Festival de Brasilia 2016

Confira crítica do filme 'Martírio', de Vincent Carelli

O longa-metragem, que faz parte da mostra competitiva, mostra índios contra 'bandidos'

Ricardo Daehn
postado em 24/09/2016 09:09
O longa-metragem, que faz parte da mostra competitiva, mostra índios contra 'bandidos'

Num ato de escambo imaginário (mas bem real), índios entregam milhares de quilômetros de terras para os brancos, em troca de desmonte de diálogos, aniquilamento de línguas, culturas e preponderância da soberba branca que referenda uma ;pacífica promiscuidade; na convivência dos índios (seres emprocesso de civilização). Tudo bizarro, mas efetivo, como comprova a narrativa do documentário pernambucano Martírio, crivado pelo talento do cineasta Vincent Carelli.

[SAIBAMAIS]Jesuítas e bandeirantes, historicamente, já apontavam a ;índole benigna; dos povos aos quais coube o flagelo de tratamento à la refugiados no Brasil. O documentário Martírio registra manobras visando terras, por parte dos brancos que são capazes de literalmente proverem o atropelamento dos índios. Carelli, com o detido estudo em torno de temas ramificados, pouco a pouco, chega à máxima do ex-procurador da República Aristides Junqueira: ;Gado vale mais do que gente;.

A trajetória é larga ; com exame de dados do código florestal, das maracutaias na afirmação dos moldes da PEC 215 e da visão dos índios como invasores ;, contemplando ainda a morte do guarani-kaiowá Nízio Gomes, em 2011, em Mato-Grosso do Sul, e a lacuna de caciques às mesas dasgrandes decisões.

Produzido em grupo com recursos da ;sociedade civil brasileira;, Martírio joga à luz tramoias, choros, mantras, impasses e inoperância; nisso ficam indigestos casos de sabotagem e propostas de assassinato, às claras, por seres que ocupam fétidas cadeiras do Congresso nas quais se deveriam defender interesses de índios, e sim, brasileiros.

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