Rio de Janeiro - As negociações de mais de 190 países na conferência da ONU, Rio;20, por um acordo que salve o planeta, entraram, nesta segunda-feira (18/6), em uma controversa reta final, em meio a críticas sobre sua falta de ambição e sob a sombra da cúpula do G20 no México.
O Brasil, que comanda as negociações, se propôs a fechar um acordo nesta segunda-feira (18/6), antes que os 130 chefes de Estado e de Governo comecem a chegar na terça-feira, mas as delegações informavam que as longas reuniões se estenderiam durante a noite.
A Europa deixou claro que o rascunho do acordo proposto pelo Brasil não tem a ambição necessária requerida para preservar o meio ambiente e a luta contra a pobreza no mundo. "Ainda consideramos que há uma importante margem para melhoras. Queremos usar cada hora, cada minuto, nos próximos dias" para chegar a uma conclusão "mais ambiciosa", disse o ministro alemão do Meio Ambiente, Peter Altmaier.
"Não estão reunidas as condições para um acordo (...) Não queremos limites de tempo, temos até o dia 22 (último dia da conferência) à noite para negociar", afirmou a ministra do Ambiente francesa, Nicole Bricq. "É um momento muito complicado, ainda há temas muito complexos sobre a mesa", admitiu à AFP a chefe da delegação da Venezuela, Claudia Salerno. Ela esclareceu, no entanto, que os países querem evitar a todo custo o fantasma de Copenhague, a Cúpula do Clima de 2009, quando as negociações foram entregues aos presidentes e acabou fracassada, sem acordo.
As diferenças em pontos-chave continuavam nesta segunda-feira. Os países em desenvolvimento querem uma clara definição de como será financiada sua transição para uma economia verde que respeite os recursos naturais do planeta e a Europa quer criar uma organização internacional encarregada do meio ambiente, à qual se opõem Brasil e Estados Unidos.
A crise econômica paira sobre a conferência: os países ricos são mais conservadores a repartir fundos que no passado, e os países em desenvolvimento são mais reticentes a ceder sem que as outras partes correspondam, reconhecem os delegados.
"A crise concentrou tanto a atenção pública que as questões de proteção do meio ambiente e desenvolvimento sustentável sofreram muito. O objetivo desta conferência é trazê-las para o centro do debate internacional", disse o ministro alemão.
A conferência coincide com a cúpula do G20, que acontece nesta segunda e terça-feira, reunindo os líderes das principais economias do planeta no México, para encontrar soluções para a crise. "Não podemos alcançar uma estabilidade econômica sem desenvolvimento sustentável a longo prazo", foi a mensagem da ONG ambientalista WWF aos líderes do G20.
Muitos dos presidentes presentes no G20 viajarão ao Rio de Janeiro para o encerramento da Rio;20, que entre quarta e sexta-feira receberá cerca de 130 chefes de Estado e de governo. Não estarão no Rio, contudo, o líder da maior economia do planeta, o americano Barack Obama, nem a alemã Angela Merkel, uma das mais comprometidas com o meio ambiente. A conferência da ONU é a quarta de seu tipo na história desde 1972 e seu objetivo é traçar um plano mundial para enfrentar os principais problemas ambientais e lutar contra a pobreza.
O plano define agora as grandes áreas que precisam de ação imediata, como proteação de oceanos e bosques; transição para agricultura, energia e modelos de produção e consumo sustentáveis; erradicação da pobreza; segurança alimentar; emprego e proteção social.
A principal crítica é que o documento é muito breve em relação a ações e definições, quando prevê que, em 2030, a demanda de alimentos aumente 50% e a de energia, 45%, em um contexto de mais desigualdade social e aumento da temperatura do planeta.