São Paulo ; O candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) recebeu oficialmente, ontem, o apoio dos nove deputados estaduais do PV eleitos em 3 de outubro. Os parlamentares formarão a terceira maior bancada da Assembleia Legislativa de São Paulo. ;Todos os deputados da bancada verde estão aqui para anunciar apoio a Serra em função de sua visão ambiental, da parceria que fez com o PV e da lei de mudanças de políticas climáticas;, discursou o deputado Edson Giriboni.
Para Serra, o apoio do PV paulista tem um significado não só eleitoral, mas também ideológico. ;Tivemos aqui em São Paulo uma aliança estreita em prol da sustentabilidade;, disse o tucano, que lembrou da parceria entre PSDB e PV na elaboração da lei de mudanças climáticas em São Paulo. Ao fazer uma aliança com o PV, Serra está de olho nos 4,8 milhões de votos que a ex-adversária Marina Silva (PV) teve no estado.
Em programa eleitoral na televisão, o tucano já havia dito que simpatiza com a causa ambiental, identifica-se com o programa de governo de Marina e que teve integrantes do partido no governo de São Paulo. ;Não sou ambientalista de ocasião, como a Dilma;, alfinetou Serra. No encontro com os verdes, o presidenciável afirmou ainda que ;a sustentabilidade ocupa um lugar central; em seu programa de governo, admitindo que intensificou suas propostas para o meio ambiente a partir do segundo turno das eleições. Na semana passada, os ex-candidatos verdes aos governos de São Paulo e do Rio de Janeiro, Fabio Feldman e Fernando Gabeira, respectivamente, também declararam apoio ao tucano.
Estádio
Após cumprir agenda em São Paulo, Serra viajou ao Rio de Janeiro, onde visitou as obras no estádio do Maracanã. No gramado, bateu dois pênaltis e, descalço, ficou sobre o molde dos pés de Pelé. E aproveitou a ocasião para atacar o governo por não tomar medidas contra a alta nos preços de alimentos. ;O governo tem que estar atento para evitar a inflação desses tipos de produtos;, afirmou. ;Basta olhar o que aconteceu nos últimos três meses. A carne está virando um produto de luxo.;
Para ele, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tivesse adotado uma política de estoque e de infraestrutura, teria evitado a alta concentrada nesses produtos. O candidato ainda frisou a necessidade de se comparar as suas propostas com as da adversária, Dilma Rousseff (PT). ;É importante que a população compare os dois candidatos e tome uma decisão para a próxima década no Brasil. O que eu tenho a oferecer é meu passado como político, além da criação do seguro-desemprego, o fortalecimento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), as obras em São Paulo e os medicamentos genéricos.;
Serra lembrou ainda o episódio da agressão sofrida na semana passada, quando caminhava pelo bairro de Campo Grande, na Zona Norte da capital fluminense, e foi atingido por uma bolinha de papel e por um rolo de fita-crepe. ;Eu sofri muito nesta campanha com as truculências da rua e os bloqueios de batalhões de choque do PT, como aconteceu outro dia aqui em Campo Grande;, comentou.
Tucano quer ser gaúcho em outra encarnação
; Em comício em Caxias do Sul (RS), na noite de ontem, José Serra (PSDB) fez um afago nos eleitores do estado e disse que foi gaúcho em outra vida. ;Devo ter vivido aqui em outra encarnação, ou devo estar me preparando para viver aqui na próxima;, afirmou o presidenciável. ;Quero ser cidadão honorário da pátria gaúcha;, emendou. Referindo-se ao prefeito da cidade, José Ivo Sartori (PMDB), Serra afirmou: ;O suco de uva daqui é o melhor do mundo. O Sartori me reservou quatro caixinhas para levar. Vou tomar até domingo todas;. Durante o ato, o candidato derrotado ao governo José Fogaça (PMDB-RS) declarou abertamente o voto no tucano.
Análise da notícia
Diferença crucial
Denise Rothenburg
A candidatura de José Serra tem, neste ano, uma reta final bem diferente daquela que marcou a sua campanha em 2002. Hoje, ele chega a visitar de dois a três estados num só dia. Há oito anos, não era assim. No fim da campanha de 2002, o candidato passou grande parte do tempo ilhado em São Paulo, onde Geraldo Alckmin (PSDB) concorria no segundo turno contra José Genoino (PT).
Naquela eleição, pelo menos 13 estados e o Distrito Federal tiveram segundo turno. No Sul, todos os governadores foram escolhidos numa segunda rodada ; agora todos elegeram seus governadores no primeiro turno. Mas, ainda assim, Serra não tinha uma situação muito confortável. Não podia ir ao Paraná, por exemplo. Lá, Álvaro Dias, então do PDT, disputou o governo no segundo turno contra Roberto Requião (PMDB), e ambos ficaram com Lula. O candidato do PSDB àquela época era o mesmo Beto Richa eleito agora no primeiro turno.
No Nordeste, a situação não era diferente. Com Lula em alta e Ciro Gomes empenhado em ajudar o petista no segundo turno, os tucanos Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara (hoje filiado ao PR), na época pouco fizeram em prol da candidatura de Serra. Dessa vez, neste segundo turno da disputa presidencial, todos chamam Serra para uma ;visitinha;. Pelo menos da falta de convites o tucano não pode reclamar.