Que o ser humano é o maior predador do cerrado ; e de qualquer outro ecossistema ; , ninguém duvida. Mas nem todo mundo se atenta que, para preservar a mata nativa de uma região, não basta apenas controlar as ações do homem na natureza. Também é necessário cuidar dos animais que ali habitam, pois estes são os grandes responsáveis pela proteção ambiental.
Apenas no cerrado, 70% das espécies arbóreas são dispersas pela fauna.O número foi levantado recentemente pelo pesquisador em botânica da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Kuhlmann. ;Analisei a lista de espécies do cerrado e a síndrome de dispersão para chegar a esse resultado;, conta.;Cada animal se atrai por um tipo de planta diferente, dependendo do hábito (noturno ou diurno), da cor (no caso dos que enxergam bem), do formato (que tem relação com a forma do bico, no caso das aves);.
Propagação da vida
A doutora em biologia vegetal Lucia Helena Soares e Silva explica que há duas formas principais de os animais contribuírem com a expansão do bioma. Uma é a polinização, realizada especialmente por insetos, beija-flores e morcegos. ;É o trajeto do pólen, da parte masculina para a feminina das plantas.; A outra é a dispersão. ;É o transporte da semente a partir da planta-mãe para colonizar novos locais;, conta.
Aqui, os principais agentes são aves, morcegos, lobos-guará (e outros bichos terrestres similares), alguns primatas (como o bugio e o macaco-prego), roedores, como a cutia, e insetos (formiga e besouro, por exemplo).
Lucia esclarece que a dispersão é importante devido ao fluxo genético, que determina a evolução das plantas. ;Não é vantajoso colonizar lugares próximos, pois isso diminui a variabilidade genética e a diversidade, o que torna os vegetais menos resistentes a fungos e vírus. E a perda de animais dispersores influencia diretamente nessa redução.;
A bióloga especialista em cerrado Angélika Bredt preocupa-se, especialmente, com duas situações em que o ser humano influencia diretamente na diminuição dos dispersores do cerrado: o atropelamento nas estradas ; que atinge, por exemplo, o lobo-guará ; e o uso de agrotóxicos nas plantações (de soja e maracujá, por exemplo), que atrapalha o trabalho das abelhas. ;E ainda temos as queimadas, que causam a perda de habitat de muitos bichos. O que eles fazem é um trabalho gratuito que não damos valor;, lamenta.
Entenda
A dispersão não se dá só pelos animais. Também acontece pelo vento, pela água e pelo estouro (caso da mamona).
Serviço
Aos interessados em se aprofundar no tema, a dica é o livro Frutos e Sementes do Cerrado: Atrativos para Fauna, do biólogo Marcelo Kuhlmann, lançado em 2012. A obra pode ser encomendada pelo site www.frutosatrativosdocerrado.bio.br ou pelo telefone 3348-0423.