Com 35 minutos de atraso, os ministros do Supremo Tribunal Federal começaram a sessão desta quarta-feira do julgamento do chamado mensalão. Durante toda a tarde, o relator Joaquim Barbosa deve continuar o voto relativo ao capítulo 6 da denúncia da ação penal 470 - que trata do mensalão propriamente dito. Os juízes decidirão se houve ou não compra de votos no Congresso. Na primeira parte da leitura do voto, na última segunda-feira (17/9), o relator Barbosa já declarou que ao menos no que diz respeito ao PP, não há dúvidas de que houve compra de votos para atender interesse "dos corruptores".
No início da leitura, Barbosa tratou da ligação de políticos ligados ao PL. Para o relator, está comprovada a conduta ilícita de Valdemar da Costa Neto e Bispo Rodrigues. O fato de o partido já ser da base aliada do PT e mesmo assim cobrar suposta propina para votar a favor diria respeito a "particularidades da política brasileira". "Nossa história política mostra que relações entre os partidos do presidente e do vice-presidente não raro são conflituosas", defendeu.
Para Barbosa, não há razão para concluir que os parlamentares do PL apoiariam prontamente o governo Lula, mesmo tendo José Alencar como vice. O relator lembrou que deputados do PL resistiram à aliança com o PT nas eleições de 2002. Barbosa sentenciou: "Valdemar Costa Neto recebeu pessoalmente pagamentos milionários, feitos por intermédio da estrutura empresarial de Marcos Valério". No entendimento do ministro, "o deputado não comprovou o pagamento de qualquer dívida, como ele alegou". Além de Costa Neto, Barbosa também indica condenação de Bispo Rodrigues e Jacinto Lamas, pelo crime de corrupção passiva.
Com relação ao crime de lavagem de dinheiro, o relator sustentou que está comprovado o esquema: a SMP, de Marcos Valério, emitia cheques que eram trocados pela corretora Guaranhus e depois repassados, em espécie, aos políticos em casa. Lúcio Funaro, dono da Guaranhuns, fez delação premiada e responde na 1ª instância pelos crimes. Poderá ganhar benefícios na pena, como perdão. O relator disse que Bispo Rodrigues pediu a motorista do PL que buscasse R$ 150 mil na SMP. O então deputado sabia da origem ilícita, segundo o ministro, que questionou: "Se os réus pretendiam apenas pagar dívidas de campanha pq escolheriam forma de recebimento tão sofisticada?"
Confira a lista de réus julgados nesta etapa
Anderson Adauto
» Ex-ministro dos Transportes, hoje prefeito reeleito de Uberaba (MG), é acusado de ter recebido R$ 950 mil de Marcos Valério e de ter intermediado apoio político.
Antônio Lamas
» Era assessor do PL na Câmara. Hoje, trabalha como gerente de uma casa lotérica. Foi acusado de intermediar repasses ao PL, mas a PGR pediu a absolvição dele por falta de provas.
Bispo Rodrigues
» Era deputado pelo PL-RJ e vice-presidente do partido. Hoje, é sócio de emissoras de radio e tevê. É acusado de ter recebido propina para votar a favor do governo.
Delúbio Soares
» Apontado como o grande operador financeiro do esquema. Segundo a denúncia, era o elo entre o núcleo político e Marcos Valério. Era tesoureiro do PT e, depois do escândalo, deixou o partido, mas retornou e tem pretensões de se candidatar.
Emerson Palmieri
» Era tesoureiro informal do PTB e diretor da Embratur. Hoje, é fazendeiro. Acusação: ajudou a intermediar a propina em favor do PTB.
Jacinto Lamas
» Ex-tesoureiro do PL, hoje funcionário da Câmara, responde por intermediar repasses ao PL.
João Cláudio Genú
» Era assessor do então deputado José Janene. Hoje, tem empresa de gestão empresarial e consultoria imobiliária É acusado de ter sido o intermediário do Valerioduto para o PP.
José Borba
» Era deputado e líder do PMDB. Hoje é prefeito de Jandaia do Sul (PR). Acusado de ter recebido propina para votar a favor do governo.
José Dirceu
» Ex-ministro-chefe da Casa Civil, apontado como o líder do esquema. Era deputado federal, mas por causa do escândalo do mensalão teve o mandato cassado em 2005. Está inelegível até 2014, mas ainda tem grande influência no PT.
José Genoino
» Ex-presidente do PT e ex-deputado, trabalha como assessor no Ministério da Defesa. Assinou empréstimos com a SMP que o STF já concluiu como simulados. É acusado de ter intermediado acordo com vantagens financeiras com partidos.
Marcos Valério
» É considerado o operador do mensalão. Nas primeiras semanas do julgamento, já foi condenado por corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.
Pedro Corrêa
» Era deputado federal (PP-PE) e presidente do PP. Hoje, ainda integra a direção nacional do partido. Acusação: receber propina em troca de apoio ao governo e lavar dinheiro.
Pedro Henry
» O deputado federal (PP-MT) era líder do partido na época. Acusado de ter recebido dinheiro em troca de apoio ao governo.
Roberto Jefferson
» Delator do esquema do mensalão, era deputado federal e teve o mandato cassado por causa do escândalo, em 2005. Teria recebido R$ 10 milhões para levar o PTB a apoiar o governo. Hoje é presidente nacional do partido.
Romeu Queiroz
» Ex-deputado federal (PTB-MG), hoje é deputado estadual pelo PSB. Acusação: pegou dinheiro para o PTB e para si próprio e ocultou a origem.
Valdemar Costa Neto
» Deputado federal pelo PR-SP, era parlamentar do PL. Acusado de receber dinheiro em troca de apoio político, será julgado por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.