Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Votações sem transtornos em todo o Distrito Federal

Segundo o TRE, DF teve um domingo de eleições tranquilas. Das 26 prisões, 14 foram por tentativa de compra de votos em troca de alimentos


Maria Júlia Lledó
Naiobe Quelem e
Noelle Oliveira

O Distrito Federal teve um domingo de eleições dentro da normalidade, segundo avaliação do vice-presidente e corregedor eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do DF (TRE-DF), desembargador Mario Machado. A apuração foi encerrada à 20h41. Ao todo, foram realizadas 26 prisões, 14 dessas por tentativa de compra de votos em troca de alimentos, na cidade de São Sebastião, além de outras 23 detenções. O Centro Integrado de Atendimento e Despacho (Ciade) da Polícia Militar ainda contabilizou 80 ocorrências por crime eleitoral. A maioria, de acordo com o procurador regional eleitoral Renato Brill de Góes, por venda e consumo de bebida alcoólica. Em segundo lugar nos registros veio a propaganda eleitoral e, em último, a compra de votos.

As 14 pessoas enquadradas por tentativa de compra de votos distribuíram 454 kits lanche contendo uma fruta, suco de caixinha e biscoitos de água e sal. De acordo com a autuação em flagrante, sete homens e sete mulheres estavam entregando os alimentos para eleitores em uma casa próxima à 18; Zona Eleitoral de São Sebastião. Todos foram levados ao Departamento da Polícia Federal para serem ouvidos.

Com o material apreendido, a Polícia Militar, responsável pelo flagrante, encontrou panfletos e papéis de um candidato. A PF não revelou a identidade, nem o partido. O delegado Júlio César Fernandes dos Santos afirmou que o político citado ainda não foi localizado, mas será intimado em até três dias. Ele responderá pelo artigo 299, segundo o qual ;dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber qualquer dádiva, dinheiro ou qualquer vantagem para obter voto é crime, ainda que a oferta não seja aceita;. A pena é reclusão de até quatro anos e pagamento de multa. O crime é inafiançável.

Urnas substituídas
Em todo o DF, foram substituídas 69 urnas eletrônicas por apresentaram problemas técnicos. Nenhuma urna de lona, no entanto, foi utilizada. Mesmo assim, os eleitores não tiveram dificuldades para votar e levaram de 1 minuto e 30 segundos a dois minutos para escolherem deputados distrital e federal, dois senadores, governador e presidente da República. Segundo o assessor de planejamento do TRE;DF, Marcello Soutto Mayor, os eleitores apenas se confundiram quanto ao número da zona e da seção em que deveriam votar, uma vez que o STF aboliu a obrigatoriedade da apresentação do título de eleitor. Por esse mesmo motivo, as linhas de telefone do TRE estiveram congestionadas ontem. Mais de 95% das chamadas foram de eleitores que desconheciam zona e seção eleitoral.

Propaganda irregular
O esforço do TRE para conter as propagandas políticas fora do prazo permitido ; até o último sábado, às 22h ; não foi suficiente. As cidades amanheceram cobertas de planfletos. Alguns deles bem mais ousados, como um que denegria a imagem de Agnelo Queiroz.

A coordenadoria jurídica da campanha do candidato petista formalizará denúncia sobre a distribuição de panfletos feita na madrugada de ontem. De acordo o juiz do TRE, Carlos Alberto Martins Filho, um dos responsáveis pela organização e fiscalização da propaganda eleitoral no DF, os materiais foram recolhidos, todos os casos serão comunicados ao Ministério Público e gerarão a abertura de processos. ;Qualquer propaganda fora do prazo configura crime eleitoral e está sujeita a pena de detenção de 6 meses a um ano, mais prestação de serviço à comunidade;, explica.

A última operação do TRE ocorreu na noite de sábado e na madrugada de domingo, entre as 22h e as 5h. A equipe encheu 45 caminhões com faixas, placas, banners e cavaletes. Na última sexta-feira, uma mesma operação, realizada entre 9h e 19h, recolheu mais de 30 mil quilos de material publicitário.

Idade não é barreira
No DF, ontem, eleitores de 16 a 18 anos ou acima de 60 anos, faixas etárias para as quais o sufrágio não é mais obrigação, fizeram questão de sair de casa e marcar presença nas urnas. Morador de Taguatinga, João Alves de Castro, 103 anos, acredita ser o eleitor mais velho do DF. Nas últimas eleições gerais, em 2006, ele ficou em casa. Não se sentia atraído pelas propostas dos candidatos. Este ano, entretanto, João se empolgou, principalmente com a disputa presidencial, e quis fazer valer sua opinião. ;A gente tem que pedir a Deus e aos candidatos para ter um mundo e um país de paz;, sentenciou o pai de 14 filhos, com 32 netos e quatro bisnetos.

A idade e as limitações físicas também não foram empecilho para o aposentado Francisco Antônio Zaffino, 92 anos. Conduzido em uma cadeira de rodas pelo filho Antônio Carlos, 50, ele compareceu à sua seção eleitoral, na QI 5 do Lago Sul. ;Tenho que participar porque ainda estou vivo;, declarou Francisco. (Mariana Branco)