Jornal Correio Braziliense

Pensar Brasilia

Rede pública de ensino implanta política de educação ambiental nas escolas

Os alunos de escolas públicas do Distrito Federal já podem se preparar para aprender mais sobre sustentabilidade, natureza e problemas ambientais. A Secretaria de Educação (SEDF) desenvolve uma política de educação ambiental para ser implantada na rede pública de ensino. No começo do ano letivo de 2013, os professores terão acesso a quatro projetos: horta, consumo consciente, dengue e cerrado. A iniciativa veio logo após o Conselho Nacional de Educação aprovar, em junho, diretrizes curriculares nacionais para a educação ambiental, que envolverão cerca de 13 mil escolas de educação básica no país.

O resultado de um questionário on-line, aplicado entre março e julho deste ano e respondido por metade das escolas públicas do DF, apontou que 60% delas (cerca de 400) trabalham com projetos ;verdes; ; ligados à temática das hortas e dos resíduos sólidos. Porém, o chefe do Núcleo de Educação Ambiental da SEDF, Henrique Rodrigues Torres, ressalta que essas ações ainda são individuais e dependem da boa vontade dos professores. ;Esperamos, com a política, termos mais escolas sustentáveis, preparadas para um novo modelo de sociedade;, afirma.

Até o momento, a política distrital inclui os quatro projetos, gerados pelo resultado do levantamento; em uma rede de educadores ambientais, formada pelos professores mais envolvidos com a temática; e na preparação para a Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, prevista para ocorrer em junho de 2013 e que discutirá a eficiência da política.

A iniciativa da secretaria é prioridade da rede de ensino pública, segundo a Lei distrital n;3.833, de 2006. O texto destaca, entre outras coisas, a realização de ações de monitoramento e participação das escolas em campanhas de defesa do meio ambiente, como reflorestamento ecológico e coleta seletiva de lixo. Apesar disso, segundo Torres, terá caráter voluntário. ;A escola que aderir terá suporte da regional de ensino com ações estratégicas, formação continuada e financiamento dos projetos;, enumera.

Outra iniciativa em prol do conhecimento ecológico é realizada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram). O órgão lançou edital para contratar um consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o objetivo de mapear ações em todo o DF.
Rotina

Mãozinhas preparadas para mexer na terra molhada, olhinhos e ouvidos atentos aos ensinamentos do ;tio; Adolpho Kesselring, o Fuica, para mais uma atividade na horta. A aula de educação ambiental já é comum até mesmo para os pequeninos de uma creche e escola do Guará. Uma vez por semana, os alunos da pré-escola plantam sementes, molham plantinhas e colhem frutos, que são usados no preparo do lanche. ;Gosto de mexer com a terra e falo para os meus pais o que aprendo na escola;, orgulha-se a estudante Maria Eduarda Guedes, de 6 anos de idade. ;Aprendi que não posso arrancar as plantas da terra nem gastar água;, ensina o coleguinha Diego Freire, 5, como quem entende do assunto.

O professor de educação ambiental da escola diz que a participação e o interesse dos pequenos é total. ;É muito importante ensinarmos os cuidados com o meio ambiente desde a infância.; A coordenadora da instituição, Ana Flávia Barros, afirma que o tema foi incluído na grade escolar há cinco anos. Além da horta, a educação ambiental é trabalhada de outras formas em projetos mensais da creche. ;Tudo o que é passado, eles praticam em casa. Para nós, é uma grande novidade, mas eles gostam e o aprendizado é 100%;, observa.

Nos colégios particulares, a educação ambiental já faz parte da rotina escolar. No Lago Norte, o Instituto Natural de Desenvolvimento Infantil tem uma horta pedagógica há 30 anos. As aulas na terra ocorrem a cada 15 dias com a turma de 2; ano do ensino fundamental, que também é responsável por cuidar do minhocário. ;Não tem mais como ficar por fora dessa discussão. As crianças precisam vivenciar a sustentabilidade e o cuidado com os seres vivos;, opina Renata Cardoso, coordenadora pedagógica do colégio.

Os maiores desenvolvem atividades mais complexas. Há, pelo menos, dez anos, as turmas do 6; ano acampam na chácara de permacultura do Instituto Ipoema. O passeio acontece uma vez por ano e, lá, eles aprendem a preservar o cerrado, a poupar água e conhecem a técnica do banheiro seco (sem uso de água). Também é prática do 7; ano fazer trabalhos no Parque Olhos D;Água, na Asa Norte. Segundo Renata, a novidade para este ano fica por conta do debate sobre o Protocolo de Quioto e a Rio%2b20, em que os alunos terão de sugerir soluções para os problemas ambientais.

Palavra de especialista
Visão social é necessária
;Tenho observado que, nos últimos dez anos, todas as instituições de ensino têm inserido, seja na grade curricular ou nos eixos temáticos, a temática ambiental. E ela vai ganhando muito espaço no ensino por ser um reflexo do mundo social e ser contemporânea. Porém, na lei federal que institui o Programa Nacional de Educação Ambiental (n;9795/99), recomenda-se que todas as áreas de ensino abordem a questão não como disciplina, mas de uma forma transversal. E o que vem ocorrendo é que vários temas relacionados ao meio ambiente têm ganhado destaque com o comportamento de indivíduo, mas sem olhar social. Acredito que a educação ambiental tem de abordar a macroestrutura e ir além do lixo e da horta. De forma geral, as escolas vêm trabalhando esses temas, mas de forma às vezes romântica, ambientalista e um pouco ingênua. A escola pode contribuir para dar um olhar diferente, uma postura diferente, ela é o local onde se adquire e se constrói os primeiros valores com relação ao meio ambiente.;
Irineu Tamaio,
professor de educação ambiental no curso de gestão ambiental, Câmpus Planaltina, da Universidade de Brasília (UnB)




Abordagem multidisciplinar
Alguns princípios da educação ambiental

; Enfoque humanista, holístico, democrático e participativo
; Interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade
; Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas
; Vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais
; Abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais

*Fonte: Política Nacional de Educação Ambiental