Jornal Correio Braziliense

Enem

Como sempre, reclamações

Estudantes que fizeram as provas criticaram, principalmente, distância entre a casa e o local dos testes. MEC garante que a escolha poderia ser feita antes, mas participantes dizem que estratégia não foi obedecida

Jéssica Daiane estava inconsolável: saiu de casa, em Ceilândia, às 10h, mas se atrasou por causa da falta de ônibus e de um engarrafamento


O fim de semana do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Distrito Federal rendeu inúmeras reclamações de quem se inscreveu para fazer as provas. A principal queixa dos candidatos foi a distância entre a residência e o local dos testes. Alguns também lamentaram a falta de familiaridade com o lugar onde testariam o conhecimento e, somado à falta de ônibus devido à greve, participantes do certame chegaram atrasados e perderam o horário. Depois das provas de ciências humanas e exatas, ontem os concorrentes resolveram questões de linguagens e códigos, matemática, além da redação.

No Plano Piloto, não faltou quem viesse de longe para fazer o Enem. Os estudantes André Luiz Coelho, Avany Pereira e Alexandre Teodoro, ambos de 18 anos, além de enfrentar a dificuldade da prova, se depararam com a distância. Os três moram em Ceilândia, mas foram fazer o exame em uma faculdade da Asa Norte. ;É muito longe de casa, saímos de lá às 11h30 para dar tempo de chegar e não pegar engarrafamento;, contou André Luiz. Os jovens chegaram ao local por volta de 12h10 para garantir que não haveria nenhum problema. Compraram água e alguns chocolates para enfrentar as cinco horas e meia dentro da sala de aula.

A estudante Abinoam Santos da Silva, 18 anos, moradora do Paranoá, também fez a prova na Asa Norte. Ela chegou por volta de 12h30 no local. ;Essa é a segunda vez que faço o Enem. No outro, eu consegui fazer a prova perto de casa;, disse. A jovem reclamou da dificuldade de algumas questões do teste de sábado, principalmente as que tinham conteúdo de filosofia, mas afirmou estar confiante para resolver as questões de matemática e português de ontem. ;Me preparei bastante, quero cursar enfermagem;, completou.

Jéssica Daiane, 20, foi mais uma das alunas que ficaram de fora da prova pela falta de ônibus. Moradora de Ceilândia, a estudante tentava se acalmar do lado de fora de uma faculdade da Asa Sul. ;Eu saí de casa às 10h, fiquei horas esperando ônibus, depois mais tempo no engarrafamento. Não entendo por que não podiam me colocar para fazer perto da minha casa;, reclamou. Ela afirmou que o irmão foi andando para o local de prova, a 10 minutos da casa da família. ;Nós passamos um ano inteiro estudando e nos preparando, ou seja, eles também tiveram um ano para se organizar e fazem essa bagunça, colocando gente de Ceilândia para fazer a prova no Plano Piloto;, completou.

Jéssica Gomes, 21 anos, moradora do Paranoá, fez as provas do lado de casa, mas reclamou de não ter um pedido atendido. ;Sou deficiente visual, tenho catarata e pedi para a fonte da prova ser maior do que o tamanho normal, além de ter alguma pessoa para ler as questões para mim, mas não tinha ninguém;, queixou-se. Segundo Jéssica, a fiscal de prova teve que ficar ao seu lado para ler o exame, mas ela perdeu 15 minutos no início até resolver o problema. ;A fiscal achou ruim porque não estava lá para isso. Fui ficando agoniada, queria começar logo. É revoltante porque a gente já tem dificuldade e ainda tem que passar por isso;, lamentou.

Análise
Procurada, a Assessoria de Imprensa do Ministério da Educação (MEC) informou que todas as ocorrências dentro do local de prova são registradas em ata e analisadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Quanto às reclamações sobre o local da prova, o órgão informou que o aluno, no momento da inscrição, pode optar entre uma lista de 17, em qual cidade faria o exame. ;Temos que verificar caso a caso e ver como cada estudante fez sua inscrição;, informou Henrique Paim, ministro da Educação.

