Para a maior parte das pessoas, o clima natalino engata no início de novembro. É nessa época que as lojas inauguram a decoração festiva. Logo depois, os colegas de trabalho marcam a festa de confraternização e, de repente, as crianças começam a pensar o que vão pedir para o Papai Noel. Apesar de todo mundo amar o clima, essa atmosfera de reflexão, de fartura e de celebração só dura até o réveillon e aparece novamente no fim do próximo ano.
Para alguns, porém, o Natal se estende para além desses quase dois meses. Em galpões, escritórios e salas de costura de Brasília, há um grupo de entusiastas que começa a pensar como será a mágica do Papai Noel a partir de março. Fazem reuniões, planejamentos e projetam novas estratégias para deixar o próximo dezembro ainda mais festivo. Quando chega o primeiro dia de agosto, todo mundo começa a colocar a mão na massa. Fabricam enfeites, consertam a roupa do bom velhinho, aquecem as cordas vocais e pensam na decoração perfeita. Quando o Natal chega, o trabalho se intensifica, mas eles aproveitam para curtir como todos. Tiram o início do ano de férias. Quando fevereiro acaba, começam tudo de novo. A Revista foi atrás de histórias de brasilienses que trabalham arduamente durante todo o ano para que o resto da cidade possa se envolver no clima natalino.
Por onde tudo começa
Os mais céticos culpam o comércio por desvirtuar o verdadeiro significado do Natal: em vez da data representar um momento de reflexão e agradecimento, torna-se um feriado para consumir e presentear. Esse argumento, obviamente, tem fundamento. Mas é preciso ser muito incrédulo, ao entrar em um shopping decorado, para não se envolver no clima festivo. Afinal, são eles os primeiros a tirar os enfeites do armário e anunciar o início da temporada. Também é uma das poucas oportunidades de as crianças conversarem diretamente com o Papai Noel.
Para criar esse clima e envolver os consumidores, muito dinheiro e mão de obra precisam ser investidos. "Evidentemente, o maior volume de vendas do ano ocorre no Natal. Por isso, nos preparamos quase 12 meses para isso. Não somente contratando pessoal e preparando a logística, devido ao aumento de visitantes - chegam a mil em um dia -, mas também para reforçar a atmosfera agradável para quem passeia pelo shopping", explica Iara Rocha, diretora de marketing de um shopping da cidade. Ao todo, envolvem-se no processo 115 pessoas. Isso inclui quem trabalha com as promoções especiais, com o evento de chegada do bom velhinho e decoração do ambiente.
Os preparativos se iniciam em março, com a avaliação da última campanha, a definição do tema de decoração para o próximo Natal e o fechamento de contratos com os fornecedores - inclusive o Papai Noel. Em julho, autorizam o mix de enfeites finais e aprovam o orçamento. A partir de setembro, a mágica começa: recebem o material e, 10 dias antes do fim de outubro, tampam os 330m; da praça central com uma lona enorme e começam a armar a decoração durante a madrugada.
Todas as peças vêm de uma empresa de São Paulo e, para montá-las, uma equipe especializada de 10 pessoas (contando com eletricistas e marceneiros) desembarca no local. Outros cinco carregadores locais são contratados para descer as caixas, que enchem três carretas. Eles têm autorização do shopping para entrar depois das 22h, quando as portas das lojas se fecham, e, normalmente, ficam até as 10h do dia seguinte, quando elas voltam a abrir. Usam guindastes, fazem rapel e abusam da plataforma elevatória para montar as cinco árvores (uma com 10m de altura), os seis Papais Noéis e um urso inflável de 12m. Quando acabam tudo, 18 dias depois, todos podem finalmente dizer: "Então, é Natal".
Entre uma reza e outra
A fábrica do Papai Noel tem endereço fixo em Brasília. Fica no Lago Sul e está em funcionamento 10 meses por ano. Cerca de 70 ajudantes do bom velhinho se reúnem das 20h às 23h, durante cinco dias na semana, para cortar, pintar, lixar e costurar enfeites e presentes de Natal. O acabamento é profissional. A finalidade? Vender no Bazar do Rema, a Casa do Recanto de Maria.
A tradição do Centro Espírita Brasiliense ocorre há 38 anos. Ao longo do tempo, a feira foi crescendo e virando tradição na cidade. No início, era pequena e funcionava no auditório do próprio local. Hoje, reúne 5 mil pessoas durante o primeiro fim de semana de dezembro, no Centro de Convenções - este ano, as atividades se encerram amanhã. É o principal evento do instituto. Com o dinheiro arrecado, eles mantêm a sede e sustentam todas as atividades sociais apoiadas pelos frequentadores.
