Em três meses de campanha, quatro candidatas à Câmara Legislativa do Distrito Federal conseguiram apenas um voto: o delas. Às vezes, nem isso. Nas eleições deste ano, houve postulantes que optaram por votar em outras pessoas, como a pedagoga Mariclese Chaves (PDT), 40 anos. A maranhense, natural de Grajaú e moradora do Guará, desistiu da corrida eleitoral ainda no início, mas, como já havia resgistrado a candidatura, seu rosto e seu número apareceram na urna. Mariclesse conquistou a simpatia de dois eleitores. ;Foram duas almas benditas que votaram em mim. Uma eu desconfio que tenha sido o pai do meu filho e a outra, eu não descobri até hoje. Já perguntei para todo mundo de casa e amigos, mas ninguém disse quem foi;, contou ela, sem perder o bom humor nem dizer quem escolheu para ocupar o cargo na Câmara Legislativa. Ela planejava defender projetos para a formação de jovens e o combate à violência contra a mulher, mas não pôde partir para o corpo a corpo por falta de verba.
O resultado da votação do último domingo foi divulgado pela Justiça Eleitoral. Eis as quatro candidatas que tiveram apenas um voto: Marisa de Sousa Requia (PDT), Roberta Chaves (PDT), Iraci Claro (PSB) e Nerineuma Godoy (PT do B). A reportagem do Correio conseguiu falar com duas delas. Estudante de direito, Nerineuma, 34 anos, reconheceu que se candidatou por falta de opção em quem votar: ;Foi uma forma de protesto por causa desses políticos corruptos. Não queria dar voto para eles e acabei votando em mim;.
Sem surpresa
A ex-candidata não ficou surpresa com o resultado das urnas. Casada e mãe de cinco filhos, ela diz não ter divulgado sua candidatura nem mesmo para a família. ;Eles quase não assistem a propaganda política e, se eu ganhasse mais algum voto, seria de alguém que viu meu nome no site ou na televisão;, admitiu. Nerineuma é paraibana, natural de Catolé do Rocha e moradora de Ceilândia, o maior colégio eleitoral do DF. Mas nem mesmo o fato de morar em um local com grande número de eleitores empolgou a universitária, que desistiu de conquistar uma das 24 vagas da Câmara Legislativa ainda no primeiro mês de campanha. Um dos motivos que a levaram a sair da disputa foi o fato de não ter recebido apoio do partido e de outros candidatos mais bem cotados. Com a experiência, Nerineuma afirma não querer tentar um mandato nas eleições dos próximos quatro anos. ;Acho que esse ramo não é a minha praia. Ainda preciso amadurecer a ideia de tentar entrar na política, mas não tenho essa pretensão para o futuro. É muita safadeza nesse meio.;
Ex-canditada a distrital pelo PDT, Marisa de Sousa Requia, 40 anos, também teve apenas o próprio voto. ;Só eu que votei em mim. Não tenho família grande aqui e eu mesma fiz campanha para as pessoas votarem em outro candidato;, disse. Potiguar de Natal (RN), Marisa disse que ;liberou; os quatro parentes que ela tem em Brasília para votarem em quem quisessem. ;Não tive verba para fazer campanha nem apoio dos candidatos mais fortes. Por isso, praticamente desisti da minha candidatura. Fiquei muito chateada com isso e resolvi falar para as pessoas não votarem em mim porque ter 15 ou100 votos não ia adiantar nada. Não ia me eleger da mesma forma;, avaliou. Apesar da frustração, Marisa não perdeu a esperança de realizar o sonho de entrar na política. ;Tenho muita vontade de ser deputada, mas já vi que não é nada fácil. Daqui a quatro anos, estarei mais preparada. Quem sabe o povo tem dó de mim;, brincou.
Mudanças
Outra que teve a preferência de dois eleitores foi a ex-candidata a deputada distrital pelo PMDB, Débora Costa, 29 anos. Mesmo tendo renunciado à candidatura ainda em setembro, ela conseguiu ter seu número confirmado na urna eletrônica. O motivo da saída: Débora se para Belo Horizonte. A ex-candidata não faz a menor ideia de quem a escolheu.
Para Mariclese Chaves, os poucos votos não a fazem desanimar. Ela avalia que sua vida política está apenas começando e, que embora também não tenha tido verba para confeccionar panfletos, pagar cabos eleitorais e espalhar faixas pela cidade, a experiência serviu para o seu fortalecimento. ;Em relação à sujeira na política, já vi que nem o Judiciário dá jeito. A força tem que vir do povo e, se não nos unirmos, não vai ter jeito mesmo. Desisti da minha campanha, mas não desisti da política. Vou me preparar para a próxima eleição em 2014 para chegar bombando;, garantiu Mariclesse.