Jornal Correio Braziliense

Especial 1109

No DF, a realidade dos atentados desafiava a compreensão



No dia em que os Estados Unidos sofreram um dos piores traumas de sua história, Brasília acompanhou ao vivo, como o resto do mundo. Tudo foi tão inesperado que algumas pessoas confundiram realidade e ficção. O cineasta Vladimir Carvalho, por exemplo, assistia à tevê sem áudio e imaginou que as imagens fossem de algum filme. ;Viciado em cinema, achei que tinham pregado uma pegadinha na humanidade. Talvez um golpe, como quando anunciaram a invasão dos marcianos na Terra;, lembra, referindo-se à transmissão de Guerra dos mundos pelo rádio, em 1938, com narração do cineasta Orson Welles.



Então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello recebeu as primeiras informações pelos meios de comunicação e ficou atônito. ;Foi algo que não se poderia imaginar: um verdadeiro império sendo atacado no próprio solo.; Para o ministro, os ataques resultaram em uma restrição das liberdades. ;Houve um retrocesso em termos de república, de democracia. O maior reflexo foi o da segurança. Mesmo ministros de Estado foram obrigados a tirar os sapatos para entrar nos EUA, depois.;

O embaixador José Botafogo Gonçalves , vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), era subsecretário do Itamaraty para Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior. Para ele, o grande impacto foi uma quase psicose nos EUA. ;O governo adotou medidas de prevenção e controle do terrorismo que chegam a níveis paranoicos;, avalia. A partir daquele momento, toda discussão feita no MRE teve de levar em conta os novos sentimentos dos americanos. ;Os EUA ficaram muito sensíveis a qualquer movimentação. E esse agora é um elemento permanente.;

A diretora da escola Casa Thomas Jefferson, Ana Maria Assumpção, recebeu a notícia na sala dos professores, num intervalo entre aulas. ;Ligamos a televisão e, aos poucos, percebemos que não era acidente. Assistimos praticamente ao vivo quando a segunda torre foi atingida. Aí, veio a sensação de que o mundo não seria mais o mesmo;, recorda.

Ana Maria se lembra de cada detalhe daquela manhã. ;Fiquei em pânico. Tenho um filho que mora em São Paulo, mas, naquele dia, ele estava em um voo de Amsterdã para Nova York. Passei algumas horas aflita.; Por volta das 13h em Brasília, o filho ligou e explicou que, quando sobrevoavam o Reino Unido, foram avisados dos atentados e retornaram para a Holanda. ;Apesar de não sermos vulnenáveis a atentados, esta é uma das cidades mais cosmopolitas do Brasil. Temos muito contato com o exterior, por conta das representações diplomáticas. O sentimento foi mais forte.;