Jornal Correio Braziliense

Rio mais 20

Após reunião, organizações sociais se dizem frustradas com Ban Ki-moon

Rio de Janeiro ; A sensação era de frustração entre os integrantes de movimentos sociais na saída do encontro, com acesso restrito à imprensa, que reuniu representantes da Cúpula dos Povos e o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, na manhã desta sexta-feira (22/6), no Riocentro, zona oeste da capital fluminense.

Os cerca de 20 ativistas entregaram a Ban Ki-moon um documento preliminar com demandas das organizações da sociedade civil no evento paralelo à Conferência das Nações Unidas, Rio;20.

Para o Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional, o representante da ONU não deu nenhuma garantia de que os governos vão realmente implementar as decisões acordadas na conferência.

;A resposta dele [Ban Ki-moon] não foi muito reconfortante. O problema maior é o fato de que não há especificações, prazos, dinheiro na mesa para fazer as coisas acontecerem. E a sociedade civil seria idiota ou qualquer um se acreditasse que agora vão fazer o que a sociedade pede;, comentou Naidoo.



A ativista Cindy Wiesner, do movimento da Aliança Grassroots Global Justice, criticou a falta de posicionamento do secretário-geral da ONU em várias questões levantadas pelo grupo. ;Quando perguntamos sobre a posição dele a respeito dos direitos reprodutivos das mulheres, ele desconversou e falou da igualdade de gênero por meio do voto. Não respondeu;, lamentou a ativista norte-americana.

Segundo os ativistas, Ban Ki-moon disse que essa foi uma das reuniões mais importantes do evento e reconheceu a importância do papel exercido pela Cúpula dos Povos. ;Basicamente, falamos que não queremos que as discussões da Rio;20 sejam dominadas pelas corporações, soberania alimentar, que a natureza não tem preço e não está à venda e do direito à terra dos povos indígenas;, contou Cindy. ;Mas foi frustrante, as respostas foram muito genéricas, assim como o documento final que deve sair daqui;.

Nem todos os representantes da sociedade civil acharam que o encontro foi em vão. De acordo com Graziela Rodrigues, da Articulação de Mulheres Brasileiras do Comitê Organizador da Cúpula dos Povos, a reunião representou um avanço em termos de diálogo com as Nações Unidas.

;O fato de termos nos encontrado e entregado o documento da Cúpula dos Povos é importante, sobretudo, é importante que eles tenham visto pela televisão e pelas notícias uma enorme manifestação, uma cúpula extremamente diversa, plural e cheia de propostas, e que os movimentos estão mais mobilizados e isso é a garantia de que mudanças vão acontecer.;

Graziela defendeu, entretanto, que os movimentos devem manter suas reivindicações para que os encontros oficiais sobre desenvolvimento sustentável saiam da retórica.

Na opinião do representante da organização Religiões por Direitos e da Rede Internacional Act Aliança, Rafael Soares de Oliveira, as demandas das organizações sociais não têm nada de utópicas e são todas possíveis de serem alcançadas se houver vontade política. ;Os governos veem essas ideias como utópicas, mas são na verdade muito concretas e já estamos levando-as adiante, de proteção e manutenção da natureza e precisamos ser escutados;