Porto Príncipe - A embaixada dos Estados Unidos em Porto Príncipe confirmou neste domingo a detenção de dez americanos no Haiti, um a mais que a última cifra comunicada pelas autoridades locais, suspeitos do tráfico de 33 crianças com idades compreendidas entre dois meses e 12 anos.
[SAIBAMAIS]"Diplomatas americanos visitaram os detidos e mantêm comunicação com as autoridades haitianas", informou a embaixada em comunicado.
O grupo formado por homens e mulheres pertencentes a uma igreja batista foi detido perto da fronteira dominicana, na companhia das crianças, havia anunciado, antes, o ministro para Assuntos Sociais e Trabalho, Yves Christallin.
"Isso é um roubo, não uma adoção", afirmou, enfatizando que, para uma criança deixar o Haiti, é necessária uma autorização do Instituto do Bem-Estar Social.
Segundo Christallin, dois pastores, um no Haiti e outro em Atlanta (sudeste dos Estados Unidos), estão igualmente envolvidos neste caso.
Os cidadãos americanos permanecem detidos na Direção Central da polícia judicial de Porto Príncipe, com dois cúmplices haitiano, informou o diretor-geral da polícia, Mario Andresol.
"Não temos nada a ver com isso. É exatamente contra isso que tentamos lutar", defendeu-se Laura Silsby, uma das dirigentes do grupo, em uma entrevista neste domingo ao jornal Idaho Press-Tribune.
"Diante da situação caótica em que o governo haitiano se encontra, queríamos simplesmente fazer o que nos parecia justo. Viemos ao Haiti para ajudar a quem não tem nenhum recurso. Estamos seguros de que a verdade aparecerá e rezamos por isso", acrescentou Silsby, falando à CNN, que conseguiu entrevistá-la nas dependência da polícia em Porto Príncipe.
"Deus nos dá força e consolo", afirmou, por sua parte, Carla Thompson, outra integrante do grupo. "Estamos muito bem e levamos a bíblia conosco".
Uma investigação foi aberta para determinar em que circunstâncias os americanos conseguiram as crianças, que foram transferidas para um abrigo em Croix-des-Bouquets, norte de Porto Príncipe.
Os americanos foram apresentados como membros de uma organização religiosa de caridade chamada "New Life Children's Refuge", com sede no estado de Idaho (noroeste dos Estados Unidos).
Várias crianças foram adotadas desde o terremoto de 12 de janeiro. As autoridades americanas pediram aos futuros pais adotivos de crianças haitianas que tenham paciência, pois são necessários procedimentos transparentes no processo de adoção para evitar erros e tráfico de crianças.
Por outro lado, o exército americano confirmou ter suspendido os voos de retirada dos haitianos gravemente feridos durante o terremoto enquanto aguarda uma decisão sobre quem se encarregará das despesas com o tratamento deles nos Estados Unidos.
"Cancelamos temporariamente esses voos de evacuação de haitianos, mas temos meios de retomá-los", afirmou o capitão Kevin Aandahl, porta-voz da Transcom, a unidade de gestão dos transportes do Pentágono, em correspondência enviada à AFP.
A informação corrobora uma notícia divulgada neste sábado pelo jornal The New York Times.
Citando fontes militares, o jornal informa que os voos militares com pessoas feridas na coluna, com queimaduras e outros ferimentos graves foram interrompidos na quarta-feira passada depois que o governador da Flórida, Charlie Crist, pediu apoio do governo federal para pagar pelos cuidados das vítimas do terremoto.
Até agora, os hospitais da Flórida trataram mais de 500 pessoas, incluindo um menino resgatado dos escombros com o crânio e várias costelas quebradas.
Os voos para outros estados que recebiam pacientes haitianos também foram suspensos.
O cancelamento poderá ser catastrófico para os pacientes, afirmou o dr. Berth Green, um dos fundadores do Projeto Medishare para o Haiti, uma organização sem fins lucrativos associada à Miller School of Medicine da Universidade de Miami, que realiza as retiradas de feridos.
Crist não especificou o quanto custa à Flórida o serviço médico dado, mas o número e a complexidade dos casos eleva a cifra a vários milhões de dólares, garantiu.
Este gasto não previsto acontece numa conjuntura economicamente complicada para a Flórida.