Já Peluso, que se aposenta hoje, foi menos incisivo em relação às condenações, pois absolveu João Paulo de um dos peculatos e da acusação de lavagem de dinheiro. No entanto, conforme avaliam advogados do caso, fez o voto mais rigoroso, no qual ironizou as desculpas do petista para explicar a origem dos R$ 50 mil e desconstruiu as teses da defesa. ;O que estava por trás dessa aproximação e dessa gentileza de Marcos Valério com João Paulo Cunha? Não se tratava de cortesia ou elegância, mas interesse econômico;, enfatizou Peluso. ;Esse dinheiro não era do PT, partido que estava insolvente;, atacou.
Na quarta-feira, após Peluso fazer seu último voto, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos lembrou ter participado do processo de escolha do ministro. Hoje, na condição de um dos principais advogados no processo e autor da tese de que o dinheiro recebido por políticos se destinava unicamente ao caixa dois de campanhas, Bastos vê os ministros que ajudou a escolher desconstruírem sua versão.
Também nomeada por Lula, Cármen Lúcia chegou ao Supremo em junho de 2006, depois da denúncia do mensalão. A expectativa de caciques do PT de que ela poderia absolver João Paulo foi por água abaixo. Cármen Lúcia afirmou que houve corrupção e atribuiu os crimes cometidos por acusados no processo à ;certeza de impunidade;. Os únicos a inocentarem João Paulo de todos os crimes foram Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, ambos indicados por Lula.
Lamentação
Com a conclusão da primeira fase do julgamento, ontem, membros da cúpula do PT não escondiam o desapontamento com o placar da votação. ;Com tantos ministros indicados pelo Lula e pela Dilma, só dois votaram contra a condenação;, disparou um petista. Outro correligionário de João Paulo Cunha lembrou o samba eternizado na voz de Beth Carvalho ao traduzir o sentimento da legenda. ;Lembra daquela música? Você pagou com traição/a quem sempre lhe deu a mão? É isso que nós estamos vendo;, disse o político.
A assessoria de imprensa do STF divulgou ontem a parte do voto de Peluso que se refere à dosimetria das penas. O ministro corrige a pena de Pizzolato, elevando-a de oito para 12 anos e um mês de prisão em regime fechado. Ao fim da sessão de ontem, Peluso foi novamente homenageado pelo presidente do STF, Ayres Britto. ;Saio com a consciência tranquila de dever cumprido;, afirmou Peluso.