Jornal Correio Braziliense

Rio mais 20

Denúncias contra economia verde dominam o segundo dia da Rio+20

Rio de Janeiro - As denúncias contra a "economia verde" tomaram conta nesta quinta-feira (21/6) da cúpula Rio%2b20, com acusações de Bolívia, Equador, indígenas e ONGs contra os países ricos por promover uma nova forma de colonialismo ambiental e críticas pela falta de resultados concretos.

"Os países do norte se enriquecem em meio a uma orgia depredadora e obrigam os países do sul a ser seus guardas-florestais pobres", denunciou o presidente boliviano, Evo Morales, na sessão plenária da cúpula, que reúne 86 chefes de Estado e de governo até sexta-feira com o objetivo de frear a degradação ambiental do planeta e combater a pobreza.

"Querem criar mecanismos de intervenção para monitorar e julgar nossas políticas nacionais com desculpas ambientais", lamentou.

A transição para uma "economia verde" foi finalmente incluída no rascunho da declaração final aprovado por todas as delegações após meses de discussões, a qual os líderes devem avaliar na sexta-feira, o que foi considerado uma vitória pela Europa.

"Os mais poderosos são os que estão depredando o planeta, consumindo bens ambientais, gratuitamente. Porque os que produzem os bens ambientais são os países em desenvolvimento: Brasil, Equador, a selva amazônica", disse o presidente equatoriano, Rafael Correa.[SAIBAMAIS]

"O problema não é técnico, é político. Enquanto persistir a relação de poder existente no paneta, vai ser muito difícil chegar a estes compromissos por parte dos grandes contaminadores", completou.

Em seu discurso diante dos líderes, Correa lembrou que os países mais ricos geram 60% das emissões de CO2, enquanto os 20% mais pobres do planeta produzem apenas 0,72% de gases contaminantes.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, cujo país foi o promotor da adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a partir de 2015, afirmou que o texto negociado não será modificado pelos líderes.

"Somos os primeiros a lamentar que não conseguimos avançar mais, mas se formos realistas e virmos os diferentes interesses que congregam todos os países representados, apenas chegar a um consenso coloca o processo em andamento", afirmou.

Centenas de indígenas de todo o mundo que participam da conferência Rio%2b20 denunciaram em um documento entregue à ONU que "a economia verde é um crime de lesa-humanidade e contra a Terra".

"A economia verde é nada menos que o capitalismo da natureza uma economia baseada na destruição do meio ambiente" e "a continuação do colonialismo ao qual os povos indígenas e nossa Mãe Terra resistiram durante 520 anos", disseram.



Representantes da sociedade civil, ambientalistas e ativistas da luta contra a pobreza manifestaram sua fúria diante do "fracasso" e "da ausência de compromisso" da cúpula Rio%2b20.

Daniel Mittler, do Greenpeace, declarou que o resultado da Rio%2b20 será "desastroso", expressando sua "decepção" e sua "cólera", enquanto afirmou que "o fracasso dará às pessoas mais energia para se mobilizar e lutar pelo planeta".

"Vimos nesta conferência uma liderança forte das ONG, do setor privado, das comunidades locais", mas "nada da conferência", afirmou Lasse Lasse Gustavsson, do Fundo Mundial da Natureza (WWF), que disse estar "desesperado" porque os governos não têm consciência de quão doente o planeta está.