Outra queixa dos candidatos foi o endereço do local de prova. Uma faculdade na Asa Sul tinha dois endereços, na 704/904 e na 903, o que confundiu os inscritos. Alguns foram até a 704 procurar a sala em que fariam os testes, mas não localizaram e, só depois de os portões terem sido fechados, eles descobriram que o prédio era o outro. Revoltados, alguns ficaram em frente ao local no último sábado e a Polícia Militar foi chamada para pedir que eles se retirassem de lá.
Dois presos por cola no Ceará


Em Juazeiro do Norte, interior do Ceará, dois candidatos foram detidos pela Polícia Federal por uso de celular dentro de um local de prova do Enem. Eles estariam recebendo os gabaritos pelo telefone e acabaram presos por fraude em concurso de interesse público. Os dois, maiores de idade, estavam inscritos como sabatistas ; estudantes que fazem os testes em horários diferenciados por razões religiosas ou de saúde.

Segundo a delegada da Polícia Federal Andréia Assunção, responsável pela segurança do Enem no Ceará, a dupla foi detida no sábado com os gabaritos nos celulares. ;Ainda não podemos saber como eles tiveram acesso (às respostas), pois estamos no começo da investigação;, argumentou a policial.

Eles entraram na sala às 13h e esperaram até as 18h para começar a responder o exame. Provavelmente, segundo informações da polícia, foi nesse período que tiveram contato com as respostas ; por isso, há desconfiança de que mais pessoas participaram do esquema.

Outro problema ocorreu na Escola das Dunas, distrito de Pitangui, na cidade de Extremoz, na região metropolitana de Natal. Lá, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) cancelou a aplicação das provas do segundo dia do Enem por causa de uma queda de energia e do não cumprimento das regras de segurança. A energia foi interrompida ainda na madrugada, depois de um acidente no qual um carro teria batido em um poste da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosen). Haverá uma reaplicação para os alunos que estiveram presentes neste segundo dia de exame. A nova data ainda não foi divulgada.
POVO FALA


O que você achou das
provas deste domingo?


Roger de Araújo Carvalho,
21 anos, estudante

;Achei a prova difícil, mas, mesmo assim, foi mais fácil que a de sábado. Na hora que vi o tema da redação, achei complicado, fiquei com receio, mas assim que comecei a escrever consegui desenvolver o tema e acho que fiz uma boa prova;

Patrícia Kely Gama, 40 anos, técnica
em enfermagem

;A prova foi tranquila, pensei que seria mais difícil. O que estava complicado era o tema da redação, foi chatinho para desenvolver o assunto, até porque eu não conhecia muito. Sábado, sem sombra de dúvida, foi muito mais fácil;

Pablo Ricardo Silva Sobrinho,
30 anos, carteiro

;Estava fácil, principalmente o tema da redação sobre publicidade infantil. Foi bem fácil discorrer sobre o assunto. Geralmente, são temas da atualidade e eu achei interessante eles abordarem esse assunto;


Paloma Evelyn Vieira de Melo,
19 anos, estudante

;Estava mais fácil que a de sábado. O tema da redação eu também achei bem legal. Um assunto tranquilo e não achei difícil de escrever. O linguajar de hoje (ontem) também estava mais fácil, deu para entender melhor;


Paola Abatha,
22 anos, estudante

;Estudei bastante e achei a prova tranquila. Matemática estava bastante puxada e o tema da redação foi totalmente diferente do que todo mundo esperava. A gente achava que ia ser sobre o golpe de 1964 ou sobre a escassez da água em São Paulo. Foi cansativo, mas foi tranquilo;

Neulyane Martins,
19 anos, estudante

;Hoje (ontem), estava mais difícil do que sábado porque tinha a redação e matemática, bem mais complicado. Achei o tema interessante, pensei que seria sobre a seca de São Paulo, mas gostei;


Matheus Ferreira,
18 anos, estudante

;Foi tranquila. O mais difícil foi a parte de exatas, alguns cálculos mais complexos. A redação estava tranquila, mas foi uma coisa completamente diferente do que todos esperavam. Eu achei a prova de ontem mais fácil;