Para garantir a qualidade dos produtos, a equipe organizadora cobra assiduidade dos voluntários, normalmente adeptos das atividades religiosas do centro espírita. Jovens, adultos e idosos abdicam de suas noites para produzir mais de 5.000 peças a serem vendidas. Por isso, lá formam uma família. Assistem ao telejornal juntos, torcem por seus times e também desabafam sobre a vida.
Além disso, desenvolvem habilidades manuais que, muitas vezes, permaneceriam não descobertas. "As pessoas vão ao bazar procurar presentes para os familiares e para criar o clima de Natal em casa. Mas quem ganha somos nós, que formamos um grupo unido durante todo o ano com a desculpa de fazer os enfeites", conclui Maurício Maia coordenador do Bazar.
Quem canta os males espanta
Você pode enfeitar a árvore, encher a casa de luzinhas e se vestir de Papai Noel. Mas se Noite Feliz não estiver tocando na rádio, dificilmente o clima fica perfeito. Sabendo disso, a Serenata de Natal surgiu há 34 anos para espalhar a alegria do fim de ano por Brasília - em uma época que a cidade ainda fazia nas últimas semanas de dezembro. O coral de 100 vozes chega nas quadras assim que escurece, toca um sino, reúne-se na praça e começa a cantar as clássicas como Boas Festas, Rudolph the Rednosed Reindeere e Então é Natal.
Alguns moradores descem e vão ver mais de perto, outros ficam na janela observando e há quem se junte ao grupo. Há lugares que reúnem 20 pessoas e outros que chegam a 300 curiosos. "As demonstrações de emoção são as mais diversas. Vemos choros, sorrisos e manifestações apenas no olhar. O Natal é uma festa de família. Difícil você passar imune a esse sentimento: porque está longe, alegre por estar perto ou com saudade de quem não está mais por aqui", avalia Malu Almeida, uma das organizadoras. O grupo canta por 40 minutos e parte para outro local no Plano Piloto. Repete a rotina por seis dias.
Os voluntários acabam a turnê sem voz e cansados. Mas pelo menos a metade volta no ano seguinte para fazer tudo de novo. Eles passam seis meses ensaiando, na Universidade de Brasília, duas vezes por semana, para espalhar a alegria do Natal. A maioria nunca cantou na vida, mas aprende letras, em português, inglês e latim. Encontra a entonação perfeita da voz em apenas 22 encontros. Sai do projeto com um repertório de 10 músicas na cabeça e o conhecimento técnico. "Todo mundo entra porque gosta do Natal. Mas as pessoas saem do projeto renovadas pela energia que os ouvintes da serenata passam para a gente", avalia Malu.
Veludo vermelho, botão dourado e barba fake
Não existe Natal sem Papai Noel. Até dezembro acabar, a figura do bom velhinho está por toda a parte. Até mesmo sentando em uma poltrona nos shoppings. As pessoas têm tanto encantamento por ele que não se contentam em contemplar a sua personalidade. Eles querem participar. Por isso, sempre há aquele pai ou avó mais empolgado que gosta de representar o personagem no dia da ceia. Alugam fantasia, entregam presentes e fingem para a criançada que eles são o original do Polo Norte.
Sabendo disso, as lojas de aluguel especializadas têm um estoque de roupas para suprir todos os desejos dos apaixonados por Natal. Nos 800 m; da Arte em Fantasia, o maior endereço do Distrito Federal do ramo, um espacinho especial foi reservado para os uniformes e os gorros vermelhos. Tem 15 modelos de fantasia, que variam do simples ao luxo. Tudo depende do material usado. As de veludo e de botão dourado são as mais caras, saem por R$ 250, o dia. As de cetim e sem pelúcia não são alugadas por menos de R$ 80 a diária.
O valor não alterna apenas por conta do material, mas também se avalia o estilo da peça. Há modelos mais clássicos, mais modernos. Para homens e mulheres. Acredite se quiser: tem até um sexy. Os interessados podem alugar, por fora, barbas, botas com veludo nas pontas e até um sino para compor o visual. Por incrível que pareça, não sobra nenhuma peça nas araras na véspera de Natal.
