Mais de 11 milhões dos votos digitados pelos eleitores nas eleições de domingo poderão ter como destino a lixeira. Esse é o total de votos recebidos em todo o país pelos candidatos que se encontram com a situação de registro indeferida, mas que aguardam decisão final da Justiça. A maior parte corresponde a políticos que foram considerados inelegíveis com base na Lei da Ficha Limpa. Se eles não reverterem a situação, os votos continuarão sendo nulos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou ontem a quantidade de votos recebidos pelos candidatos sub judice. Esses votos não foram contabilizados no resultado oficial, mas ficarão armazenados e só passarão a ser válidos se o candidato obtiver vitória na Justiça. Para os cargos majoritários, as eleições ainda estão indefinidas em três estados.
No Pará, a situação é mais grave e há o risco de a Justiça Eleitoral ter de convocar uma nova votação para o cargo de senador. Por lá, Jader Barbalho (PMDB) e Paulo Rocha (PT) somaram mais de 50% do total de votos. Caso eles continuem inelegíveis e seus votos permaneçam considerados nulos, é possível que seja convocada outra eleição, uma vez que a lei prevê a realização de novo pleito quando mais da metade dos votos são nulos.
Candidato do PSDB, Simão Jatene saiu vencedor na eleição para senador pelo Pará, com 1,81 milhão de votos. Caso a Justiça Eleitoral decida convocar nova eleição, ele será o maior prejudicado, já que ficou a frente de Jader, segundo colocado nas urnas, com 1,79 milhão de votos, e de Paulo Rocha, que somou 1,73 milhão. No resultado oficial, porém, Marinor Brito (PSol) aparece como o eleito para a segundo vaga. Ela somou 727 mil votos.
No Amapá, a situação das eleições para o Senado também está indefinida. Por lá, o candidato João Capiberibe (PSB), inelegível por decisão do TSE, foi o segundo mais votado, com 130 mil votos. Por enquanto, porém, Gilvan Borges (PMDB), que teve 121 mil votos, aparece como eleito.
Na Paraíba, a situação também está indefinida. Cássio Cunha Lima (PSDB), inelegível por ter sido cassado do cargo de governador, conquistou mais de 1 milhão de votos para o Senado, à frente do primeiro e segundo colocados no resultado oficial. A vitória do tucano não foi proclamada porque ele está sem o registro.
As bancadas da Câmara também podem ser alteradas depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) tomar uma decisão definitiva sobre a validade ou não da Lei da Ficha Limpa para essas eleições. Dois candidatos ;puxadores de voto; podem interferir na cálculo do quociente eleitoral.
Liminar
Anthony Garotinho (PR-RJ), o mais votado na eleição do Rio de Janeiro, com 694 mil votos, ainda aguarda decisão da Justiça quanto a sua elegibilidade. Uma liminar do TSE garantiu ao ex-governador concorrer no domingo com a situação deferida. Já o deputado Paulo Maluf (PP-SP) não apareceu na contagem oficial de votos, apesar de ter recebido uma das mais expressivas votações para deputado por São Paulo. Foram 497 mil votos, mas ele, por enquanto, está inelegível.
O presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, afirmou que dará ;prioridade absoluta; para o julgamento de recursos que envolvam candidatos em situação indeferida. Ele, porém, teme que uma demora do STF para se pronunciar sobre a Ficha Limpa possa dificultar a proclamação do resultado em alguns estados. ;Se nenhum ministro mudar de opinião, tenho a impressão de que o impasse perdurará até a indicação do próximo ministro;, afirmou, em referência a cadeira que está vaga. Quando o STF analisou a validade da lei, o julgamento foi suspenso com o placar de 5 votos a 5.