A partir da denúncia feita em junho de 2005 pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), de que seu partido teria recebido uma oferta em dinheiro por parte do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para votar a favor do governo alguns projetos no Congresso, as acusações se tornaram rotina e, a cada dia, novos nomes apareciam nos jornais. Duas CPMIs foram criadas para apurar as denúncias e três parlamentares perderam as vagas na Câmara.
Um ano depois de deflagrado o esquema, a denúncia chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), e cresceu a expectativa de que o caso teria fim. No entanto, na maior casa de Justiça do país, os adiamentos se tornariam frequentes e o processo judicial passou a se arrastar.
Na semana que vem, o esquema que apareceu graças a uma gravação de um empresário envolvido em negociações fraudulentas chega finalmente ao plenário do Supremo e o fim da novela ficará nas mãos de 11 ministros.
A CRONOLOGIA DO MENSALÃO
2005
Revelada filmagem feita em março mostra o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Maurício Marinho, negociando propina com empresários interessados em participar de uma licitação do órgão. As imagens foram gravadas por Joel Santos Filho, advogado curitibano que, a pedido do empresário Arthur Washeck Neto, um dos donos da Comam Comercial Alvorada de Manufaturados Ltda. e apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos cabeças da quadrilha especializada em fraudar licitações dos Correios. O motivo que levou o próprio empresário a armar a gravação seriam problemas nos acordos que estariam o prejudicando. No vídeo, o funcionário dos Correios afirma ter o respaldo do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) nas negociações.
6 de junho
No centro das denúncias do escândalo que atingiu os Correios, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB) traz à tona a existência de um outro esquema de corrupção que envolvia a compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional. Em entrevista, Jefferson denuncia que, desde 2003, seu partido teria recebido uma oferta para receber mesada de um esquema coordenado por Delúbio Soares, tesoureiro do PT.
Mesmo com pressão contrária de parte da bancada governista no Congresso, a CPMI dos Correios é instalada. No calendário de trabalho do grupo, são marcadas entrevistas da presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo; do secretário do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Luiz Gushiken; do dirigente do BMG, Rogério Tolentino; e dos empresários Marcos Valério e Daniel Dantas. No mesmo dia, a PF prende quatro suspeitos de participar da gravação envolvendo o servidor Maurício Marinho, flagrado recebendo propina.
Roberto Jefferson volta a acusar integrantes do governo federal de conhecer o mensalão e cita Marcos Valério como articulador financeiro para a compra dos parlamentares. O parlamentar afirma que a verba do esquema viria de empresas estatais e do setor privado.
16 de junho
Citado por Roberto Jefferson como uma das pessoas próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que conhecia o esquema, José Dirceu renuncia ao cargo de ministro-chefe da Casa Civil, 10 dias após a revelação do mensalão. O petista reassume a cadeira na Câmara dos Deputados.
É preso no aeroporto de Congonhas José Adalberto Vieira, assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães (CE), irmão do presidente nacional do PT, José Genoino, com R$ 200 mil na mala e US$ 100 mil na cueca.
20 de julho
Criada comissão parlamentar mista de inquérito para apurar as denúncias de pagamento de recursos a membros do Congresso com finalidade de aprovar matérias do interesse do Executivo.
12 de agosto
O presidente Lula afirma que foi ;traído; e que o governo e o PT têm de pedir desculpas pelos ;erros; cometidos.
PF indicia Delúbio Soares, Marcos Valério, José Genoino e o marqueteiro Duda Mendonça por práticas criminosas relacionadas ao mensalão. Entre as acusações, estão crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro.
14 de setembro
O plenário da Câmara aprova a cassação do mandato do deputado Roberto Jefferson por quebra de decoro parlamentar, por 313 votos. Além do envolvimento com o mensalão, o parlamentar também é citado como participante em atos de corrupção em empresas como a Eletronorte e o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
16 de novembro
A CPI do Mensalão é concluída sem um relatório final aprovado. O relator do processo, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), demonstra irritação com o fim dos trabalhos. ;É como se a investigação não tivesse existido. Vira tudo pizza;, disse o deputado.
José Dirceu (PT) tem o mandato de deputado federal cassado por quebra de decoro parlamentar. Dos 495 deputados que participaram da votação, 293 optam pela perda do mandato. Dirceu fica inelegível até 2015.
2006
5 de abril
A CPMI dos Correios apresenta o resultado de nove meses de trabalho. O relatório final foi aprovado com 17 votos favoráveis, entre os 31 que integraram o grupo, sendo quatro parlamentares contrários ao texto. A investigação apontou a existência de propinas pagas a parlamentares e pediu ao Ministério Público que mais de 100 pessoas fossem indiciadas. Além de integrantes do governo federal, outros 18 deputados são citados com envolvimento no esquema.
11 de abril
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, apresenta denúncia ao Supremo Tribunal Federal contra 40 pessoas envolvidas no esquema do mensalão. A lista inclui os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) e Anderson Adauto (Transportes).
2 de outubro
Oito acusados de ligação com o esquema do mensalão são eleitos para a Câmara dos Deputados: João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Vadão Gomes (PP-SP), Sandro Mabel (PL-GO), Pedro Henry (PP-MT), Paulo Rocha (PT-PA), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e José Genoino (PT-SP).
Sem punição para a maioria dos envolvidos, termina a série de julgamentos de parlamentares citados no mensalão. Dos 19 deputados acusados, 12 foram absolvidos, quatro renunciaram ; Paulo Rocha (PT-PA), José Borba (PMDB-PR), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Carlos Rodrigues (PL-RJ) ; e três foram cassados pela Câmara de Deputados ; José Dirceu, Roberto Jefferson e Pedro Corrêa (PP-PE). O último a escapar da cassação por quebra do decoro parlamentar foi José Janene (PP-PR), absolvido pelos colegas.
28 de agosto
O Supremo Tribunal Federal (STF) aceita denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no mensalão. No relatório de denúncia, o ministro Joaquim Barbosa aponta como operadores do núcleo central do esquema o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado e presidente do PT, José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex-secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha.
2008
24 de janeiro
Sílvio Pereira assina acordo com a Procuradoria Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus.
2010
14 de setembro
José Janene, ex-deputado do PP, morre e também deixa de figurar na denúncia. O parlamentar tinha sido absolvido no processo de cassação na Câmara, mas era suspeito de se beneficiar de mais de R$ 4 milhões das empresas do publicitário Marcos Valério.
2011
7 de julho
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, entrega ao STF as alegações finais do caso do mensalão. No processo, pediu que o tribunal condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.