Dilma se reúne com petroleiros e Lula inaugura campo de extração

Governo, Petrobras e PT uniram esforços para dar o impulso final a Dilma Rousseff na corrida pelo Palácio do Planalto. Em uma estratégia casada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sujou as mãos de petróleo extraído da camada pré-sal (leia abaixo), a candidata reuniu-se com sindicalistas do setor para acusar o adversário José Serra (PSDB) de privatista e a estatal anunciou a descoberta de uma nova reserva. Somado a isso, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) divulga hoje o volume do que pode ser a maior reserva de pré-sal já descoberta ; o campo de Libra, na Bacia de Santos. Dilma recebeu apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade ligada ao PT, ontem, em Brasília. O ato teve como mote ;o petróleo será de todos os brasileiros; e serviu apenas para especular sobre qual é a posição do candidato tucano no setor caso seja eleito presidente. ;Viemos demonstrar que estamos preocupados com a possibilidade de retrocesso ao que era antes de 2002 no setor de petróleo. De 2002 para cá, as mudanças foram enormes, aumentaram o número de empregos e o investimento;, afirmou o coordenador da FUP, o petista João Antonio de Moraes. A presidenciável petista Dilma Rousseff reuniu-se com representantes do setor de petróleo e criticou a posição privatista do adversário José Serra Em entrevista, a candidata capitalizou o discurso dos sindicalistas. ;A Petrobras era uma empresa pequena tanto no que se refere ao número de empregados quanto no valor de investimentos. Era uma empresa de US$ 15 bilhões. Hoje, é a segunda maior empresa de petróleo do mundo. Isso ocorreu porque, ao longo do governo, fizemos um processo de valorização e fortalecimento da Petrobras;, afirmou a candidata. A estatal e o bem natural viraram tema central da campanha petista, repetindo a estratégia que garantiu a reeleição do presidente Lula em 2006. O marketing eleitoral explorou a tese de que Serra é favorável à privatização. ;Quando a gente fala que estão querendo privatizar o pré-sal é porque todo o PSDB votou contra o modelo de partilha. As principais lideranças do PSDB acham que é errado mudar o modelo;, afirmou Dilma. A partilha prevê que a Petrobras absorva parte da receita de empresas privadas gerada com a exploração da camada ultraprofunda. No modelo de concessão, que está vigente e é chamado de privatista por Dilma, a empresa estrangeira extrai o petróleo e tem direito a acumular todo o lucro. Os primeiros campos descobertos do pré-sal já licitados pelo governo Lula foram no modo de concessão. Serra levou essa contradição ao programa de televisão. Libra Como a ordem é colocar a tropa de choque do governo a favor da campanha, a Petrobras revelou na quarta-feira a descoberta de petróleo na bacia de Sergipe-Alagoas, que seria de qualidade semelhante ao encontrado na bacia de Campos. A ANP anunciou que divulga hoje o volume das reservas do campo de Libra, na camada pré-sal da bacia de Santos. As notícias geraram frisson no mercado financeiro, o que fez disparar as ações da estatal. Não é à toa que José Sergio Gabrielli, presidente da empresa, estava em campanha por Dilma em ato na Zona Sul do Rio de Janeiro no domingo, vestido de vermelho e cantando as palavras de ordem entoadas pelos militantes do partido. Potencial gigante O primeiro poço da camada pré-sal da bacia Sergipe-Alagoas tem potencial de produzir petróleo leve, mas ainda não se sabe com precisão o volume das reservas. Esse local está localizado a uma profundidade de 2.341 metros e a 58km da costa. Já o prospecto de Libra, na Bacia de Santos, pode ter reservas maiores do que as da bacia de Tupi, o principal campo de pré-sal descoberto pela Petrobras até agora. Especialistas do setor de petróleo estimam que o potencial de Libra possa variar de 7,9 bilhões a 16 bilhões de barris. A previsão mais otimista é o dobro do estimado em Tupi: 8 bilhões. