Goiânia ; O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, uniram os discursos para atacar PSDB e DEM. A mensagem dos dois no comício de ontem à noite na capital goiana foi a de que os adversários são políticos sem caráter, que promovem mentiras e campanhas para transformar o Brasil num país de ódio. Lula pediu voto para Dilma e pregou que é necessário escolher entre um projeto para o futuro ou do passado. "Não podemos esquecer o Brasil que recebemos deles em 2003: o Brasil da privatização, do FMI, do desemprego, da desesperança, da falta de oportunidade", afirmou o presidente.
Lula aproveitou ainda para alfinetar o PSDB. "O tucano tem bico grande, é esperto, tem lábia bonita. É só xaveco no ouvido da gente", disse, criticando Marconi Perillo (PSDB), adversário de Íris Resende (PMDB) na corrida pelo governo em Goiás. Lula disse que Perillo é um político sem caráter por se apropriar de realizações do governo federal, como a criação do Bolsa Família e da ferrovia Norte-Sul. "Caráter é uma coisa que se aprende conversando com pai e mãe. Não tem nada pior do que um político sem caráter".
Dilma, por sua vez, afirmou que PSDB e DEM partiram para a campanha de falsidade, calúnias e mentiras por temerem a derrota. Segundo ela, os partidos adversários não têm generosidade com a população. "Criaram uma campanha de ódio, tentando criar uma coisa que o Brasil jamais permitiu, porque somos o país da convivência. Árabes e judeus sentam-se na mesma mesa e não guerreiam. Católicos, evangélicos e espíritas convivem de forma fraterna nas mesmas escolas. Não podemos deixar que nos transformem num pais cheio de ódio", disse a petista.
Boatos
A equipe de Dilma aproveitou o ato político para promover campanha contra boatos. Marcelo Branco, coordenador de internet, subiu no palanque e disse que correligionários de José Serra (PSDB) usam mentiras para intimidar eleitores através de mensagens on-line e via telefone. ;Vamos denunciar os telefonemas que eles estão fazendo para mentir;, disse Branco.
A petista alfinetou a proposta do adversário José Serra (PSDB) de elevar o salário mínimo para R$ 600. "Nenhum trabalhador pode ter preocupação porque sabemos que o Brasil cresce quando o salário dos trabalhadores cresce. Nunca demos um aumento só, demos aumento todos os anos, sempre", disse. Antes de discursar, Dilma autografou camisetas e interagiu com o público agradecendo elogios enquanto outros discursavam.
O ato contou com a presença de 30 prefeitos e o candidato derrotado ao governo goiano Vanderlan Cardoso (PR), que apoia Íris Resende no segundo turno contra Marconi Perillo (PSDB). O político do PR foi saudado pelo mestre de cerimônias como o candidato que representa 500 mil votos.
O ato político em Goiânia ocorreu na Praça da Feira, no Jardim Curitiba, localizado na periferia da capital e base eleitoral de Resende. O comício foi mais animado do que os ocorridos na primeira semana do segundo turno. O clima foi atribuído ao resultado da pesquisa Vox Populi, que mostrou a petista com uma diferença de 12 pontos percentuais para o adversário José Serra (PSDB), uma folga inédita.
Aliança
Antes do comício, Dilma fez um afago no PMDB depois de desagradar setores do partido por não fazer uma defesa contundente do aliado em entrevista ao Jornal Nacional. "O PMDB, na sua grande maioria, tem apoiado a minha candidatura e tem sido um partido excepcional no que se refere à sua conduta", afirmou, ao lado do candidato a governador de Goiás, Íris Resende (PMDB).
Dilma aproveitou para exaltar a biografia de Temer e negou que a campanha esteja tentando esconder seu parceiro. "Tenho um candidato de extrema qualidade. Considero a presença dele de extrema importância", afirmou a petista.
Declaração Diplomática
; Denise Rothenburg
A declaração da candidata Dilma Rousseff em defesa do PMDB ontem em Goiânia foi feita por exigência do PMDB, que não ficou nada satisfeito com o fato de a petista não ter defendido seu principal aliado na entrevista ao Jornal Nacional na noite de segunda-feira. A preocupação hoje é não criar novas intrigas que levem os peemedebistas ao palanque do adversário, José Serra, que tem muitos amigos no partido. Ontem, por exemplo, o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça e o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto anunciaram o apoio a Serra. ;Agora, que não temos mais a exigência da neutralidade, estamos com Serra;, anunciou Rigotto.
O PMDB gaúcho não é o único a optar pelo tucano. Em Santa Catarina, os peemedebistas fizeram ontem um encontro para marcar o apoio a Serra. No último dia 15, a executiva estadual de Mato Grosso do Sul optou por seguir com José Serra, como já havia feito no primeiro turno. Só quatro integrantes anunciaram que vão ficar com Dilma: o prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho; o vice, Edil Albuquerque; o presidente da Câmara Legislativa, Paulo Siufi; e o deputado federal Geraldo Rezende.
