Jornal Correio Braziliense

Novo Papa

Posição de Bergoglio durante ditadura argentina gera polêmica na internet

A suposta responsabilidade de Francisco neste fato foi denunciada, pela primeira vez, em 1986 no livro "Igreja e Ditadura"

Buenos Aires - O anúncio do argentino Jorge Bergoglio como o novo Papa, Francisco, desencadeou nesta quarta-feira uma polêmica nas redes sociais em relação ao papel que teria exercido durante a última ditadura na Argentina (1976/83).

"Bergoglio é acusado de ter convivido com a ditadura argentina", afirma uma mensagem de Twitter assinada pelo usuário animalpolítico.com.

"O novo Papa é amigo de violadores de direitos humanos", acrescentou o usuário Nicolás Copano.

"O novo Papa declarou no julgamento da ESMA após supostamente delatar dois sacerdotes torturados e desaparecidos", criticou outro usuário das redes sociais, Ignacio Escolar.

A Escola de Mecânica da Armada (ESMA) foi o mais emblemático e um dos maiores centros clandestinos de detenção da última ditadura argentina, por onde passaram cerca de 5.000 prisioneiros, dos quais sobreviveram apenas algumas centenas de pessoas.

Outro usuário, Lisandro Calvente, advertiu que "o Papa Bergoglio se opôs ao casamento igualitário, à lei de morte digna, ao aborto legal e operou na ditadura, o que vocês festejam?"

"FRANCISCO E A DITADURA. O novo Papa, Francisco, esconde um passado obscuro vinculado à última ditadura militar. Desaparecimentos e roubos de bebês", dizia um post no Facebook.

Na mesma rede social, alguns postaram uma nota de 2005 assinada por Horacio Verbitsky, presidente do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), que se refere a "cinco novos testemunhos que confirmam o papel de Bergoglio na repressão do governo militar sobre as fileiras da Igreja Católica que hoje preside, incluindo o desaparecimento de sacerdotes".

Em novembro de 2010, quando era cardeal primaz da Argentina, Bergoglio foi ouvido pela justiça em um julgamento por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura, que deixou 30.000 desaparecidos, segundo organismos humanitários.

María Elena Funes, catequista, havia declarado que os sacerdotes jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics foram sequestrados em 1976 depois que o atual Papa lhes tirou a licença para pregar em uma zona marginal do bairro portenho de Bajo Flores.

A suposta responsabilidade de Francisco neste fato foi denunciada, pela primeira vez, em 1986 no livro "Igreja e Ditadura", do falecido dirigente humanitário Emilio Mignone, cuja filha catequista Mónica está desaparecida.

Bergoglio também foi chamado a prestar depoimento como testemunha no processo pela existência de um plano sistemático de roubo de bebês, filhos de desaparecidos, nascidos em cativeiro de suas mães durante a ditadura.