Marcado sempre pelas polêmicas, pelo debate aberto e a permanente participação do público, o 49; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começa hoje com a promessa de balançar a capital federal com o intenso tom político e contestador dos filmes exibidos até o próximo dia 27. Se as aguardadas produções que compõem a seleção das mostras ; a partir da terça-feira (20/9) ; devem mexer com o público, o longa escolhido para abrir a festa, em sessão para convidados, não poderia ser diferente. Aclamado em Cannes, Cinema novo, do diretor Eryk Rocha, é um manifesto de amor ao movimento que mudou o cinema brasileiro e uma proposta de reflexão sobre o Brasil.
;Pelo que notei, existe um desejo de resgatar uma tradição política do festival por parte da curadoria. E o espírito do meu filme está sintonizado com esse desejo;, comenta o diretor Eryk Rocha, nascido em Brasília e filho de ninguém menos que Glauber Rocha. ;É uma honra abrir o Festival de Brasília com esse filme, nesse momento histórico do país. Brasília é a cidade onde nasci. E o longa começa a nascer aí, isso é realmente muito forte, muito emocionante, agora ele vai começar a ganhar vida e sentido aqui no Brasil;, comenta Eryk.
Documentário, Cinema novo conta a história do movimento que renovou o cinema nacional e teve nomes como o próprio Glauber Rocha, Carlos Diegues, Nelson Pereira do Santos, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra, Walter Lima Jr. e Paulo César Saraceni.
Longe de uma postura didática ou puramente historicista, Cinema novo recebeu o prêmio Olho de ouro no Festival de Cannes deste ano. Mais do que um longa sobre o movimento, o filme é um diálogo de gerações, em busca de compreender e representar o país nas telas do cinema, acredita Eryk. ;Não me interessa um filme sobre coisas, sobre nada. O sobre já impõe uma relação totalizante;, comenta o diretor. ;É uma carta de amor ao cinema novo, ao cinema, a essa geração e ao Brasil.;
A vontade de produzir um filme sobre o movimento, conta Eryk, surgiu entre os anos de 2007 e 2008 quando ele, em reunião com a equipe do Canal Brasil (co-produtor do filme), notou que não havia uma produção que falasse sobre a dimensão do cinema novo. ;A primeira urgência, o que nos impulsionou foi a necessidade de a filmar os cineastas vivos, pessoas que estavam indo embora, ficando mais velhas e era urgente sair para o campo, para poder filmar essas conversas;, lembra.
Se havia urgência para registrar os grandes nomes do movimento ainda vivos, não existia, porém, pressa em transformar toda a pesquisa em filme. ;Entre 2007 e 2009, eu filmei essas 15, 20 conversas e o material ficou descansando durante sete anos. Brinco que esse material ficou sonhando. E eu fiquei amadurecendo o filme, decantando, pesquisando.;
Para entender o Brasil
;Eu fiz o filme com algumas forças vulcânicas que me moveram. Queria entender de onde vim, não só de onde eu vim no sentido afetivo, mas de onde eu vim na história política e cinematográfica do Brasil. E fiz esse filme para entender também por que fazia cinema, por que fazer cinema neste país em que a gente vive;, confessa Eryk Rocha.
Falar de cinema novo, acredita Eryk, era também uma oportunidade de pensar o presente, o Brasil e o cinema produzido aqui hoje. ;Não interessa no filme um caminho de historicismo ou algo didático, interessa ver como o movimento dialoga visceralmente ainda com o país, como continua ecoando no Brasil contemporâneo, nessa medida de colocar o próprio cinema em movimento. E existe um espírito cinema novista retomando no Brasil.;
O diretor acredita que a intensidade do momento político brasileiro é propício para essa reflexão. ;Estamos com essa urgência, é muito difícil qualquer pessoa não tomar posição hoje, não se colocar ou a política não afetar o cotidiano, o próprio corpo;, aponta.
A partir daí existe a necessidade, segundo Eryk, de reinventar formas de pensar o país. ;Temos a necessidade do cinema ou da arte inventarem novas linguagens para revelar ou discutir um novo momento para o país, da mesma forma que eles inventaram, no cinema novo, novas linguagens. A pergunta que fica é ;Como a gente, a minha geração, vai dialogar com o Brasil de hoje?;;, questiona.
O curta do dia
Improvável encontro, de Lauro Escorel, também será exibido hoje. O filme realizado inteiramente sobre fotografias de José Medeiros e Thomaz Farkas conta as trajetórias, a amizade e a influência que os dois artistas tinham entre si. Por meio da carreira de Medeiros e Farkas, Escorel mostra o início da fotografia moderna brasileira nos anos 1940 e 1950. O trabalho dos dois fotógrafos ajudou a consolidar o modo como o país foi representado visualmente. Em Improvável encontro, fica evidente também a vontade de mostrar o Brasil, que depois apareceu na obra cinematográfica dos dois artistas.
O Correio no festival
Além da cobertura diária no jornal impresso, a equipe do Correio produzirá conteúdo ao vivo sobre o Festival e um hotsite criado especialmente para o evento. Nas páginas oficiais do Facebook do Correio (Correio Braziliense) e da Editoria de Cultura (Cultura Correio Braziliense), transmissões ao vivo diretamente do Cine Brasília e um programa diário sobre a festa do cinema brasileiro farão parte da cobertura. No Snapchat, os perfis snapcorreio e culturacb trarão flashes de tudo o que movimentar o festival. Além disso, os perfis do Twitter (@correio e @CulturaCB) ou com a #cbnofestival; e no Instagram (@cbfotografia) completam a programação. O hot site com toda a cobertura, programação e vídeos do festival é http://www.correiobraziliense.com.br/especiais/festival-de-brasilia