O movimento começa na última semana de outubro, quando as primeiras reservas começam a chegar por e-mail, e termina somente em 24 de dezembro, quando as portas de loja se fecham para o feriado. "Tem quem se programe e reserve com um mês de antecedência. Mas sempre chegam aqueles desesperados de última hora. Normalmente, porém, as peças estão todas reservadas 10 dias antes do Natal", explica Ícaro Salles, gerente da loja. Apesar de ficarem expostas o ano inteiro, as fantasias de Papai Noel só têm procura por dois meses. Durante o resto do ano, passam por manutenção. Além disso, as costureiras desenvolvem novos modelos. Naquele lugarzinho, o bom velhinho tem espaço o ano inteiro.
Os mais céticos culpam o comércio por desvirtuar o verdadeiro significado do Natal: em vez da data representar um momento de reflexão e agradecimento, torna-se um feriado para consumir e presentear. Esse argumento, obviamente, tem fundamento. Mas é preciso ser muito incrédulo, ao entrar em um shopping decorado, para não se envolver no clima festivo. Afinal, são eles os primeiros a tirar os enfeites do armário e anunciar o início da temporada. Também é uma das poucas oportunidades de as crianças conversarem diretamente com o Papai Noel.
Para criar esse clima e envolver os consumidores, muito dinheiro e mão de obra precisam ser investidos. "Evidentemente, o maior volume de vendas do ano ocorre no Natal. Por isso, nos preparamos quase 12 meses para isso. Não somente contratando pessoal e preparando a logística, devido ao aumento de visitantes - chegam a mil em um dia -, mas também para reforçar a atmosfera agradável para quem passeia pelo shopping", explica Iara Rocha, diretora de marketing de um shopping da cidade. Ao todo, envolvem-se no processo 115 pessoas. Isso inclui quem trabalha com as promoções especiais, com o evento de chegada do bom velhinho e decoração do ambiente.
Os preparativos se iniciam em março, com a avaliação da última campanha, a definição do tema de decoração para o próximo Natal e o fechamento de contratos com os fornecedores - inclusive o Papai Noel. Em julho, autorizam o mix de enfeites finais e aprovam o orçamento. A partir de setembro, a mágica começa: recebem o material e, 10 dias antes do fim de outubro, tampam os 330m; da praça central com uma lona enorme e começam a armar a decoração durante a madrugada.
Todas as peças vêm de uma empresa de São Paulo e, para montá-las, uma equipe especializada de 10 pessoas (contando com eletricistas e marceneiros) desembarca no local. Outros cinco carregadores locais são contratados para descer as caixas, que enchem três carretas. Eles têm autorização do shopping para entrar depois das 22h, quando as portas das lojas se fecham, e, normalmente, ficam até as 10h do dia seguinte, quando elas voltam a abrir. Usam guindastes, fazem rapel e abusam da plataforma elevatória para montar as cinco árvores (uma com 10m de altura), os seis Papais Noéis e um urso inflável de 12m. Quando acabam tudo, 18 dias depois, todos podem finalmente dizer: "Então, é Natal".
Entre uma reza e outra
A fábrica do Papai Noel tem endereço fixo em Brasília. Fica no Lago Sul e está em funcionamento 10 meses por ano. Cerca de 70 ajudantes do bom velhinho se reúnem das 20h às 23h, durante cinco dias na semana, para cortar, pintar, lixar e costurar enfeites e presentes de Natal. O acabamento é profissional. A finalidade? Vender no Bazar do Rema, a Casa do Recanto de Maria.
A tradição do Centro Espírita Brasiliense ocorre há 38 anos. Ao longo do tempo, a feira foi crescendo e virando tradição na cidade. No início, era pequena e funcionava no auditório do próprio local. Hoje, reúne 5 mil pessoas durante o primeiro fim de semana de dezembro, no Centro de Convenções - este ano, as atividades se encerram amanhã. É o principal evento do instituto. Com o dinheiro arrecado, eles mantêm a sede e sustentam todas as atividades sociais apoiadas pelos frequentadores.
Para garantir a qualidade dos produtos, a equipe organizadora cobra assiduidade dos voluntários, normalmente adeptos das atividades religiosas do centro espírita. Jovens, adultos e idosos abdicam de suas noites para produzir mais de 5.000 peças a serem vendidas. Por isso, lá formam uma família. Assistem ao telejornal juntos, torcem por seus times e também desabafam sobre a vida.
