Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Para os indecisos, nível das campanhas e dos candidatos ao GDF está baixo

Os milhões investidos nas campanhas dos dois candidatos ao Palácio do Buriti não foram suficientes para convencer uma parte do eleitorado do Distrito Federal. De acordo com as últimas pesquisas, a poucos dias do segundo turno do pleito que decidirá quem será o próximo governador da capital, de 7% a 9% dos cerca de 1,8 milhão de eleitores ainda não escolheram entre Agnelo Queiroz (PT) e Weslian Roriz (PSC). O percentual pode não ser suficiente para ameaçar a vantagem do petista em relação à adversária nas sondagens recentes, mas indica que muita gente não está satisfeita com o cenário político brasiliense.

O baixo nível na disputa, a ausência de propostas concretas para resolver problemas de setores vitais, como saúde, educação e segurança, e o clima de instabilidade jurídica com a substituição de Joaquim Roriz pela mulher ; em razão do impasse em torno da Lei da Ficha Limpa ; são alguns dos fatores apontados por especialistas ouvidos pelo Correio para considerar elevado o patamar de indecisos na reta final desta campanha.

Na última terça-feira, levantamento do Instituto DataFolha mostrou que, entre o eleitorado do petista, 7% afirmam que podem mudar o voto na última hora. Já 6% dos simpatizantes de Weslian declararam que podem desistir de dar o voto à ex-primeira-dama do DF.

[FOTO2]Nas ruas, os indecisos justificam a neutralidade às vésperas do pleito com duras críticas às duas campanhas. Para o publicitário Breno David Souza Medeiros, 25 anos, a postura dos postulantes a chefe do Executivo local não contribuiu para que a população tomasse uma posição antecipada. ;O que estamos vendo são debates vazios de ideias. Até agora, nenhum deles me convenceu que merece meu voto, não conseguiram focar em nada que seja bom para a população. Não quero votar em quem faz mais denúncias e, sim, naquele que defende as melhores propostas. Infelizmente, eles estão empenhados apenas em se atacar;, critica Breno.

Bombardeio

A opinião é compartilhada pelo bombeiro civil Antônio Rocha Filho, 25 anos. Para ele, o confronto de propostas perdeu lugar, principalmente no segundo turno, para ataques pessoais. O bate-boca, segundo ele, dificulta a escolha. ;A única preocupação deles é criar um bombardeio de acusações. Se continuar desse jeito, com esse nível tão baixo, vou acabar anulando meu voto;, ameaça.

Apesar de o número de indecisos ser expressivo, o cientista político Leonardo Barreto considera pouco provável que o resultado das eleições contrarie as pesquisas de opinião que colocam Agnelo Queiroz mais de 20 pontos à frente de Weslian Roriz. ;Na corrida presidencial, os indecisos podem até reverter o cenário, mas, no caso do DF, mesmo que todos os indecisos votassem em Roriz, Agnelo venceria. As pessoas que manifestaram a intenção de votar no petista
já garantem a vitória dele. Teria que acontecer muita coisa para Weslian virar o jogo;, considera Barreto.

Na avaliação do cientista político, as duas chapas falharam na construção da imagem dos candidatos, o que teria deixado o eleitor desiludido e confuso. ;A verdade é que nenhuma campanha empolgou. O grupo de Roriz ficou enfraquecido com a troca do cabeça de chapa. Já Agnelo, ao firmar uma aliança com o PMDB, não convenceu petistas tradicionais. O mais interessante é que as dúvidas giram em torno de votar em Agnelo ou anular, ou votar em Weslian ou anular;, analisa Barreto.

À FRENTE
Segundo o Instituto DataFolha, 91% do eleitorado está totalmente decidido. Na pesquisa anterior, o índice era de 87%. Entre as 1.112 pessoas entrevistadas em 26 de outubro, 55% afirmaram que votarão em Agnelo Queiroz (PT), enquanto 30% disseram preferir Weslian Roriz (PSC). Se considerados apenas os votos válidos, a diferença é de 65% a 35% em favor do petista.

RESULTADO DO PRIMEIRO TURNO

Candidato - Total de votos - Percentual


Agnelo Queiroz (PT) - 676.394 - 48,41%

Weslian Roriz (PSC) - 440.128 - 31,50%

Brancos - 58.332 - 3,76%

Nulos - 95.130 - 6,13%

Abstenção - 283.177 - 15,44%

ENTRE NULOS E BRANCOS

No primeiro turno, parte da população demonstrou a insatisfação com as opções nas urnas. Foram 153.462 votos inválidos, o que representou 9,89% do total. Agnelo recebeu 676.394 votos e Weslian, 440.128 (veja quadro).

Na largada para o segundo turno, a estratégia dos responsáveis pelas campanhas era conquistar essa parcela de eleitores, mas nem todos foram convencidos. A professora Asenati Teixeira Leite, 34 anos, é uma delas. Ela se diz decepcionada com a falta de propostas para melhorar a educação no DF, confessa que tende a escolher Agnelo, mas não descarta anular o voto. ;Não acho bom para a democracia votar nulo, mas na situação em que se encontra a política do DF fica difícil não tomar essa decisão.;

O dilema da diarista Michele de Brito Pereira, 32 anos, é entre votar em branco ou em Weslian. ;Acho que os dois são despreparados, mas admiro a coragem da Weslian em fazer o que ela fez pelo marido, sem contar que gosto do que Joaquim Roriz fez pelos mais humildes;, diz Michele.

Para o coordenador de pesquisa do Instituto CB Data e cientista político, Adriano Cerqueira, mesmo que as pesquisas deem vantagem a Agnelo, pode haver surpresas no segundo turno. ;Uma coisa que aprendi na política é que intenção de voto é uma coisa e voto é outra totalmente diferente.;

Cerqueira ressalta dois aspectos que podem afetar o resultado das eleições do dia 31: o feriado prolongado e o tempo menor que as pessoas passarão na fila da seção eleitoral. ;Se no primeiro turno as pessoas ficavam 20, 30 minutos na fila, agora vai ser bem mais rápido. Isso significa que elas têm pouco tempo para ser convencidas na fila por alguém;, explica o pesquisador. (SA)