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, negaram que teria sido descoberta uma nova reserva gigante da camada pré-sal. Questionado pela reportagem Sergio Gabrielli classificou como uma mera especulação a possibilidade de haver um poço com 68 bilhões de barris da comoditty. ;Não sabemos de nada disso;, descartou o chefe da estatal. (TP) Tom eleitoral nas entrelinhas ; Ivan Iunes Enviado especial [FOTO2]Rio de Janeiro ; A jornada eleitoral petista com foco no petróleo teve um dos braços na cerimônia de início da produção comercial de petróleo do pré-sal no campo de Tupi, na Bacia de Santos. Mesmo com a agenda apertada por conta do velório do ex-presidente da Argentina Nestor Kirchner, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do evento e ressaltou a importância da ;nossa Petrobras; para o país. A denominação nacionalista ao comentar o caráter estatal da empresa, também repetida pelo governador fluminense, Sérgio Cabral, e pelo presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, serviu para amplificar um dos carros-chefes da campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. A petista acusa o adversário tucano José Serra de querer privatizar os campos do pré-sal. Lula ainda fez referência à tentativa feita no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) de tentar mudar o nome da empresa. Enquanto a ex-ministra recebia uma entidade sindical de petroleiros, Lula foi até o navio-plataforma Cidade de Angra dos Reis, com Cabral e Gabrielli, para dar início à exploração comercial do pré-sal ; que amplia a atual produção experimental de petróleo em Tupi de 14 mil barris para 100 mil barris diários. ;Eu não imaginei que a gente tivesse essa competência, de em apenas quatro anos estar aqui, mostrando o primeiro tonelzinho de petróleo da exploração em definitivo da nossa querida Petrobras e do nosso querido pré-sal;, afirmou Lula. Embora tenha desvinculado a agenda das eleições, Lula reeditou as cenas produzidas ao lado de Dilma em setembro de 2008, quando o primeiro óleo do pré-sal foi extraído no Espírito Santo. As imagens, inspiradas no mesmo gesto feito por Getúlio Vargas nos anos 1950, têm sido reprisadas à exaustão no horário eleitoral de Dilma. Assim como há dois anos, Lula sujou as mãos no óleo e pintou os uniformes de funcionários e assessores. No discurso a trabalhadores da Petrobras e convidados, Lula, Gabrielli e Cabral não deixaram de criticar o governo FHC por ter tentado mudar o nome da empresa. ;Quando a gente quer ter orgulho de alguma coisa neste país, a gente lembra da Petrobras. Ela foi criada em 1953, teve muitos sobressaltos de lá para cá, teve momentos em que queriam até mudar o nome, momentos difíceis;, provocou Lula. Para homenagear o presidente, funcionários da empresa batizaram como Marco Lula a parte mais alta do pré-sal na região, que é formada por nove ;dedos;. Os picos no fundo do mar são utilizados para orientar a operação dos geólogos. ;Eu já estava feliz que a Petrobras aprendeu, porque toda vez que eu venho aqui eles fazem uma luvinha especial para mim, aprenderam a cortar o dedinho;, brincou Lula. O presidente ainda disse que não havia ido antes a Tupi por medo de se deslocar até o campo, que fica 300km afastado da costa brasileira. ;A ideia era sair de lá à noite e vir comendo um churrasquinho, mas como não deu, falei: vou de helicóptero mesmo;, disse. No projeto-piloto de extração comercial de petróleo em Tupi, a previsão é de que, além de óleo, também sejam produzidos 4 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. O campo guardaria sob a camada pré-sal até 8 bilhões de barris de petróleo. A Bacia de Campos estende-se do Espírito Santo até Santa Catarina. O repórter viajou a convite da Petrobras Ibope: Dilma 14 pontos na frente ; O Ibope divulgou mais uma rodada da pesquisa eleitoral para o segundo turno. Dilma Rousseff, do PT, manteve a vantagem sobre o adversário tucano José Serra. A ex-ministra aparece com 52% das intenções de votos totais, contra 39% do ex-governador de São Paulo. Na sondagem anterior, Dilma tinha 51% e Serra, 40%. Nos votos válidos, quando não são levados em consideração votos brancos e nulos, Dilma tem 57% das intenções, contra 43% de Serra. O Ibope entrevistou 3.010 eleitores de 26 a 28 de outubro. A pesquisa está registrada no TSE com o número 37.596/2010.