Jornal Correio Braziliense

Ser Sustentável

Brasil é inerte aos efeitos das mudanças climáticas, diz pesquisadora

Apesar das crescentes evidências científicas sobre os impactos da mudança climática na Terra, existe pouca ou nenhuma preocupação imediata dos governos municipais no Brasil. A ideia é defendida na tese da cientista social Fabiana Barbi, desenvolvida no programa de doutorado em Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade de Campinas (Unicamp).

Para entender como os governos locais têm agido, a pesquisadora analisou as políticas públicas voltadas ao tema formuladas pelos nove municípios que compõem a Região Metropolitana da Baixada Santista. De acordo com Fabiana, a pesquisa trabalhou com o conceito de mudanças climáticas adotado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), órgão vinculado à ONU. ;Nesse caso, consideramos as mudanças climáticas causadas ou não pela ação do homem, visto que em muitos casos é difícil determinar se um evento de chuva extrema, por exemplo, tem algum componente antropogênico;, explica.



O que foi possível perceber ao longo da investigação, conforme a pesquisadora, é que de maneira geral os municípios conhecem os riscos relacionados às mudanças climáticas, mas não estão se preparando para enfrentá-los de maneira adequada. ;Essa situação é preocupante, pois os cenários projetados para a cidade [Santos], mesmo os mais conservadores, apontam para a possibilidade de impactos importantes para o cotidiano da população;, observa. Apesar do cenário que inspira cuidados, Santos não possui programas efetivos voltados à prevenção dos problemas que podem ocorrer devido às mudanças do clima.

Um aspecto que chama a atenção em relação ao governo, segundo Leila da Costa Ferreira, orientadora da tese, é que o Brasil dispõe de mecanismos capazes de aprovar medidas preventivas e de adaptabilidade. ;A política climática nacional, aprovada em 2009, é muito boa. Da mesma forma, temos cinco municípios e onze estados que elaboraram legislações igualmente importantes. Ocorre, porém, que as propostas não são implementadas e, consequente, as eventuais metas não são atingidas;, lamenta a professora Leila.

Com relação às experiências internacionais que poderiam servir de exemplo ao Brasil na área de política climática, a autora da tese cita dois exemplos, um vindo de Freiburg, na Alemanha, e outro de Melbourne, na Austrália. ;A primeira cidade oferece um valioso exemplo, uma vez que a sua política energética está baseada em fontes renováveis. Na segunda, o destaque fica por conta das iniciativas voltadas à adaptabilidade da cidade às consequências das alterações no clima. Melbourne está investindo muito na coleta de água de chuva, que pode ajudar nos períodos de inundações e também nos momentos de escassez hídrica;.