A política é inevitável e o cinema reage ao momento político do país. Para Eryk Rocha, diretor de Cinema novo, documentário que abriu o 49; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a atualidade brasileira dialoga com a história recente do cinema nacional. Durante debate no hotel Kubitscheck Plaza nesta quarta (21/9), o cineasta contou como as ideias de um projeto coletivo que pautaram a cinematografia brasileira nos anos 1960 foram desmanteladas após o golpe militar mas forneceram material pra se pensar o país hoje.
Concebido com material de arquivo que contém entrevistas e cenas dos clássicos do Cinema Novo, o longa não tem imagens atuais. "Mas é curioso porque o filme, apesar de não ter nenhuma imagem formada hoje, quer falar do agora. O material de arquivo dá sentido às imagens. O desejo era confrontar essa experiência que é o filme com o espectador e que ele pudesse criar uma reflexão sobre o nosso tempo", disse Eryk.
Realizado sem patrocínio estatal, Cinema novo contou com o arquivo da Cinemateca brasileira e passeia por mais de 130 imagens de arquivos. Foram necessários nove anos para concluir o filme.
[SAIBAMAIS]Eryk Rocha também lembrou que hoje não há projeto coletivo de cinema em nenhum lugar do mundo. A cinematografia se tornou mais autoral especialmente no Brasil. O diretor lembrou a fala de Cacá Diegues no filme, quando explica que a coletividade que guiava os cineastas do cinema novo foi desmantelada pela ditadura.
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Na sequência, o que Eryk chama de cinema de invenção, feito por cineastas como Rogério Sganzerla, acabou por influenciar muito as gerações mais novas. "Acho que a gente, de pouco tempo para cá, está num espírito cinema novista de o país estar sendo retomado. Sempre ficou uma sombra pesada do cinema novo para minha geração, sempre houve certos estigmas que reduzem o sentido do movimento. O cinema de invenção sempre influenciou mais minha geração. Tem a ver com o momento do país", disse o diretor. "Hoje existem autores individuais. E a questão política se torna inevitável. Ela tá no nosso corpo, as pessoas estão tendo que se posicionar. Existe hoje um embate político muito forte na sociedade brasileira, existe um país em transe e isso, de certa forma, se conecta com o cinema novo. Me pergunto que cinema vai nascer disso, como cinema vai incorporar isso."