Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Agnelo promete que equipe do governo terá a ficha limpa

Governador eleito planeja criar cinco secretarias para cuidar de áreas estratégicas, como regularização fundiária, transparência nos gastos, apoio às micro e pequenas empresas e meio ambiente. E promete: seu time não terá condenados pela Justiça

Quem estiver com o currículo debaixo do braço e a intenção de trabalhar no governo daqui para a frente vai ter que obedecer a, pelo menos, um critério: não ter condenações na Justiça. A condição é um dos primeiros compromissos assumidos pelo governador eleito no último domingo. Por enquanto, Agnelo Queiroz (PT) não fala em nomes. Mas tem na cabeça o esboço do time com o qual pretende administrar o Distrito Federal pelos próximos quatro anos. Será um grupo com representantes dos 12 partidos da base, predominantemente locais, com a participação de políticos e a consulta popular. O fundamental: "Que seja ficha limpa".

Um dia depois da vitória nas urnas, o organograma do governo é embrionário. Mas nos bastidores os partidos já se insinuam para suas predileções. Por enquanto, a única secretaria com nome confirmado é a de Saúde. "Eu serei o secretário nos primeiros meses, até que as coisas estejam encaminhadas", confirmou Agnelo Queiroz, em entrevista ao Correio na tarde de ontem. O governador eleito tem planos de fazer uma reforma administrativa no início de sua gestão. Vai criar áreas consideradas estratégicas dentro de seu núcleo de apoio e acabar com estruturas que considera desnecessárias.

O governo Agnelo Queiroz terá, pelo menos, cinco secretarias além das pastas convencionais como Saúde, Educação, Segurança,Transporte. Entre os assuntos promovidos ao primeiro escalão estão temas como meio ambiente, transparência administrativa e regularização de áreas do DF (leia quadro ao lado). O novo chefe do Executivo considera fundamental ter uma estrutura própria para fiscalizar a execução de contratos e lidar com a apuração de eventuais denúncias em seu governo. Também criará uma secretaria voltada para o desenvolvimento sustentável. Até então a pasta que trata do assunto é a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente (Seduma). "É um assunto importante demais para se dividir com outros temas", considera Agnelo.

Entre as estruturas que devem desaparecer na gestão que estreia em janeiro de 2011 está o Centro Administrativo de Taguatinga, criado durante o governo de José Roberto Arruda e conhecido como Buritinga. Agnelo vai desativar o quartel militar que serviu como base do governo e onde funcionavam as secretarias do Executivo, mas avisa que levará adiante o projeto de construir o complexo planejado para funcionar entre Taguatinga e Samambaia. Concorda com a proposta de inverter o fluxo de servidores do GDF que todos os dias vai ao Plano Piloto para trabalhar.

Comando
Quem comandará a equipe de transição será o coordenador-geral de campanha de Agnelo, Raimundo Júnior, que até há pouco tempo era secretário executivo na Câmara Legislativa. Júnior trabalhou como um dos grandes articuladores da coligação Um novo caminho. Ele tratará com o coordenador do governo de transição, Geraldo Lourenço, das etapas do processo. A primeira reunião será amanhã, às 11h, com a participação do vice, Tadeu Filippelli (PMDB), além dos senadores Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), este último escalado para fazer uma radiografia sobre o orçamento do DF.

A estrutura do Palácio do Buriti foi liberada para sediar os encontros da equipe de transição, mas o PT ainda avalia se esse é o melhor local. Um dos ambientes mais frequentados pelos políticos nessa eleição foi o Lakeside, próximo ao Palácio da Alvorada. É uma espécie de quartel-general do grupo. O novo governador e o vice têm apartamentos lá.

DESCANSO NA BAHIA
; Esta semana, Agnelo Queiroz pretende descansar. Ele viajou ontem à noite para a Bahia, onde ficará até domingo. Enquanto isso, o petista garantiu que o coordenador de campanha da coligação
Um novo caminho, Raimundo Júnior, vai tomar as providências em relação ao processo de transição com atual governador, Rogério Rosso (PMDB).