Susto
Outro diretório que deu um susto na cúpula do partido foi o do Pará. No comício da semana passada em Belém, nenhum peemedebista compareceu para posar ao lado de Dilma. A primeira leitura foi a de que o senador eleito, Jader Barbalho, barrado pela Lei da Ficha Limpa, teria migrado com os peemedebistas para a banda de Serra porque não havia sido recebido há alguns dias pelo presidente Lula. Ontem, entretanto, depois de reunião na casa de Michel Temer, candidato a vice na chapa presidencial, os dois seguiram para um encontro com Lula. Temer, aliás, apareceu ontem no programa eleitoral de Dilma, dizendo que ela governará com tranquilidade porque terá maioria no Congresso.
Jader disse ao presidente que está fechado com Dilma e que todo o pessoal fará campanha pela petista nesta reta final. Mas antecipou que não poderia garantir apoio do PMDB do Pará para reeleger a governadora Ana Júlia Carepa, que concorre neste segundo turno contra o tucano Simão Jatene. Sem meios de levar o partido a apoiar Ana Júlia, Jader liberou os peemedebistas na disputa estadual. Na prática, a maioria do PMDB paraense ficará com Jatene. "O que nos interessa mesmo é apoio a Dilma", comentou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.
Os peemedebistas consideraram natural o apoio do diretório gaúcho a Serra. Até porque, no primeiro turno, o presidente Lula foi diversas vezes ao Rio Grande do Sul e em todas as oportunidades pediu votos para o petista Tarso Genro, que venceu a eleição no primeiro turno com 54% dos votos válidos. José Fogaça ficou em segundo lugar, com 24,7%. "Era esperado que o PMDB gaúcho terminasse declarando o apoio a Serra. Afinal, Lula foi lá e fez campanha para o Tarso. Mas nossa avaliação é a de que o gesto deles não mudará o resultado da eleição. A ampla maioria do PMDB está com Michel e Dilma", comentou Henrique Eduardo Alves. A contabilidade do PMDB indica que 20 estados e o DF fecharam com Dilma. Serra tem apenas seis ; Pernambuco, Acre, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, além de parte do PMDB de São Paulo e de Mato Grosso do Sul.
Novo afago ao PMDB
Gilberto Carvalho, chefe de Gabinete do presidente Lula, também entrou no time dos que rendem homenagens ao PMDB, ainda que, nas entrelinhas, deixe transparecer o lado fisiológico do partido de Michel Temer." No primeiro mandato, sem o apoio do PMDB, o governo apanhou bonito, especialmente no Senado. Depois, no segundo mandato, quando o PMDB veio, ficou mais tranquilo", reconheceu. Ele duvida de que Dilma Rousseff será monitorada pelo PMDB ou mesmo pelo PT, caso venha a ser eleita presidente da República. "A base é ampla. Temos o PMDB, o PSB, o PCdoB, o PT e vários partidos. Posso garantir que ela angariou experiência ao longo do governo Lula e não ficará refém nem de um nem de outro", completou.
Depois de ajudar a campanha para fortalecer os laços com a Igreja Católica ; o presidente Lula costuma inclusive tratá-lo como o ;padreco do Planalto; ; Gilberto Carvalho está mais dedicado a ajudar a montar o documento que o presidente Lula pretende apresentar ao Brasil em 14 de dezembro, coincidência ou não, aniversário da candidata Dilma Rousseff. Nessa data, Lula irá registar em cartório todas as realizações de seu governo, com números e metas atingidas em todas as áreas ; infraestrutura, saúde, educação, meio ambiente, casas populares, bolsa-família, segurança pública e outras.
Pendências
Gilberto Carvalho fez esse anúncio em entrevista na noite de segunda-feira à Rede Vida, onde listou inclusive as áreas em que o governo Lula deixou a desejar: segurança e saúde, em especial o combate ao crack. "Essas são áreas em que o futuro presidente terá que atuar com mais afinco", disse ele.
O chefe de Gabinete de Lula fez ainda um diagnóstico sobre as dificuldades do PT em conquistar o governo de São Paulo. Na avaliação dele, algum mérito os tucanos devem ter no estado. "O povo de São Paulo não é tonto. Alguma coisa eles têm de bom", afirmou, quando perguntado sobre o fato de os petistas jamais terem conquistado o governo estadual. (DR)
CNBB avalia panfletos
; Uma reunião do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil discutirá a distribuição de cópias de uma nota que recomenda o voto contra Dilma Rousseff, com a alegação de que a petista defende o aborto. O órgão reúne 39 integrantes da cúpula da entidade. O evento terá participação do núncio apostólico, dom Lorenzo Baldisseri. Ele ouvirá relato sobre os desdobramentos da divulgação, entre os fiéis, de uma mensagem da Comissão em Defesa da Vida, coordenada pelo padre Berardo Graz, com aval da presidência da Regional Sul 1, que reúne as 41 dioceses de São Paulo, defendendo o voto contra Dilma. A candidata já assinou nota, na semana passada, em que se compromete a não mexer na lei sobre o aborto.