Jornal Correio Braziliense

Haiti

Descoberta de novos sobreviventes aumenta tensão em Porto Príncipe

PORTO PRÍNCIPE - As notícias de novas descobertas de sobreviventes passados 15 dias do terremoto que devastou o país estão deixando os haitianos ainda mais nervosos, em meio à já difícil situação da carência diária de alimentos, remédios e outras necessidades básicas.

"Está viva. Tem 16 anos e toda a vida pela frente", declarou o médico francês Michel Orcel diante do mais recente milagre registrado entre os escombros.

A menina Darlene Etienne foi tirada com vida das ruínas depois de ficar soterrada por toneladas de concreto durante 15 dias.

Ela foi salva por uma equipe de socorristas franceses e haitianos depois que vizinhos que passavam pelo local na noite de quarta-feira ouviram sua voz e chamaram os serviços de resgate. "Ela só disse ;obrigada;. Está muito fraca, ficou lá por 15 dias", contou o médico.

Darlene estava bastante desidratada, e seus batimentos cardíacos, muito baixos. Ela recebeu tratamento de emergência no local do resgate, e em seguida foi levada para o hospital de campanha montado pela França em Porto Príncipe.

Em uma cidade caótica e devastada, os próprios habitantes se tornaram os socorristas mais persistentes.

Milhares de moradores de Porto Príncipe se empenham em recuperar seus pertences, por menores que sejam, cavando as ruínas, na maioria das vezes, com as próprias mãos.

Isso multiplica as oportunidades de um alerta inesperado, vindo das profundezas do concreto, geralmente uma voz fraca pedindo socorro. Todos estão sempre atentos. "Esse terremoto trouxe esse algo novo, esse serviço de inteligência popular", explica o porta-voz da Defesa Civil francesa, comandante Samuel Bernes.

Dezenas de socorristas franceses que permanecem em Porto Príncipe decidiram nesta semana interromper suas rondas pela cidade, mas trocaram números de celular com muitos moradores que indicam ruídos, de rumores.

Uma simples mensagem de texto pode desencadear uma nova busca, a maior parte das vezes sem resultado.

As forças norte-americanas anunciaram na terça-feira o resgate de um homem de 31 anos, com uma perna quebrada, e ressaltaram que havia passado 12 dias sepultado.

"Não sabemos neste momento quanto tempo passou sob os escombros. O mais importante é que foi resgatado", indicou no dia seguinte em uma entrevista coletiva à imprensa o porta-voz norte-americano Gordon Duguid.

Em Porto Príncipe, não são apenas os moradores e os socorristas que trabalham contra o relógio, há também os saqueadores, que em muitos momentos arriscam suas vidas entrando em edifícios que podem desabar a qualquer momento. Às vezes, os alertas têm uma origem mais confusa.

Horas antes do resgate da jovem Darlene, surgiu a possibilidade de outra operação nas ruínas de um edifício da Universidade de Porto Príncipe, onde talvez tenham morrido centenas de estudantes no dia 12.

Os rumores indicavam que no porão do edifício seria possível encontrar um grupo de sobreviventes.

Em vez disso, foram encontrados cinco corpos em decomposição.

Às vezes, os vizinhos ligam para qualquer serviço de socorro para indicar uma prova de vida porque estão desesperados com o cheiro e com o risco sanitário desses corpos, consideram fontes oficiais haitianas.

Em outros casos, a chegada da imprensa serve para que os vizinhos peçam uma ajuda que ainda não chegou a bairros inteiros na enorme capital haitiana.

Quinze dias depois do terremoto, as esperanças de encontrar pessoas com vida diminuem. Mas se voltar a soar um alarme creível, os socorristas irão ao local. "Seja qual for a informação não podemos deixar de ir", disse Bernes.