Na reta final da campanha, é possível dizer que a rede mundial de computadores reinou absoluta neste pleito. A internet serviu de espaço para a população expressar opiniões, angústias, preferências, lamentar, comemorar, denunciar e fazer humor. Também consagrou-se como plataforma para os candidatos apresentarem propostas, trocarem farpas e interagirem com o eleitorado. Em se tratando do Distrito Federal, onde a disputa pelo governo sofreu reviravoltas, o mundo virtual ficou a mil por hora durante toda a campanha, e promete permanecer assim até o último momento.
Os assessores dos principais candidatos ao GDF destacaram equipes e marcaram terreno na internet desde o início da campanha. No segundo turno, as coordenações das chapas encabeçadas por Weslian Roriz (PSC) e Agnelo Queiroz (PT) continuam dando relevância à presença na web. Os espaços de discussão mais frequentados ; Twitter, Orkut, Facebook e YouTube ; são monitorados e aproveitados ao máximo para publicidade.
No caso de Agnelo, o trabalho fica a cargo de Marco Bahe, coordenador da campanha do petista nas redes sociais. Ele comanda um time de cinco pessoas. Já Weslian, como antes havia feito o marido, entregou a tarefa aos representantes jovens da Coligação Esperança Renovada, pela qual concorre ao GDF. No comando da equipe está o sobrinho do ex-governador, André Roriz, mais conhecido como Dedé Roriz, que preside a juventude do PSDC, um dos partidos da base aliada da tia.
;Agnelo já tinha perfil no Twitter, no Facebook, no Orkut e um blog. A gente fez uma conta adicional no Twitter e uma renovação no site dele, usando ferramentas de interatividade;, informa Marco Bahe. Segundo ele, o petista gosta de usar a internet e escreve a maioria de seus posts em redes sociais. ;Quando ele está em debate ou entrevista, a assessoria faz por ele, mas sempre sinaliza que não é o candidato quem está falando;, informa Bahe. Além de assessorar Agnelo, a equipe responsável pela web tem a missão de acompanhar tudo o que é dito sobre o candidato. ;Se for o caso, tem que intervir para corrigir uma informação equivocada;, ressalta Bahe.
Segundo Dedé Roriz, Weslian não tem muita familiaridade com a internet e, por isso, seus posts ficam a cargo da equipe. ;O perfil dela no Twitter, a gente conversa com ela, pega algumas orientações, e aí escreve;, diz. Dedé relata que mais três pessoas cuidam da campanha da candidata na internet além dele. ;Uma monitora tudo que sai em blogs, Twitter, Facebook e Orkut. Encaminha para os responsáveis, e então são adotados procedimentos de convidar as pessoas, responder;.
O que foi dito no Twitter
Confira o que os internautas comentaram ontem sobre os candidatos ao governo do DF
Isabela Moura
Rindo horrores da propaganda do Agnelo! Vocês viram? Fizeram estilo cordel.
Marie Polidorio
Esse jingle axé do Agnelo me tirou parte da vontade de
votar nele.
João Leonel
A mulher prometeu! E quando um Roriz promete, um Roriz cumpre. Cobrarei uma taxa de cada eleitor de Agnelo para pagar as minhas multas.
Rafael Iglesias
Néstor e Cristina Kirchner na Argentina é tipo Weslian e Joaquim Roriz no Brasil.
Cássia Godinho
Frase do dia: vou levar o metrô para as cidades que não existe (sic). Weslian Roriz, que deixará os habitantes de Gothan City muito felizes.
Campo de difícil controle
Para o cientista político Emerson Mazullo, professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), o uso da internet nestas eleições teve desdobramentos bons e ruins. Na visão dele, a possibilidade de trocar opiniões e interagir com os eleitores contribuiu para que a rede mundial de computadores funcionasse como um espaço de debate democrático. ;Hoje, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 32% da população do Brasil têm internet. A maior parte é jovem, com iniciativa. Eles (os jovens) são os que mais participam. O uso para troca de ideias foi muito positivo;, opina.
Mazullo destaca, entretanto, que, por ser de difícil controle, a internet também serviu como ;ferramenta de manipulação de opinião;. Segundo ele, expedientes como a utilização da rede para burlar decisões judiciais e exibir conteúdo vetado no rádio e na televisão são um exemplo de prática desonesta. ;A Justiça Eleitoral tentou criar algumas regras, mas é praticamente impossível limitar a zona livre que é a internet;, comenta.
Além do exemplo citado pelo professor, há ocasiões em que a própria população, por vezes com a intenção de fazer humor, utiliza a internet de forma polêmica. É o caso dos muitos vídeos satirizando Weslian que circulam na rede e que foram alvo de ações judiciais por parte da coligação da candidata.
Perfis falsos
O mesmo se dá com os perfis falsos no Twitter, que divertem os usuários. Antes da campanha, dezenas de contas fictícias de personalidades já faziam sucesso ; uma delas usa o nome da falecida atriz Nair Bello e é campeã de seguidores. Logo após sua primeira participação em um debate eleitoral televisivo, a candidata Weslian Roriz e seu marido, o ex-governador Joaquim Roriz, tornaram-se alvos de brincadeira semelhante. Internautas criaram os perfis Real Weslian e Real Roriz. Os deslizes ao falar cometidos pela concorrente do PSC e uma suposta relação de subserviência dela ao ex-candidato são os pontos explorados.
Se a família Roriz vem sendo castigada por brincadeiras virtuais também faz ampla utilização da internet para turbinar a campanha da matriarca do clã. As filhas de Weslian, Jaqueline Roriz (PMN) e Liliane Roriz (PRTB), eleitas respectivamente deputadas federal e distrital, usam o Twitter e o Facebook para divulgar a agenda da candidata e angariar apoio. Foi por meio de seu perfil na rede de microblog que a caçula, Liliane, surpreendeu com o anúncio de que a mãe iria substituir o marido na corrida ao Buriti. (MB)
PARA SABER MAIS
Restrições previstas
Em 2009, no pacote da minirreforma eleitoral, Câmara e Senado definiram quais seriam as regras para a campanha na internet em 2010. Ficou acordado que sites de notícias têm restrições semelhantes às dos jornais e revistas, como a proibição de fazer propaganda eleitoral de candidato. A censura não atinge, no entanto, os blogs assinados por pessoas físicas, as redes sociais (como Orkut e Facebook), redes de compartilhamento de mídia (como o YouTube) e de mensagens instantâneas (como o serviço de mibroblog Twitter). Em dezembro daquele ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) preparou uma minuta com uma série de regras para a campanha no mundo virtual. Entre elas, o direito de
resposta para ofensas na rede, aproibição de propaganda política com anonimato e a vedação do envio de mensagem fora do período de campanha. O descumprimento de qualquer uma das normas pode acarretar multa aos partidos e aos candidatos. (MB)