PLANEJAMENTO
Veja algumas novas secretarias já confirmadas para a próxima administração:

; Micro e Pequena Empresa
Será criada com a missão de dobrar a quantidade de empresas de médio e pequeno porte no DF, além de servir como base de apoio para trabalhadores saírem da informalidade. Liberação de crédito, programas de pesquisa e de qualificação dos trabalhadores serão tratados na pasta.

; Extraordinária de Regularização
Tratará da legalização das cidades do DF e não só dos condomínios horizontais. A venda direta dos imóveis, avaliados com preço de terra nua, será uma das linhas adotadas no modelo PT de regularizar as áreas. Resolver o problema da concessão de alvarás de lotes comerciais é outra tarefa.

; Transparência e Gestão
Será vinculada ao gabinete do governador. Tem o objetivo de apurar eventuais denúncias que surgirem durante a próxima administração. O funcionamento dessa pasta levará em conta a opinião do ministro da Corregedoria-Geral da União, Jorge Hage, a quem Agnelo já pediu apoio. Um dos nomes ventilados dentro da equipe de Agnelo para comandar o setor é o do ex-advogado-geral da União Álvaro Ribeiro da Costa.

; Assuntos estratégicos
Seguindo o exemplo do governo federal, que criou a pasta comandada durante dois anos por Mangabeira Unger, Agnelo pretende manter um grupo de intelectuais vinculados a uma estrutura com status de secretaria para cumprir missão de elaborar e discutir projetos. O novo governador pensa numa interlocução desse órgão com universidades e com institutos de pesquisa.

; Meio ambiente
A nova administração terá uma secretaria específica para lidar com as questões de sustentabilidade. O principal objetivo da pasta será o controle das áreas de proteção ambiental, como mananciais, nascentes e as bacias do Distrito Federal.

SAÚDE É PRIORIDADE
>> Mara Puljiz
Pouco mais de duas horas de sono. Este foi o tempo que o mais novo governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) teve para descansar após a festa da vitória no segundo turno. Ele foi dormir por volta das 3h de ontem e acordou antes das 6h para uma série de entrevistas em cinco veículos de comunicação. Mal teve tempo para almoçar. Às 11h15, em coletiva à imprensa de 40 minutos, ele falou sobre saúde, educação, transporte e violência, mas disse ainda não ter pensado em nomes para assumir as secretarias do GDF.

Simpático e com bom humor, ele fez respondeu as perguntas dos jornalistas e abraçou, em dois momentos, três crianças que o rodeavam no Lakeside Hotel, onde deu entrevista. Por repetidas vezes, o governador falou em mudanças drásticas na saúde. ;Temos que tirar a saúde da UTI para depois estruturá-la. Não dá mais para continuar com a falta de medicamentos, de lençol, esparadrapo. Tem mais de 15 mil pacientes esperando por cirurgia;, disse Agnelo.

Gestão
O governador eleito adiantou que pretende modificar o atual modelo de gestão do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Agnelo disse que irá analisar o contrato firmado com a Real Sociedade Espanhola, organização social que recebe R$ 11 milhões mensais dos cofres públicos para administrar a unidade hospitalar. ;Vamos discutir uma forma de gestão, sem interrupção do atendimento. Tenho uma certa restrição em terceirizar o atendimento público. Não digo que isso não poderá acontecer, mas se fizer isso, será com uma entidade que tenha reconhecimento público;, explicou.

Para desafogar a rede pública de saúde, Agnelo disse que concentrará suas ações com base em uma relação amigável com partidos opostos, como, por exemplo, com o governador Marconi Perillo (PSDB). ;A aliança precisa ser feita se quisermos mudar para melhorar o Entorno e consequentemente o DF;, destacou.

Agnelo agradeceu à população pelo apoio nas urnas. Das 21 zonas eleitorais, ele perdeu apenas em Samambaia e no Recanto das Emas, antigos loteamentos doados pelo ex-governador Joaquim Roriz (PSC). Durante entrevistas, o petista disse que fará ;um governo para todos; e sem escândalo de corrupção, como o deflagrado pela Operação Caixa de Pandora. ;Criar uma gestão ética e democrática é uma questão de princípios. Vamos prover áreas de controladoria para acompanhamento dos atos do poder público. Precisamos resgatar a esperança, a credibilidade e a cidadania da população;, destacou.