Peritos, médicos, ministros, parlamentares e muitos, muitos internautas aproveitaram o dia para discutir se o candidato à Presidência José Serra (PSDB) foi atingido por uma bolinha de papel, por um rolo de fita crepe ou por ambos durante a agenda de campanha no Rio de Janeiro, na quarta-feira. A ausência de debates consistentes na campanha levou os eleitores/internautas a colocarem nos tópicos mais comentados do Twitter a polêmica da agressão sofrida por Serra. Os marcadores ;bola de papel facts;, ;Serra Rojas;, ;Chamex; e ;tomografia; tomaram conta da rede de computadores. Alguns usuários ainda tiveram o cuidado de traduzir para o inglês e o espanhol o conteúdo das discussões, para que tuiteiros de outros países pudessem conferir a qualidade do debate político da disputa presidencial brasileira.
Depois da divulgação de vídeos que supostamente mostravam o momento em que um segundo objeto acertou a cabeça do presidenciável, o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), não se cansava de replicar a mensagem dos aliados que diziam que a tese da ;bolinha de papel; foi uma farsa do PT. ;A bola de papel foi anterior à agressão à Serra. Quem pedirá desculpas agora?;, escreveu Agripino, em referência ao fato de que Lula tinha recomendado que Serra pedisse desculpas à nação .
Antes disso, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que é obstetra, questionou a atuação do médico que atendeu Serra em um hospital do Rio de Janeiro depois do incidente. ;Tomografia computadorizada por conta de uma bolinha de papel na cabeça do Serra. Isso é imperícia ou quebra do código de ética médica;, acusou o líder do governo. O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) produziu uma série de piadas com o episódio. ;Bolinha de papel assassina, estou convencido: Serra vai ganhar...um papel na novela das oito. Um canastrão a mais, um canastrão a menos;, atacou. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, replicou comentário que qualificava de ;vergonha alheia; a consequência da atitude do presidenciável.
Até mesmo um jogo online foi criado. O objetivo da atração é acertar o maior número de bolinhas na cabeça de Serra. Atônitos com o cenário da sucessão eleitoral deste ano, os eleitores também aproveitaram para rir da situação. ;Durex nega ter participação no ataque terrorista a José Serra promovido pela bolinha de papel;, ironiza um internauta.
Carreata
Em meio à polêmica, os candidatos fizeram ontem campanha no Paraná. Dilma Rousseff e José Serra estiveram no estado que abriga o quinto maior colégio eleitoral do Brasil. Logo pela manhã, ela esteve na capital paranaense, onde se encontrou com os senadores eleitos Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB). No início dos compromissos agendados, a petista deveria fazer uma caminhada com os dois políticos pela rua XV de Novembro, uma das principais da região central da cidade. No entanto, o plano foi abortado depois que três balões cheios de água foram arremessados de um prédio e estouraram próximo à candidata.
Depois do incidente, Dilma se encaminhou para Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. No local, foi realizada uma carreata com a presença do candidato derrotado ao governo estadual Osmar Dias (PDT). A candidata prometeu reduzir o endividamento público. ;Ele (José Serra) tem de dizer o que vai alterar (na economia) para tranquilizar os eleitores. Falar que vai fazer modificações sem especificar as mudanças cria um nível de desconfiança ruim;, disse. À noite, ela seguiu para o Rio Grande do Sul, onde participaria de comício em Caxias, ao lado do presidente Lula.
Em Maringá, a cerca de 450 quilômetros de onde estava Dilma, Serra prometeu apoiar as cooperativas de agricultores e citou a questão do câmbio como um entrave ao setor produtivo. ;A questão do câmbio é fruto de uma política econômica de médio e longo prazo errada e só pode ser corrigida com medidas de médio e longo prazo;, destacou.
90 segundos a menos
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retirou 1 minuto e meio das inserções de rádio da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. A decisão atende um pedido da coligação de José Serra (PSDB), que acusou a campanha petista de ter desrespeitado a lei eleitoral. O jingle dizia que ;esse tal de Serra não trabalha pra ninguém, só deu pedágio caro e porrada em professor;. Para o TSE, os termos usados na propaganda são inadequados, uma vez que a crítica não pode ser realizada em linguagem grosseira.
Salvos pelo megafone
; Militantes do PT e do PSDB não entraram em confronto por muito pouco no Centro de São Paulo, ontem à tarde. Cerca de 300 integrantes de movimentos sociais pró-Dilma Rousseff saíram da Praça Ramos em direção ao Largo da Sé. Já os cerca de 50 militantes tucanos saíram do lado da Prefeitura de São Paulo em direção também à Praça da Sé. Eles levavam bandeiras, faixas e um boneco inflável do candidato José Serra. Ao ver que as duas caminhadas iriam se cruzar no meio do caminho, o deputado federal José Genoino (PT-SP) fez um apelo pelo megafone para evitar que a atividade de campanha acabasse em confusão, como a de quarta-feira, no Rio de Janeiro, quando Serra foi atingido na cabeça. Os militantes de Dilma recuaram e não houve o encontro.