Jornal Correio Braziliense

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Hoje desafeto, ministro Joaquim Barbosa recebeu apoio do PT há nove anos

Brasília, 2003. Um jantar com o chefe da Casa Civil, José Dirceu; uma boa avaliação curricular feita pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; uma defesa convincente por parte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence; e uma conversa particular no gabinete presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Essa sucessão de eventos ao longo de 2003 selou a indicação de Joaquim Barbosa, em junho daquele ano, ao cargo de ministro do Supremo. Quase uma década depois, Barbosa condenou Dirceu a 10 anos e 10 meses de prisão ; além de um cliente defendido por Márcio Thomaz Bastos no julgamento do mensalão ; e despertou a antipatia do ex-presidente da República.



Barbosa disputava a vaga com outros candidatos ; entre eles, um secretário de assuntos jurídicos do governo de Celso Pitta em São Paulo ;, mas o destacado currículo de Barbosa pesou na indicação. Com passagens pela Alemanha e pelos Estados Unidos, o futuro ministro tinha feito uma tese bastante consistente sobre o STF, o que indicava que ele tinha interesse pela Suprema Corte. ;Como o sistema de nomeação é feito por indicação do presidente, os interessados precisam vender seu peixe pelos gabinetes de Brasília;, confirmou um jurista acostumado a acompanhar esse tipo de processo.

Peregrinação
Ciente da simpatia que seu nome exercia na cúpula do poder em Brasília, Barbosa começou a esforçar-se para ser conhecido pessoalmente. Procurou primeiro parlamentares petistas que tinham proximidade com Lula. Nessas conversas, segundo apurou o Correio, realçava o desejo de se tornar ministro, e destacava os principais pontos de seu currículo. Originário do Ministério Público, mas com serviços prestados em autarquias e órgãos ligados ao Ministério da Saúde, Barbosa demonstrou disposição para tornar-se ministro do STF.

Mesmo sendo Thomaz Bastos o responsável pela triagem dos currículos, Barbosa sabia que, para conseguir a vaga, precisava do aval do então todo-poderoso José Dirceu. Pediu a um interlocutor em comum que marcasse um encontro, que ocorreu em um restaurante em Brasília. Uma conversa formal, protocolar. Barbosa apenas destacou que gostaria de ser indicado e que tinha currículo para isso. Na ocasião, não prometeu nada em troca ao então ministro da Casa Civil. Nem mesmo fidelidade àqueles que encampariam a indicação do primeiro negro para o principal tribunal brasileiro.