A tentativa de varrer do Senado e da Câmara dos Deputados notórios opositores, capitaneada pelo presidente Lula, pode ter dado certo no primeiro turno, mas acabou por reforçar de forma considerável a campanha de José Serra (PSDB) nas últimas semanas do pleito. Com derrotas acachapantes nas urnas, vários antigos desafetos do presidenciável tiveram como única alternativa de sobrevivência política o engajamento total na campanha tucana. A reação adversa ao ;rolo compressor; aplicado pelo governo na eleição para as duas Casas constitui hoje um dos principais obstáculos à tentativa de Dilma Rousseff (PT) em suceder o ex-chefe.
Desde que tiveram a derrota confirmada nas urnas, nomes antes distantes de Serra ; como o do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e a cúpula do DEM, formada pelo deputado federal Rodrigo Maia (RJ) e o ex-senador Jorge Bornhausen (SC) ; não hesitaram em colocar todo o capital político na campanha do antigo desafeto. ;Lula deu um tiro no pé quando investiu na agressividade e trabalhou para diminuir a oposição. Candidatos que saíram derrotados das urnas se engajaram como uma forma de resposta a esse movimento de forma até surpreendente. Como resultado, temos muito mais energia e força agora do que nas eleições anteriores;, aponta o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE).
Somente na última semana, Jereissati trabalhou para reagrupar os tucanos no Ceará e o DEM escalou senadores como José Agripino Maia (DEM-RN) e Raimundo Colombo (DEM-SC) para reforçar a campanha presidencial em seus respectivos estados. O governador eleito por São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), percorreu o interior paulista e planeja visitas ao Acre e ao Centro-Oeste, e o futuro senador mineiro Aécio Neves trabalha para reunir 300 prefeitos do estado em apoio a Serra, além de estudar incursões pela Bahia e por Alagoas. ;Para a oposição, o risco de ficar mais quatro, oito anos longe do poder pode ser fatal. O DEM foi muito reduzido e o PSDB corre o mesmo risco. Por isso, mesmo sendo desafetos de Serra, vários políticos estão apoiando o seu próprio currículo e uma perspectiva de volta à política na eleição do tucano;, afirma o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas.
Aposta futura
Se os que foram derrotados lutam para sobreviver politicamente, aqueles que saíram das urnas vitoriosos tentam evitar a perspectiva de um Congresso amplamente governista e uma oposição reduzida. No caso de Alckmin e de Aécio, os dois apostaram fichas altas na vitória de Serra como uma forma de garantir um espaço mínimo de articulação política que não coloque os seus planos políticos por terra. ;Para os eleitos, a briga, além de eleger Serra, é também por quem se firmará melhor como líder da oposição em âmbito nacional. Por isso, a atuação deles não se restringe aos seus estados;, explica Caldas. Aécio foi pré-candidato do partido à Presidência até o fim do ano passado e Alckmin disputou a eleição em 2006. Ambos são nomes naturais do PSDB para eleições presidenciais futuras.
Segundo a análise de especialistas, ao absorver antigos desafetos, a campanha de Serra aumentou de forma considerável a capilaridade, especialmente nos grotões do país, terreno mais favorável à campanha de Dilma. O reforço também evita o mesmo fenômeno visto em 2002, quando o tucano não conseguiu percorrer vários estados no segundo turno contra Lula. Agora, essa presença se multiplica pela atuação dos aliados. ;Especialmente os que foram derrotados precisam se manter no cenário político, dar a volta por cima. Para isso, é extremamente necessário que eles atuem, não saiam da campanha;, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Caso Serra vença a eleição, vários desses políticos estariam naturalmente cotados para herdar uma pasta na Esplanada dos Ministérios.
Frases
Para a oposição, o risco de ficar mais quatro, oito anos longe do poder pode ser fatal. O DEM foi muito reduzido e o PSDB corre o
mesmo risco;
Ricardo Caldas,
cientista político
Especialmente
os que foram derrotados precisam se manter no cenário político, dar a volta por cima. Para isso, é extremamente necessário que eles atuem, não saiam da campanha;
Álvaro Dias,
senador (PSDB-PR)
Todos juntos
Geraldo Alckmin (PSDB-SP)
Eleito governador paulista, andou às turras com Serra até o ano passado, quando, no ostracismo político, foi nomeado secretário de estado pelo então governador. A campanha em favor do antigo desafeto é uma forma de pagar a fatura pelo ;resgate;, mas também ajuda Alckmin a manter o potencial eleitoral em todo país, herança conquistada nas eleições de 2006. Vira outro nome natural da legenda, ao lado de Aécio, para uma futura corrida à Presidência.
DEM
O partido presidido pelo deputado federal Rodrigo Maia (foto) nunca escondeu a falta de proximidade com Serra e mostrava clara preferência por Aécio na disputa pela sucessão de Lula. Vencido, acabou alijado da campanha pelo tucano no primeiro turno e quase fica sem a vaga de vice na chapa. Com a perda de vários senadores e deputados federais que não conseguiram a reeleição, restou à legenda tentar voltar à Presidência como aliada do PSDB em uma estratégia para recuperar o terreno perdido. É tido como essencial para a votação de Serra em alguns estados do Nordeste e em Santa Catarina.
Aécio Neves (PSDB-MG)
O senador eleito por Minas Gerais disputou palmo a palmo com Serra a indicação do partido para a Presidência. Acabou desistindo da disputa. O engajamento na campanha traz dois resultados, ambos positivos: se o antigo adversário vencer, o partido fica fortalecido e ele seria candidato natural à sucessão. Caso o tucano perca, Aécio torna-se um dos líderes da oposição no Senado e terá consolidado sua imagem nacional ao trabalhar por Serra além das divisas de Minas Gerais.
Tasso Jereissati (PSDB-CE)
O senador cearense nunca fez parte da cota de tucanos próximos a Serra. Nesta eleição, não conseguiu se reeleger ao Senado e anunciou que abandonaria a política no fim do mandato, no fim do ano. Acabou entrando de cabeça na campanha de Serra no Ceará. Percorrendo cidades ou arregimentando cabos eleitorais, tenta a sobrevivência política e de parte do poder no estado. Se Serra vencer, pode acabar sendo resgatado da aposentadoria para assumir um ministério.