Um grupo de jovens caminhava pela praia quando viu um pescador matar uma fêmea de tartaruga e roubar seus ovos para vender. Isso aconteceu no final da década de 1970 e mudou de vez a percepção de natureza de um homem. Guy Marcovaldi é o nome de um dos que integrava o grupo de jovens que caminhava pela praia. Há 35 anos ele fundou o Projeto Tamar.
São anos de trabalho diário de conscientização e preservação das espécies de tartaruga marinha. Aliás, bem como destaca Marcovaldi, é em 2014 que o projeto comemora o nascimento da segunda geração de tartarugas que o projeto cuida. ;A gente está muito feliz porque as tartarugas que fizemos nascer 35 anos atrás começaram a dar filhotes agora.; Finalmente o clico se fechou. Mas como se pode perceber, não foi fácil chegar a conquistas como esta.
Desde o início o projeto se propôs a envolver a comunidade e, principalmente, os pescadores. São eles os maiores inimigos das tartarugas marinhas. ;Nos primeiros anos o que nós fizemos foi chegar nas vilas e oferecer um emprego com carteira assinada para aqueles pescadores. Eles se juntaram ao nosso projeto e passaram a ser colaboradores. Aos poucos mudamos a consciência deles e mostramos que nem as tartarugas, nem os ovos, deveriam ser comercializados;.
Atualmente, é possível conhecer algumas estações do projeto Tamar, como as de Fernando de Noronha, em Pernambuco, Praia do Forte, na Bahia e em Florianópolis, em Santa Catarina. É nesse contato com o público que o projeto foca no maior parceiro das causas focadas na proteção animal: as crianças. ;A gente deixa as crianças verem de perto peixes e tartarugas, ensinamos o que eles comem e mostramos a elas que é importante cuidar dos animais. Uma criança não vai deixar o pai matar uma tartaruga porque ela se sensibiliza mais do que o adulto, e isso é ótimo;.
Para entender melhor
Dependendo da espécie, uma tartaruga marinha pode viver mais de cem anos e, acompanhando a alta longevidade, pode ser fértil entre 50 e 70 anos da vida. Dando continuidade a esses números, cada fêmea chega a desovar de três a quatro vezes no verão e, em cada desova,aproximadamente 300 filhotes conseguem ir para o mar. Apesar da infinidade de bebês , a ciência calcula que entre mil novas tartarugas, apenas uma chega à vida adulta e consegue se reproduzir.
É por isso que tudo o que puder ser feito para proteger a vida de uma tartaruga adulta - resgatá-las no mar se estiverem presas em redes e diminuir a caça predatória - é válido. O Tamar também investe nesse trabalho e recupera nas estações do projeto, tartarugas que foram encontradas em situação preocupante no litoral brasileiro. Lá elas são medicadas, recebem o tipo de tratamento adequada e depois, muitas são devolvidas para a natureza.
Protegendo desde o início
No primeiro ano de atividades, em 1979, no Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte, o projeto fez nascer duas mil novas tartarugas marinhas. Foram acompanhadas 55 desovas em 50 quilômetros de litoral. Os anos se passaram e o projeto tomou proporções nacionais. Hoje, o Tamar conta com 25 bases em noves estados brasileiros e monitora anualmente cerca de mil quilômetros de faixa costeira. Só em 2014, dois milhões de tartarugas nasceram graças aos esforços de biólogos, veterinários, oceanógrafos e tantos outros da equipe do projeto.
A parceria com a Petrobras também foi parte importante do processo. Há 33 anos a empresa patrocina o Tamar e contribui para o crescimento e uma maior atuação do projeto. Nesses anos de atuação na defesa da fauna marinha, Guy Marcovaldi faz a seguinta comparação: ;eu diria que as tartarugas saíram da UTI de um hospital e agora estão no quarto. Ainda falta muito para que elas recebam alta;.