Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Aliados de Dilma se empenham para retomar diálogo com oposição no Congresso

Líderes da base têm de retomar as conversas com a oposição e superar o desgaste eleitoral para viabilizar a votação de projetos importantes

Encerrada a eleição, aliados da presidente eleita Dilma Rousseff se empenham para apagar o incêndio da disputa presidencial que se espalhou no Congresso. Às vésperas de iniciarem as discussões para votar o Orçamento do primeiro ano do governo Dilma, líderes da base tentam resgatar o diálogo com a oposição, interrompido quando a disputa entre PT e PSDB no plano eleitoral ganhou ares de vale-tudo. Aliados de Dilma temem que os adversários descontem o ressentimento pelo empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na derrota de grandes caciques da oposição com o boicote da votação do Orçamento.

O governo também perdeu qualquer esperança de votar o pré-sal na gestão Lula, afirma o líder do governo na Câmara (leia mais na página 14), Cândido Vaccarezza (PT-SP). ;Não sabemos como virá a oposição, pois a situação tanto da Câmara quanto do Senado é complicada, porque a maioria perdeu o mandato. Isso pode criar uma situação delicada. É natural que estejamos cautelosos. Não tenho um cheque em branco assinado pela atual Câmara. A minoria, mesmo sendo muito pequena, pode segurar as votações por 11 dias.;

Terminar o ano legislativo com o Orçamento aprovado é a atual meta do governo. Parlamentares do PT ouvidos pelo Correio afirmam que é grande a possibilidade de Dilma iniciar o mandato sem o Congresso finalizar a análise do projeto orçamentário que guiará seu primeiro ano de trabalho. Vaccarezza foi escalado para fazer as vezes de ministro de Relações Institucionais a fim de costurar apoio na Câmara. Líderes da oposição sempre reclamaram que o titular da pasta, Alexandre Padilha, não tinha o hábito de manter canal de diálogo aberto com a oposição.

O líder do governo informou que procuraria o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ); o líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen (SC); o líder do PPS, deputado Fernando Coruja (SC); e o líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), para tentar passar uma borracha no histórico de ataques da campanha e retomar os trabalhos da Casa a partir de amanhã. ;Temos que ver o sentimento da oposição e teremos um trabalho árduo para contornar os ressentimentos;, afirma Vaccarezza.

Pauta trancada
O longo recesso eleitoral do Legislativo e o não comparecimento dos parlamentares nas convocações do esforço concentrado resultaram em uma fila de 11 medidas provisórias que trancam a pauta. Entre os projetos que aguardam votação está a proposta que cria um fundo nacional para extinguir a figura do fiador, exigida para os estudantes que solicitam o Financiamento Estudantil do Ensino Superior (Fies). A pressão da bancada ruralista para que o Código Florestal fosse votado nas duas Casas ainda este ano também será esvaziada pelo atual cenário de fraturas eleitorais.

O líder da minoria na Câmara, Gustavo Fruet (PSDB-PR), acena com o discurso do bom senso para que a presidente eleita inicie a gestão com o roteiro de receitas e gastos definidos. Fruet não descarta, no entanto, a possibilidade de a oposição atrapalhar as votações nas últimas 11 sessões do ano. ;Haverá obstrução, por isso tem que ser considerada a pauta;, afirma, referindo-se às negociações com o governo.

Segundo Fruet, a oposição vai analisar as possíveis mudanças que o governo encaminhará para adequar o Orçamento do próximo ano aos compromissos de campanha de Dilma. ;Se tiver problema, é até melhor deixar para o próximo ano (a votação do Orçamento). Mas ainda não há uma posição formada na oposição.; Com a ampliação das bancadas governistas, se a votação do Orçamento ficar para o próximo ano, Dilma não deve ter dificuldades para aprovar o projeto.


Acréscimo de R$ 17,6 bilhões
O relator de Receita do projeto de Orçamento para 2011, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), informou que o roteiro financeiro do primeiro ano de mandato de Dilma Rousseff pode contar com acréscimo de R$ 17,6 bilhões. A diferença de receita em relação ao projeto enviado pelo governo, segundo Araújo, ocorreu pelo aumento de arrecadação com o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF), na taxação de investimentos financeiros de outros países. Os integrantes da Comissão de Orçamento foram convocados para votar amanhã o relatório de Araújo.