar os padrões da norma culta, que é bastante cobrado na prova do Enem, principalmente na redação", explica Marina.
Conhecer as regras do jogo
Fundamental, o primeiro círculo posto por Dad Squarisi falava das regras para a dissertação do Enem. ;O Enem é um jogo e ele tem critérios. É preciso conhecer as regras para vencê-lo. O primeiro critério é o domínio da língua culta. Respeitar concordância, regência, flexão, colocando vírgulas no lugar correto, começar uma frase com letra maiúscula e terminar com ponto final. Não significa escrever de modo complicado, usando palavras difíceis. Basta usar a língua que aprendemos na escola.;
A compreensão do tema, segundo critério, vem da delimitação proposta pelo exame. ;Se a proposta de redação for sobre o voto nulo, não basta falar da história do voto, mesmo que de maneira brilhante, e não falar especificamente sobre a anulação do voto;, exemplifica Dad.
Para a seleção e organização dos argumentos, quarto critério, a professora trabalhou planos concisos de escrita. ;Já o quarto item, a coesão, fala da concatenação de ideias. Vou preencher as informações, dizer coisas com coisas, que modo que as ideias não ;saltem; de uma a outra, sem lógica.;
A proposta de intervenção, particularidade do Enem, faz uma indagação ao autor da dissertação: quem, e de que modo, pode-se resolver um problema? ;Intervenção é entender o que pode ser feito a respeito do tema. Saio de mim e apelo para as instituições, digo o que deve ser feito e nomeio os atores sociais.;
Exercícios práticos
Para exercitar a capacidade de argumentação e construção de textos, Dad Squarisi trabalhou o conceito e aplicação de parágrafos junto aos alunos. Um dos exercícios apresentava uma pequena história de um jovem que vive sozinho e triste, atracado pela sociedade. A partir disso, a professora pediu aos alunos que o fim da narrativa, triste e repentino, fosse contado de outro modo. Ou melhor: que os oficineiros apresentassem, como no Enem, uma proposta de intervenção. ;Para outros concursos, não é preciso, mas, para o Enem, é fundamental entender esse critério;, afirmou Dad.
Traçar limites e objetivos também é fundamental, garante Dad. ;Delimitar é estabelecer o limite, escolhendo um aspecto sobre o que falar. Se o tema da proposta é violência trânsito, falo apenas sobre ele. Deixo para lá todos os outros aspectos;, exemplifica. ;A partir daí, penso o que quero apontar. Aonde eu quero chegar? Posso argumentar sobre as causas da violência e sugerir medidas que resolvam a violência;, explica.
Público diverso
;Nunca parei de estudar, sou um aluno constante;, orgulha-se Edilson Morais, 62 anos. Ele é um exemplo do público diverso que comparece às oficinas do Correio. São muitos os perfis de pessoas que fazem o Enem e comparecem às atividades presenciais gratuitas. Mais do que isso, há aqueles que, como Edilson, vêm às atividades de Dad em busca de conhecimento puro e simples. Essa foi a segunda oficina na qual o aposentado compareceu. ;Acho que a Dad tem uma maneira distinta de ensinar. É diferente de estudar apenas pelos manuais de redação. Eu sabia que iriam me acrescentar conhecimento;, afirma.
Formado em pedagogia, contabilidade e, recentemente, em docência em matemática pela Universidade Cruzeiro do Sul, Edilson Morais não pensa em parar. Apesar de não fazer o Enem, se prepara para outros processos seletivos. ;Nessa idade ainda faço concurso. Fiz alguns que não tinham redação, mas os próximos (Banco Central e Tribunal de Contas da União) vão ter;, afirma.
[SAIBAMAIS]
Hugo Camargo, 19, foi à oficina em busca de aprimorar a escrita. O estudante fez o Enem em 2017 e teve um bom desempenho na redação, mas neste ano quer alcançar a nota máxima. ;Tirei 890, uma nota razoável. Acredito que quem tira nota 1.000 chega a esse desempenho justamente porque buscou aperfeiçoamento, dando atenção aos detalhes;, diz. Candidato a uma vaga em medicina, ele se inscreveu de última hora na oficina e não se arrependeu. ;A oficina acrescentou muito, trouxe a estrutura e a possibilidade de interagir com a professora. Sinto que vai pesar na minha nota;, acrescenta.
Aluno do terceiro ano no Centro Educacional Sigma, Bruno Couto, 17, está revisando pelas provas anteriores. Em busca da vaga em engenharia da computação, o jovem pretende fazer o Programa de Avaliação Seriada da Universidade de Brasília (PAS), o Enem e os vestibulares da Fuvest e Unicamp. ;Na oficina, consegui ver coisas diferentes. Achei interessante frisar alguns pontos, ver outras visões de escrita de uma mulher que entende bastante do assunto. Redação não é meu ponto forte, não é a matéria de que mais gosto, mas não apresento extrema dificuldade não;, pondera.
*Estagiários sob supervisão de Ana Sá