PORTO PRÍNCIPE - O Haiti tentava projetar-se no futuro, nesta sexta-feira, com os mercados começando a fervilhar de atividades e a reconstrução se acentuando, ao receber a segunda visita de um chefe de Estado estrangeiro desde o terremoto, o presidente do Equador.
Rafael Correa, cujo país ocupa a presidência rotativa da Unasul (União das Nações da América do Sul), chegou nesta sexta-feira às 14H30 (19H30 GMT) em Porto Príncipe para passar a noite no campo da Minustah, a Missão de estabilização da ONU, e oferecer ao presidente René Préval ajuda humanitária.
"É uma tragédia", declarou Correa ao sair do avião. "Para o mundo inteiro, o Haiti é, hoje, sinônimo de vítimas, de dor, mas também de esperança", acrescentou.
O tremor de 12 de janeiro fez mais de 170.000 mortos, devastando a capital haitiana.
Nas ruas, uma atividade febril surge das ruínas: reparo das linhas de telefone, lojas reabertas, engarrafamentos.
Quantidades cada vez maiores de restos de desmoronamento são limpos por comboios de caminhões brancos com a marca da ONU, escoltados por capacetes azuis armados.
Os pequenos comerciantes se apressam, apesar das dificuldades. "Não há muitos compradores, mas um grande número de vendedores", destaca Rose Gardy-Joseph, sentada ao lado de um cesto cheio de bombons coloridos, queijo e gaurdanapos, numa rua de Pétion-Ville.
Os haitianos começam a pensar no futuro.
A rádio local Signal FM (90.5) anuncia nesta sexta-feira a reabertura próxima de algumas escolas, mas sem indicar o nome dos estabelecimentos. Muitas foram destruídas ou acolhem os sem-teto.
"Sem educação, não há vida", afirma Faver Volmar, 29 anos, com o filho de seis anos, Richard, no colo.
"É preciso levantar escola nos acampamentos", comenta Jacky Lumarque, que coordena a missão presidencial encarregada da educação.
Outro símbolo de esperança: a equipe de futebol do Haiti enfrentará uma seleção de antigas glórias do campeonato alemão no dia 7 de março em Augsburg, Alemanha, numa partida com renda a ser revertida para a reconstrução de infraestruturas do futebol haitiano, muito popular e também destruído pelo terremoto.
Nesta sexta-feira, Gary Nicolas, vice-presidente da Federação haitiana de futebol (FHF) explicou à AFP que a organização perdeu "30 colaboradores" e que muitos jogadores "perderam tudo ou quase tudo" no tremor. Grande parte dos campos estão sendo ocupados, agora, por milhares de refugiados.
As chances de encontrar sobreviventes tornam-se mais raras.
Darlene Etienne, 16 anos, salva quarta-feira pela Defesa Civil francesa, é a última, até agora, a ser retirada dos escombros.
"Várias equipes médicas registraram casos mais numerosos de diarreia nos últimos dias", declarou um porta-voz da OMS, Paul Garwood, durante entrevista à imprensa em Genebra.
"Há, também, informações sobre casos de sarampo e tétano", disse, anunciando uma campanha de vacinação na próxima semana.
Outras chagas, menos visíveis, começam a ser levadas em conta: sintomas pós-traumáticos, ligados ao choque causado pela tragédia e aos milhares de corpos amontoados nas ruas.
Mas, 17 dias após o tremor, alguns socorristas estrangeiros já se preparam para partir, como a equipe médica russa, que desmontava seu hospital de campanha.