Jornal Correio Braziliense

Novo Papa

Decano dos cardeais pede colaboração e unidade da Igreja

A convocação foi feita pelo cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, durante a missa "Pro Eligendo Pontifice", durante a qual ele recordou "o luminoso pontificado" de Bento XVI

"Estamos convocados a cooperar com o Sucessor de Pedro, fundamento visível de tal unidade eclesiástica", afirmou o influente cardeal em seu discurso, tal como correspondeu, há oito anos, ao então cardeal Joseph Ratzinger, antes de virar Bento XVI. "Eu os exorto a se comportarem de maneira digna, com toda humildade, mansidão e paciência, suportando-se reciprocamente com amor, tentando conservar a unidade do espírito por meio do vínculo da paz", disse Sodano, em referência à carta do apóstolo Paulo aos Efésios.

"Queremos agradecer ao Pai que está nos Céus pela amorosa assistência que sempre reserva a sua Santa Igreja e, em particular, pelo luminoso pontificado que nos concedeu com a vida e as obras do 265; sucessor de Pedro, o amado e venerado pontífice Bento XVI, ao qual neste momento renovamos toda nossa gratidão", afirmou o cardeal. "Queremos implorar ao Senhor que, através da solicitude pastoral dos pais cardeais, queira em breve conceder outro Bom Pastor a sua Santa Igreja", completou.



A menção do influente cardeal, que não participará no conclave por ter completado 80 anos, ao agora emérito Bento XVI, após a inesperada renúncia praticamente sem precedentes, gerou uma grande ovação entre os presentes. Os cardeais entraram em procissão, vestidos com os paramentos vermelhos e mitras, no majestoso templo especialmente iluminado para a ocasião, entoando cantos gregorianos. A cerimônia foi acompanhada por fiéis e turistas na Praça de São Pedro em quatro telões gigantes e exibida pela televisão a vários países.

A missa inaugura o ritual de um conclave estritamente pautado, mas sem nenhum favorito claro. Vários nomes são citados, todos eles conservadores, como o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, considerado o candidato da cúria e que pode ser o primeiro papa nascido na América Latina. Os cardeais seguiram no início da manhã para a Casa de Santa Marta, a residência dentro do Vaticano na qual ficarão totalmente isolados do resto do mundo antes do conclave.



Alguns deles se despediram dos seguidores na rede social Twitter. "Último tuíte antes do conclave: que nosso Pai ouça e responda com amor e misericórdia a todas as orações e sacrifício para um resultado frutífero. Deus nos abençoe", escreveu o cardeal sul-africano Wilfried Napier. Durante a tarde, às 16H15, os cardeais se reunirão para uma oração e depois devem seguir para a Capela Sistina, onde entoarão o hino "Veni Creator Spiritus", que invoca o Espírito Santo para que guie a decisão.

A clausura total começará após o grito de "Extra omnes" (Todos fora), momento em que as pessoas alheias ao conclave deixarão o local e as portas da capela serão fechadas, deixando apenas os cardeais. Os religiosos prestam juramento de silêncio sobre tudo o que será falado durante o conclave. A partir deste momento, a única indicação que o resto do mundo terá sobre o que acontece no conclave será a fumaça que sairá da chaminé situada à direita da Basílica de São Pedro.

Os cardeais votarão quatro vezes por dia a partir de quarta-feira, mas podem decidir organizar uma primeira votação na tarde desta terça-feira, como aconteceu no último conclave, há quase oito anos. Neste caso, a fumaça será negra. Mas quando um candidato alcançar os 77 votos necessários para ser eleito e aceitar assumir a responsabilidade, a fumaça será branca e estará acompanhada pelo som dos sinos de São Pedro, seguido pelo restante das igrejas de Roma.

O novo pontífice escolherá então o nome com o qual deseja governar e vestirá pela primeira vez a sotaina branca para ser apresentado a Roma e ao mundo. Ele pronunciará sua primeira mensagem "urbi et orbi" na sacada do Palácio Apostólico.