No encontro com Amaral, Dirceu fez questão de diminuir a fervura nas declarações dadas nas últimas semanas por representantes de PT e PSDB. As duas legendas se desentenderam em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. O ex-chefe da Casa Civil defendeu que ;divergências pontuais não podem atrapalhar a relação na base de apoio da presidente Dilma;. Considerou naturais os movimentos do PSB em busca do crescimento partidário, mas frisou que o país ;tem diante de si uma crise econômica europeia, o que torna fundamental manter a unidade no plano nacional;.
Amaral gostou das conversas, embora reconheça que, num passado não muito distante, o ex-chefe da Casa Civil criticou duramente os movimentos expansionistas do presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos. ;Meu guru na política é Karl Marx, não Freud. Não sei se Dirceu reviu seus conceitos, mas foi uma conversa boa e tranquilizadora politicamente;, admitiu ao Correio o vice-presidente Roberto Amaral.
Internamente, Dirceu avalia que, no caso do PSB, o PT acaba sofrendo ;com o monstro que ele próprio criou;. Os petistas sempre enxergaram no partido de Eduardo Campos uma legenda com potencial de crescimento para sufocar os planos expansionistas do PMDB. Os dirigentes do PT sabiam que não era possível apostar essas fichas no PCdoB, outro aliado ideológico. ;O problema é que o PSB começou a crescer para o lado do eleitorado do PT. Era natural que isso acontecesse, mas muitos só se deram conta disso agora;, completou uma pessoa próxima ao ex-ministro.
Intervenções
Dirceu também conversa com frequência com caciques peemedebistas. O principal interlocutor com o partido sempre foi o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O petista articulou o acordo com Sarney que impulsionou a vitória nas eleições presidenciais de 2002. Também interveio diretamente para assegurar a eleição do senador peemedebista para presidir a casa no biênio 2003-2004 sepultando as pretensões de Renan Calheiros (PMDB-AL) de ocupar o posto.
Sarney, contudo, tem se afastado gradualmente das atividades políticas, em convalescença após diversos problemas de saúde. Um dos principais substitutos nessa conversa é o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE). Eunício foi o primeiro peemedebista a assumir um cargo no ministério do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2004, ele tornou-se ministro das Comunicações em substituição ao pedetista Miro Teixeira (RJ).
O PMDB tem emitido sinais de preocupação quanto ao cumprimento do acordo, por parte do PT, de que a Presidência da Câmara será de fato ocupada por Henrique Eduardo Alves (RN) no biênio 2013-2014. Dirceu sabe que comprar uma briga com o maior partido no Congresso não trará nenhuma vantagem para o governo. Ele foi um dos principais defensores de que a legenda estivesse na base de sustentação desde o início do primeiro governo Lula. Chegou a negociar com o então presidente do PMDB, Michel Temer, uma indicação para o Ministério de Minas e Energia. Acabou sendo surpreendido pela decisão de Lula de indicar a ;desconhecida; Dilma Rousseff para o cargo.
Um defensor no Senado
Dirceu e o ex-presidente Lula também têm uma dívida de gratidão com o presidente do Senado, José Sarney. No auge do escândalo do mensalão, Sarney foi uma das principais vozes na defesa do PT e de Lula. O senador foi fundamental para diminuir a pressão política no Congresso. ;Ele e Ciro Gomes (então ministro da Integração Nacional) defenderam a gente quando muitos petistas nem sequer tinham coragem de subir à tribuna para rebater os ataques;, disse Lula, certa vez, ao justificar o carinho que nutre por Sarney.