A criação de região metropolitana englobando o Distrito Federal e o Entorno foi defendida por Aldo Paviani, professor titular e emérito da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o Plano Piloto exerce uma força que expulsa a população de menor renda para a periferia, ao mesmo tempo em que o centro da cidade oferece a maior parte das ofertas de emprego e de serviços. Isso gera uma enorme demanda sobre o sistema viário em horários de pico.
;As cidades do Distrito Federal e de Goiás englobam 3,2 milhões. Por dia, 1,2 milhão de pessoas saem de casa para trabalhar nos ministérios e áreas de serviço localizados no centro, que tem uma população de apenas 205 mil;, ressaltou Paviani. ;Ou seja, um total seis vezes maior do que o dos moradores do Plano Piloto.;
O alerta foi feito em palestra realizada durante o seminário Pensar Brasília, qualidade de vida ; transportes, promovido pelos Diários Associados na manhã de quinta-feira.
Segundo o professor, o termo Entorno é pejorativo e apenas comprova o estado de exclusão dos municípios goianos nas políticas públicas federais e do DF. ;Em verdade, eles deveriam ser considerados como parte de uma região metropolitana, com sistema de transporte e outros serviços integrados a Brasília;, defendeu.
A pressão sobre a área central não se limita ao transporte urbano. O emprego intenso de veículos particulares se reflete sobre o Plano, não preparado para a demanda atual por estacionamentos. ;Hoje, ao sair para qualquer evento, pergunto se há onde estacionar;, disse Paviani, mostrando fotos que comprovam o abuso de motoristas em busca de vagas. ;O uso abusivo do carro, por falta de um transporte coletivo adequado, dificulta o fluxo nas ruas. Algumas medidas simples, como a utilização do sistema de onda verde nos semáforos, ajudariam a desafogar o tráfego e deveriam ser implantadas imediatamente."
Distorção
Ele lembrou o grande desnível de renda entre o Distrito Federal e as cidades-dormitório de Goiás e alertou sobre a necessidade de se criarem polos alternativos de desenvolvimento econômico. ;Os habitantes das cidades localizadas na região metropolitana evitam, inclusive, dizer que moram fora do DF quando procuram emprego;, afirmou. ;É necessário que haja uma valorização dessas áreas com a geração de empregos por meio do incremento de zonas industriais.;
Paviani alertou para a grande diferença entre os índices de desemprego do Plano Piloto em relação às outras cidades do Distrito Federal: ;Segundo dados da Codeplan e do Dieese, a Área Central concentra mais de 42% dos empregos e detém apenas 8,17% da população. Os núcleos periféricos somam 91,83% da população e quase 58% dos postos de trabalho. A mesma distorção pode ser verificada nos índices de desemprego. A taxa média é de 12,9%. No Plano Piloto, é de apenas 6,5%. Esse total sobe para 11,2% nas cidades mais próximas e chega a 15,4% nas mais distantes, como Santa Maria e Brazlândia.;
Nas cidades do estado de Goiás, segundo o professor, esse total chegaria a 26,6%. ;Isso implica sérios riscos para a integridade do Distrito Federal, ampliando os riscos de segurança para a população por meio do crescimento da criminalidade e do narcotráfico na vizinhança de Brasília;, concluiu.