Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Com direito a padre acompanhando e santinhos, Serra faz carreata em Goiânia

Goiânia ; Sob um intenso calor de 35;C que marcou o evento realizado pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ontem, na capital de Goiás, os tucanos deram mostras de que a religião continuará sendo um dos principais temas em pauta na campanha visando o segundo turno das eleições presidenciais. O que mais chamou a atenção durante a carreta nas ruas de Goiânia nessa segunda-feira não foi Serra ou o séquito de correligionários, mas o apelo à fé. Citações bíblicas como ;Jesus é a verdade e a Justiça; estavam impressas nos santinhos distribuídos entre os eleitores. No carro de som em que o presidenciável desfilava, um padre o acompanhava. Em certo momento, Genésio Ramos, da Paróquia de São Francisco de Goiás, em Anápolis, deu um terço a Serra, que beijou o artefato.

Ao lado do candidato ao governo de Goiás Marconi Perillo (PSDB) ; que disputa o segundo turno com Íris Rezende (PMDB) ;, Serra percorreu diversas ruas da cidade. No início do percurso, ele caminhou entre a população, mas, devido a um início de tumulto, subiu em um carro de som.

De cima do trio elétrico, Serra fez um discurso de 20 minutos, no qual insistiu no tema religião. O candidato disse que faz uma ;campanha de fé;. ;A fé vem dentro da gente;, afirmou, acrescentando: ;Nosso povo é de fé;. Mas ele também brincou com o público quando o assunto foi futebol. Ele disse que torce para todos os times, mas ressaltou que é palmeirense desde que nasceu.

Apesar do pano de fundo religioso, não faltaram promessas, nem críticas à rival, Dilma Rousseff (PT). Serra disse que, caso seja eleito, fortalecerá as empresas estatais, rebatendo os ataques de que promoveria uma nova onda de privatizações, especialmente em relação à exploração de petróleo na camada pré-sal. ;É um factoide petista, eu nunca ouvi falar disso;, afirmou o tucano, prometendo dar novos rumos às companhias públicas. ;Vou fortalecer empresas estatais que hoje estão enfraquecidas pela privatização política, como é o caso dos Correios, que estão aí consumidos pela corrupção, pelo empreguismo e pelos negócios;, criticou.

Sobre o debate de domingo passado, Serra voltou a ironizar o tom agressivo adotado pela rival. ;Eu gostei do debate, mas teria feito um evento baseado na discussão de propostas, de programas de governo, o que cada um fez e o que pensam;, afirmou. ;A postura ofensiva é uma estratégia dela (Dilma) e, para mim, foi até uma surpresa que volte a atacar minha família. Atacar família não é bom em campanha eleitoral. Campanha é para se discutir propostas, comparar os candidatos e para que apresentem o que fizeram e o que vão fazer. Esse é o lado melhor da campanha, e não atacar reiteradamente a família de em candidato;, acrescentou.

Irritação
Até então tranquilo, José Serra só ficou irritado quando foi indagado sobre Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, que seria um dos arrecadadores de dinheiro para sua campanha. Segundo reportagem da revista Istoé , Preto teria sumido com R$ 4 milhões da campanha tucana. O presidenciável disse desconhecer o assunto, mas ficou nervoso. ;Eu sou o candidato, você acha que eu não saberia se tivesse havido isso?;, questionou.

Igrejas
A questão religiosa começou a entrar no debate político com a discussão sobre o aborto. Acusações de que a petista Dilma Rousseff seria a favor da prática levaram a candidata a ter problemas com setores das igrejas evangélicas e católica. Desde então, os dois presidenciáveis têm tomado cuidado especial com o tema, que pode ter grande impacto nas urnas.

Tucanos se reúnem em busca de organização

Denise Rothenburg

Enviada especial
São Paulo ; Se os problemas de Dilma Rousseff (PT) antes do primeiro turno foram, em parte, por uma campanha concentrada em três pessoas, os de José Serra (PSDB) tiveram como diagnóstico o excesso de paulistas. Para mudar isso e ampliar a base de busca de votos, os tucanos fizeram ontem uma reunião no quartel-general de campanha para organizar a etapa final. A ordem é concentrar os esforços especialmente no Sudeste e no Sul do país, onde consideram mais fácil José Serra ampliar a vantagem ou tirar alguns votos da candidata do PT. E, ao mesmo tempo, não deixar ataques sem respostas. Com a entrada de Ciro Gomes (PSB-CE) na campanha de Dilma, por exemplo, o senador Tasso Jereissati (PSDB) se prontificou a responder a todos os golpes que Ciro desferir contra Serra. A impressão no ninho tucano é a de que a disputa no segundo turno galvanizou o partido e seus aliados que, da descrença total, passaram a acreditar que podem chegar lá. ;A luta será muito dura, mas, do nosso ponto de vista, estamos na frente. Afinal, candidato que está bem na pesquisa não entra agressivo como ela entrou;, comentou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), que vai ;morar; essas três semanas em São Paulo.

Discurso com foco regional

Na visita a Goiânia, onde esteve outras três vezes durante a campanha presidencial deste ano, o tucano José Serra prometeu levar a Ferrovia Norte-Sul até São Paulo para melhor escoar a produção agrícola de Goiás, além de melhorar o sistema viário da capital e do interior do estado. Logo ao chegar ao Aeroporto Santa Genoveva, o candidato tucano falou sobre a necessidade de uma nova pista de pouso e também da implantação de um sistema de metrô.

;O que se precisa é de um aeroporto moderno para Goiânia, à altura do desenvolvimento do estado. Também é necessária a construção de um metrô, de um anel viário na cidade, e é preciso ligar o estado com Mato Grosso por uma estrada duplicada, além de levar a Norte-Sul para São Paulo, para de lá poder levar os produtos até os portos. A exportação é importante para o Brasil e para gerar empregos para Goiás;, salientou o tucano durante o discurso que fez de cima de um carro de som.

Cara-pintada
Com o rosto pintado de verde e amarelo por um grupo de jovens, Serra se entusiasmou ao falar sobre seu programa de governo, ressaltando a necessidade de se combater o tráfico de drogas. No discurso, o candidato tucano voltou a falar na criação de um ministério que cuide da segurança pública, além de uma guarda nacional para atuar nas fronteiras do país. ;O tráfico anda solto pelas fronteiras;, ressaltou Serra.

No palanque improvisado, o presidenciável tucano ainda comentou a composição do Congresso Nacional a partir do ano que vem, quando PT e PMDB terão as maiores bancadas, tanto na Câmara quanto no Senado. Segundo Serra, ele não terá problemas com o parlamento ;Para mim, o adversário não é inimigo. A oposição tem que ser respeitada;, disse o tucano.