Jornal Correio Braziliense

Novo Papa

Frei Betto e Leonardo Boff se dizem esperançosos com novo Papa

Expoentes da Teologia da Libertação consideram que a escolha do nome Francisco pode indicar que o novo Papa trabalhará pelos pobres

Rio de Janeiro - Os brasileiros Frei Betto e Leonardo Boff, expoentes da Teologia da Libertação, se disseram esperançosos com a eleição do argentino Jorge Bergoglio como novo Papa, e consideram que a escolha do nome Francisco pode indicar que trabalhará pelos pobres.

"Nunca houve um Papa com este nome, São Francisco de Assis. É muito significativo por três razões: é símbolo da ação pelos pobres; da ecologia, pelo amor à natureza; e terceiro, foi um santo que sonhou que a Igreja estava desmoronando e que precisava reconstruí-la", disse nesta quinta-feira (14/3) à AFP o escritor e frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto.

O novo Papa "está consciente da crise da Igreja, da necessidade de uma reforma séria, começando pela Cúria Romana. Isso me deixa esperançoso", acrescentou.

"Estou satisfeito de que seja latino-americano, argentino. Mas Deus continua sendo brasileiro, isso é claro. É nosso consolo", acrescentou aos risos.

Frei Betto indicou que desconhece a atitude de Bergoglio durante a ditadura militar argentina (1976-1983), mas afirmou que teme que sua eleição tenha sido decidida em parte sob a lógica de que a Igreja deve neutralizar o avanço do "progressismo político" na América Latina, onde a esquerda -e o secularismo- ganharam terreno na última década.

"Temo que o Papa possa se prestar a isso, mas veremos como irá se manifestar", afirmou.

Leonardo Boff, outro dos pensadores da Teologia da Libertação que surgiu na América Latina após o Concílio Vaticano II (1962-1965), descreveu o Papa Francisco como um homem "sóbrio, sério, simples".

"O Papa Francisco é uma promessa. Primeiro pelo nome: São Francisco recebeu de Cristo o pedido de reconstruir a Igreja. Francisco é o irmão universal", declarou em sua conta no Twitter este teólogo que pendurou a batina em 1992, oito anos depois de ser condenado ao silêncio obsequioso (proibição de publicar e ensinar) por Joseph Ratzinger, logo depois designado Papa Bento XVI.

Boff também destacou a humildade do novo pontífice, que "inovou" ao pedir a benção do povo no momento em que foi anunciada sua escolha.

O sacerdote e teólogo suíço Hans Kung, uma das figuras mais progressistas da Igreja, declarou que está "feliz" com a esta eleição.

"É um homem culto, jesuíta, com uma formação sólida. Também é um homem sensível, simples", acrescentou à emissora italiana Rai Radio 3 este crítico do anterior Papa, Bento XVI.