O histórico julgamento do Mensalão, que começará na quinta-feira (31/7), reabre o debate sobre o momento mais difícil da era Lula, que pode ter a sua imagem afetada caso surjam provas contra ele, consideram os analistas.
Luiz Inácio Lula da Silva, de 66 anos, que já recebeu 12 prêmios e 12 títulos de doutor honoris causa desde que deixou a Presidência, em 2010, não está entre os 38 acusados, muitos deles próximos ao ex-presidente.
Desde que vieram à tona em 2005 as denúncias de subornos pagos por integrantes do Partido dos Trabalhadores a políticos da base governista, Lula negou que estivesse envolvido ou ciente do caso e disse se sentir traído, chegando a pedir desculpas publicamente. No entanto, o advogado do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, centro), que denunciou o escândalo, já afirmou que durante o julgamento no Supremo Tribunal perguntará por que Lula não está no banco dos réus.
[SAIBAMAIS]"Falar é uma coisa, apresentar provas é outra", apontou em defesa de Lula o analista político César Alexandre Carvalho, da consultoria CAC, em Brasília. "Lula se tornou uma figura mítica, é o conto de Cinderela da política, o trabalhador que se tornou presidente de um país grande, e isso não vai mudar, teriam que ligá-lo diretamente ao Mensalão com provas, documentos de que orquestrou o esquema" para afetá-lo, concorda André Pereira, cientista político da consultoria Prospectiva.
Consultado sobre o tema, o Instituto Lula indicou que "o ex-presidente não está incluído na ação, de forma que não pode ser afetado, e não comentará o julgamento do Supremo Tribunal". Lula sobreviveu ao escândalo, que fez o seu governo cambalear, mas perdeu parceiros importantes, entre eles o seu chefe de gabinete José Dirceu, um dos principais acusados.
Conseguiu sem problemas a reeleição em 2006, e no final de 2010 transferiu a faixa presidencial para a sua escolhida, a atual presidenta Dilma Rousseff, também do PT.
Em 2009, o presidente americano Barack Obama o considerou como "o político mais popular do planeta" e no último dia de 2010 Lula deixou o governo, após oito anos de mandato, com um recorde de mais de 80% de aprovação.
"A questão é: Lula continua blindado? Mantém aquele ;efeito teflon;, uma vez que está fora do poder? Sim, existe um risco para a sua imagem e liderança, para a sua figura quase mítica, mas ainda não podemos dizer quão grande é", e isso também dependerá se e quantos forem condenados, afirma Pereira.
O julgamento, considerado o mais importante da história do Supremo Tribunal brasileiro, deve durar pelo menos um mês e será seguido passo a passo pela imprensa brasileira, em plena campanha para as eleições municipais que vão ajudar a moldar o mapa político da disputa presidencial de 2014.
Alguns analistas consideram que o julgamento pode ajudar os opositores nos municípios. Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, "a imagem de Lula ficará manchada apenas se for acusado de estar envolvido" no Mensalão e, neste caso, o ex-presidente não seria capaz, por exemplo, de eleger o seu candidato para prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
É improvável que o julgamento afete o governo de Dilma, que goza de uma aprovação de 77%, não está próximo de nenhum acusado e mostrou pouca tolerância com a corrupção, afastando sete ministros acusados de desvio de verbas e irregularidades.
"Dilma construiu um estilo diferente do de Lula, não deixou os ministros serem fritados durante meses por causa de denúncias da imprensa. Assim que aparece uma denúncia, pum, coloca na rua", diz Pereira, que recordou que Lula é ainda seu principal assessor político. Dos 38 acusados do Mensalão, apenas um tem alguma ligação com o atual governo: o ex-presidente do PT, José Genoino, que é assessor do ministério de Defesa.