Jornal Correio Braziliense

Oscar Niemeyer

Líderes, embaixadores e representantes da ONU prestam tributo a Niemeyer

O mundo se curvou ao poeta das curvas. Um dia depois da morte de Oscar Niemeyer, chefes de Estado, embaixadores e representantes da ONU renderam homenagens ao arquiteto brasileiro, reconhecido não só por suas belas obras, mas por ;incorporar os valores de inclusão, solidariedade e cooperação;, nas palavras de Irina Bokova, diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Da sede da ONU em Nova York, concebida por Niemeyer, o secretário-geral destacou o ;talento, o senso de humanismo e o engajamento global; do brasileiro. ;Seu trabalho na concepção da sede das Nações Unidas se destaca como seu legado para o mundo;, disse Ban Ki-moon. ;No momento em que a equipe da ONU em Nova York retorna dos alojamentos temporários para nosso complexo recentemente renovado, nos maravilhamos novamente com sua visão, ao criar uma casa bonita e inspiradora, na qual realizamos nosso trabalho de servir a toda a humanidade;, completou o sul-coreano.

Há três anos, em entrevista à Rádio ONU, Niemeyer afirmou que o que importava era a ;construção de um mundo melhor;. A diretora-geral da Unesco destacou a preocupação do arquiteto com assuntos sociais, e o classificou como ;defensor fervoroso da humanidade;.

O presidente da França, François Hollande, escreveu uma nota, lembrando que Niemeyer tinha uma relação privilegiada com a sua nação. ;Não apenas por ter construído, em nosso país, vários edifícios cuja modernidade e originalidade impressionam os visitantes, mas também por ter residido aqui durante o exílio;, afirmou. O premiê francês, Jean-Marc Ayrault, destacou que a França ;deve a ele cerca de 20 edifícios, desde a sede do Partido Comunista, em Paris, até a Casa da Cultura de Le Havre;. A fidelidade do arquiteto ao comunismo foi recordada por Aryault: ;Oscar Niemeyer não renegou nunca seus ideais;. O secretário nacional do Partido Comunista Francês, Pierre Laurent, classificou o brasileiro como um dos gênios da arquitetura do século 20 e afirmou que a agremiação ;perdeu um de seus camaradas mais fiéis e criativos;.


Cuba

A afinidade política também marcou a relação de Niemeyer com Havana. Amigo de Fidel Castro, ele admirava a resistência cubana ao bloqueio econômico imposto pelos EUA ; situação que retratou em uma escultura erguida na praça da Universidade de Ciências Informáticas de Havana. No desenho, um monstro de boca aberta é enfrentado por um cubano, que empunha a bandeira do país. ;Tomei conhecimento, com profundo pesar, da notícia do falecimento de Oscar Niemeyer, amigo incondicional da Revolução Cubana, cuja solidariedade recordaremos sempre. Recebam, em nome de Fidel e do meu próprio, nossas mais sentidas condolências;, afirmou o presidente cubano, Raúl Castro, por meio de nota. ;Temos afeto e carinho por Niemeyer;, disse ao Correio o embaixador cubano, Carlos Zamora Rodríguez. ;Há uma profunda consternação em meu país. Niemeyer foi um homem universal e grande amigo de Cuba. Meu país se comoveu, pois ele nutria profunda amizade com Cuba. O comandante Fidel Castro o tem em seu pensamento;, afirmou.
Na Argélia, onde o arquiteto desenhou universidades, ainda existe uma obra inacabada de Niemeyer, que deve ser concluída no próximo ano em Zéralda, a 30km de Argel. ;Em maio de 2012, ele atendeu ao apelo da Argélia, assinando uma de suas últimas obras, a Biblioteca Árabe Sul-Americana de Argel;, contou a ministra da Cultura argelina, Khalida Toumi. Ela destacou que os trabalhos do arquiteto no país começaram na década de 1970, quando Niemeyer concebeu a Universidade Houri Boumediene de Bab Ezzouar (em Argel) e a de Constantine (leste).

Os EUA, a Inglaterra e a Alemanha manifestaram tristeza. Em nota, a Embaixada dos EUA no Brasil recordou que foi a primeira a ser construída em Brasília, em 1961, ;projetada dentro dos contextos da visão do Sr. Niemeyer;. ;Seus projetos demonstram o poder da arquitetura de influenciar como vivemos, trabalhamos e sonhamos;, afirma o texto. O embaixador do Reino Unido, Alan Charlton, chamou o arquiteto de ;excepcional e brilhante;. ;Para aqueles de nós que vivem e trabalham em Brasília, Oscar Niemeyer permanecerá sempre presente em nossas vidas;, escreveu. Um comunicado da Embaixada da Alemanha descreveu Niemeyer como ;o arquiteto que fez poesia concreta;.

Professor de relações internacionais da Trevisan Escola de Negócios, Olavo Furtado disse que Niemeyer ajudou a consolidar uma imagem de sucesso do povo brasileiro. ;A marca de um país é a referência, o símbolo que as pessoas, sobretudo os estrangeiros, têm dele;, explica. ;Niemeyer cristaliza a criatividade do brasileiro no mundo da arte, do design e da arquitetura;, analisa.

Colaborou Rodrigo Craveiro