Jornal Correio Braziliense

Especial 1109

Depois do pesadelo, NY se recuperou, até retomar o ritmo frenético



;Nova York se recuperou e está mais vibrante que nunca;, garante o nova-iorquino Edward Borges, ao comentar os 10 anos que se passaram desde os atentados ao World Trade Center. Robert Aaron Polner, relações públicas da New York University, estava em Manhattan no dia trágico e garante que ainda há um sentimento escondido ; de medo e de ódio ;, que de vez em quando ressurge. Ambos têm razão.



A vida, para os moradores, continua como sempre ; aproveitando, por exemplo, o US Open, tradicional torneio de tênis que começou em 29 de agosto e termina amanhã. E é lá que estão sendo filmados 60 longas e seriados de televisão. Manhattan, Soho, Brooklin, Broadway, Central Park e outros lugares importantes mantiveram viva a agitação comercial, cultural e comportamental típica de um dos ambientes mais democráticos da terra. Entretanto, embora pareça óbvio, a capital já não é a mesma. Traumas sempre deixam marcas, ainda mais tratando-se de uma tragédia de proporções tão grandes.

Passados mais de 3,6 mil dias, um constante e incômodo temor paira no ar: haverá um novo atentado? O barulho de prédios caindo e o eterno luto pela perda de pessoas queridas rondam o dia a dia desses norte-americanos. Há quem não goste de falar sobre o assunto. Os que concordam falar resistem a princípio e fazem longas pausas. Carie Lemack, cofundadora da instituição Global Survivor Network, perdeu a mãe, que trabalhava nas torres, quando tinha 26 anos. Hoje, ela prefere não insistir no tema. ;Todo aniversário (do 11 de Setembro) sou obrigada a me lembrar que minha mãe morreu, e é muito difícil;, diz. ;Eu nunca mais vou poder comemorar o meu aniversário com ela. Nem meus filhos terão avó ;, comenta, emocionada.

Desde então, Carie tem dedicado a vida ao combate ao terrorismo. Lançou um filme sobre sobreviventes de atos terroristas no Paquistão, que lhe rendeu uma ida ao Festival de Cinema em Cannes, na França, e foi produtora executiva de Killing in the name ; o filme, indicado ao Oscar 2011 como melhor documentário, retrata a história de um homem-bomba que explode durante um casamento. ;Bin Laden morreu, mas temos muito trabalho a fazer, pois ainda há muito ódio espalhado;, lamenta.

Não é difícil entendê-la. O professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Eiiti Sato explica que o terrorismo provoca grande sentimento de vulnerabilidade nas pessoas. ;O terrorismo não tem aviso prévio e não visa pessoas públicas. A ideia que fica é: ;ninguém está seguro;;, analisa. ;O que ocorreu em Nova York é como um golpe, marca para sempre;, acrescenta.

Robert Aaron, da New York University, se dirigia ao World Trade Center para um evento, mas só chegou lá após o primeiro avião já ter atingido uma das torres. ;Parecia um cigarro aceso. De repente, o prédio começou a desabar. Foi um pandemônio. E eu estava no meio daquilo;, lembra. ;As pessoas estavam fora de controle, havia muita fumaça e poeira;, diz ele, que correu rumo ao norte da cidade. ;Depois desse dia, achava que poderia ocorrer um ataque em todo lugar que ia, e qualquer barulho mais forte me fazia pular. Até hoje, escuto o barulho das torres desmoronando;, relata.

Alertas e câmeras
Para o webdesigner Jason Osman, 26 anos, o reforço da segurança é uma das mudanças mais visíveis em Nova York. ;Há uma maior presença da polícia nos bairros considerados vulneráveis, e volta e meia são lançados os alertas de perigo. Muitas vezes passo por situações em que penso: são atentados.; Outros acham que as pessoas ficaram mais paranoicas. ;Temos câmeras por todos os lados, e a polícia checa a esmo as mochilas nas entradas do metrô ;, conta o vendedor Mozz Manzoor, 30. ;Eu fiquei com pesadelos em que apareciam cenários de guerras. Me imaginava numa rua cercada por prédios que caíam;, revela.

Flávia Cattan-Naslausky, diretora de estratégia de câmbio do Banco RBS, passou por momentos de sufoco e angústia ao saber que o marido de uma amiga estava na torre. ;Ela me ligou depois da primeira batida e eu fui tentar entrar em contato com ele, enquanto ficava com ela em outra linha. Como que por algum milagre, o marido da minha amiga atendeu. Ele conseguiu descer a tempo, antes de o prédio desabar;, narra. Flávia perdeu vários conhecidos que estavam nas torres. Mas afirma que a atitude dos americanos tem sido a de olhar para frente. ;O nova-iorquino continua muito enérgico, trabalhador, e a cidade voltou a ser o que era, com gente na rua todos os dias.;