Além disso, desenvolvem habilidades manuais que, muitas vezes, permaneceriam não descobertas. "As pessoas vão ao bazar procurar presentes para os familiares e para criar o clima de Natal em casa. Mas quem ganha somos nós, que formamos um grupo unido durante todo o ano com a desculpa de fazer os enfeites", conclui Maurício Maia coordenador do Bazar.
Quem canta os males espanta
Você pode enfeitar a árvore, encher a casa de luzinhas e se vestir de Papai Noel. Mas se Noite Feliz não estiver tocando na rádio, dificilmente o clima fica perfeito. Sabendo disso, a Serenata de Natal surgiu há 34 anos para espalhar a alegria do fim de ano por Brasília - em uma época que a cidade ainda fazia nas últimas semanas de dezembro. O coral de 100 vozes chega nas quadras assim que escurece, toca um sino, reúne-se na praça e começa a cantar as clássicas como Boas Festas, Rudolph the Rednosed Reindeere e Então é Natal.
Alguns moradores descem e vão ver mais de perto, outros ficam na janela observando e há quem se junte ao grupo. Há lugares que reúnem 20 pessoas e outros que chegam a 300 curiosos. "As demonstrações de emoção são as mais diversas. Vemos choros, sorrisos e manifestações apenas no olhar. O Natal é uma festa de família. Difícil você passar imune a esse sentimento: porque está longe, alegre por estar perto ou com saudade de quem não está mais por aqui", avalia Malu Almeida, uma das organizadoras. O grupo canta por 40 minutos e parte para outro local no Plano Piloto. Repete a rotina por seis dias.
Os voluntários acabam a turnê sem voz e cansados. Mas pelo menos a metade volta no ano seguinte para fazer tudo de novo. Eles passam seis meses ensaiando, na Universidade de Brasília, duas vezes por semana, para espalhar a alegria do Natal. A maioria nunca cantou na vida, mas aprende letras, em português, inglês e latim. Encontra a entonação perfeita da voz em apenas 22 encontros. Sai do projeto com um repertório de 10 músicas na cabeça e o conhecimento técnico. "Todo mundo entra porque gosta do Natal. Mas as pessoas saem do projeto renovadas pela energia que os ouvintes da serenata passam para a gente", avalia Malu.
Veludo vermelho, botão dourado e barba fake
Não existe Natal sem Papai Noel. Até dezembro acabar, a figura do bom velhinho está por toda a parte. Até mesmo sentando em uma poltrona nos shoppings. As pessoas têm tanto encantamento por ele que não se contentam em contemplar a sua personalidade. Eles querem participar. Por isso, sempre há aquele pai ou avó mais empolgado que gosta de representar o personagem no dia da ceia. Alugam fantasia, entregam presentes e fingem para a criançada que eles são o original do Polo Norte.
Sabendo disso, as lojas de aluguel especializadas têm um estoque de roupas para suprir todos os desejos dos apaixonados por Natal. Nos 800 m; da Arte em Fantasia, o maior endereço do Distrito Federal do ramo, um espacinho especial foi reservado para os uniformes e os gorros vermelhos. Tem 15 modelos de fantasia, que variam do simples ao luxo. Tudo depende do material usado. As de veludo e de botão dourado são as mais caras, saem por R$ 250, o dia. As de cetim e sem pelúcia não são alugadas por menos de R$ 80 a diária.
O valor não alterna apenas por conta do material, mas também se avalia o estilo da peça. Há modelos mais clássicos, mais modernos. Para homens e mulheres. Acredite se quiser: tem até um sexy. Os interessados podem alugar, por fora, barbas, botas com veludo nas pontas e até um sino para compor o visual. Por incrível que pareça, não sobra nenhuma peça nas araras na véspera de Natal.
O movimento começa na última semana de outubro, quando as primeiras reservas começam a chegar por e-mail, e termina somente em 24 de dezembro, quando as portas de loja se fecham para o feriado. "Tem quem se programe e reserve com um mês de antecedência. Mas sempre chegam aqueles desesperados de última hora. Normalmente, porém, as peças estão todas reservadas 10 dias antes do Natal", explica Ícaro Salles, gerente da loja. Apesar de ficarem expostas o ano inteiro, as fantasias de Papai Noel só têm procura por dois meses. Durante o resto do ano, passam por manutenção. Além disso, as costureiras desenvolvem novos modelos. Naquele lugarzinho, o bom velhinho tem espaço o ano inteiro.