Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Pela 2ª vez no DF, candidatos da mesma coligação são eleitos ao Senado



Saulo Araújo
Viviane Vaz e
Mariana Mainenti


Nada de surpresas nas eleições para senador do Distrito Federal: conforme todas as pesquisas de opinião indicaram desde o início da campanha, os dois candidatos mais bem cotados foram os vencedores no pleito deste ano. Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) receberam 833.480 (37,27%) e 738.575 (33,03%) votos, respectivamente. Alberto Fraga (DEM) ficou em terceiro, com 511.517 (22,87%). Além de render vagas no Poder Legislativo, a vitória teve um sabor especial para ambos.

Primeiramente, porque dois senadores da mesma coligação (Um novo caminho) tiveram a preferência dos brasilienses. Fato idêntico ocorreu apenas em 1986, quando foi realizada a primeira disputa nas urnas na capital. Na ocasião, Romeu Pompeu e Meira Filho, ambos do PMDB, fizeram a dobradinha. O segundo diferencial é que os candidatos apoiados pelo presidente Lula tiveram a maior votação (leia o quadro) para o cargo na história do DF. Cristovam ainda bateu um recorde pessoal: em 2002, concorrendo ao mesmo posto, recebeu 680 mil votos, tornando-se o mais votado em todas as edições da corrida eleitoral.

Mesmo com o bom resultado nas urnas, o professor e ex-ministro da Educação preferiu adotar o discurso da cautela. Para ele, a festa só será realmente feita depois que Agnelo Queiroz (PT) vencer Weslian Roriz (PSC) no segundo turno. ;Até lá, não me sinto em condições de comemorar nada;, ponderou. Ele atribuiu seu excelente desempenho, em grande parte, à militância petista. E aproveitou para fazer um pedido aos candidatos derrotados na disputa pelo GDF. ;Faço um apelo ao PSol e ao PV para que venham para o nosso lado e fique no passado qualquer confronto;.

Mostrando tranquilidade, Cristovam, 66 anos, compareceu ontem às 10h para votar em um colégio na 914 Norte. ;Há quatro anos (quando o candidato concorreu à Presidência da República), as pesquisas me davam 1%. Estou com o mesmo estado de espírito;, avaliou o político, que concorreu com outros 54 nomes. Enquanto se dirigia à seção eleitoral, foi parado por dezenas de eleitores que quiseram cumprimentá-lo, chamando-o de ;senador; e ;professor;. Com a reeleição, Cristovam prometeu manter o foco de seus programas de governo anteriores, com ênfase na educação. Ele também acrescentou propostas na área de saúde. ;Casa, um pode ter uma grande, e outro, pequena; roupa, um pode ter uma bonita, e outro, uma feia; férias, um pode passar na Europa, e outro, em casa. Mas o acesso à educação e à saúde tem de ser igual;, enfatizou.

O ex-ministro, que concorreu representando uma coligação de 11 partidos, garantiu: ;Continuo do mesmo lado das forças progressistas do PT, do PDT, do PSB e do PC do B;. Aliado da presidenciável Dilma Rousseff, ele avaliou que o vencedor nas eleições presidenciais, não importa quem, será obrigado a melhorar a educação do país. ;Quando houve um apagão de energia, qualquer presidente naquele momento teria de cuidar disso. Nós estamos vivendo um apagão educacional de consequências trágicas;, comparou.

Na sala de votação, Cristovam se encaminhou à urna eletrônica acompanhado da neta Luisa Buarque, de 3 anos. A animação da pequena foi compartilhada na mesma zona eleitoral pela dona de casa Eurídice Lima, 94 anos. ;Quero que o Brasil melhore com essas eleições e o DF também.;

;Olá, senador;
Logo depois de saber da vitória, Rodrigo Rollemberg falou ao Correio na condição de senador eleito. Ele ficou surpreso com a quantidade de pessoas que digitaram seu número nas urnas. ;Estou emocionado. Achava impossível alcançar essa marca. Vou retribuir e honrar cada voto com muito trabalho por Brasília.;

O novo senador ressaltou que seu mandato se sustentará em três pilares: ;Temos o desafio de garantir educação de qualidade para todos. Também é importante fortalecermos o Sistema Único de Saúde e nos dedicarmos à inovação em ciência e tecnologia;.

O político finalizou com uma crítica ao Supremo Tribunal Federal (STF), que não decidiu sobre a validade da Lei da Ficha Limpa nestas eleições. ;O Congresso avançou com a aprovação da lei, mas o STF não teve capacidade de esclarecer a população. Mas o povo mandou um recado muito claro: quer mudar o futuro da política no Brasil.; A festa da vitória ocorreu no comitê do candidato, no Setor Comercial Sul.

Por volta das 10h, Rollemberg chegou para votar ao lado da mulher, Márcia, em uma escola na 604 Sul. Ao deixar a seção, ele recebeu um abraço e um pedido de uma eleitora. ;Consegue um reajuste para os professores;, disse a professora Cleusa de Medeiros, 50 anos. O candidato deixou o local de votação por volta das 10h20 e, em seguida, acompanhou Agnelo Queiroz no Centro de Estudos Supletivos Asa Sul (Cesas). ;Esta é a vitória de Brasília;, afirmou Rollemberg. O petista, por sua vez, dirigiu-se ao candidato de sua coligação com um ;Olá, senador;.

Perfil - Cristovam Buarque
O pai do Bolsa-Escola
Nascido em fevereiro de 1944, no Recife, Cristovam Buarque se formou engenheiro mecânico em 1966 pela Universidade Federal de Pernambuco. Em 1973, depois de ganhar uma bolsa de estudos, concluiu o doutorado em Economia pela Sorbonne, em Paris. Até 1979, trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, quando resolveu retomar ao Brasil para dar aulas na Universidade de Brasília (UnB). Na instituição de ensino, ganhou projeção e foi reitor de1985 a 1989. Em 1994, candidatou-se ao GDF pelo PT e venceu o peemedebista Valmir Campelo. Um dos feitos de sua gestão foi a criação do programa Bolsa-Escola. No pleito seguinte, tentou a reeleição, mas Joaquim Roriz derrotou-o. Durante o período em que não ocupou cargos na política (1999 a 2002), conciliou o trabalho na UnB com a organização não-governamental Missão Criança, criada por ele para promover o Bolsa-Escola. Em 2002, elegeu-se senador pelo PT, mas afastou-se por um ano para assumir o Ministério da Educação, onde ficou de janeiro de 2003 até o mesmo mês em 2004. Filiou-se ao PDT em setembro de 2005, partido pelo qual disputou as eleições para a presidência da república de 2006. Na ocasião, recebeu menos de 3% dos votos.

Perfil - Rodrigo Rollemberg
Política: dom de família
Rodrigo Rollemberg nasceu em 13 de julho de 1959, no Rio de Janeiro, e está em Brasília desde 1960. Analista legislativo do Senado, formado em história pela UnB, casado, três filhos, herdou do pai, o juiz e ex-deputado federal Sergiano Armando Leite, a vocação para a política. Em 1985, filiou-se ao PSB e, cinco anos mais tarde, disputou a primeira eleição para distrital, mas não conquistou vaga. Em 1994, chegou à suplência do cargo, assumindo o mandato depois que o titular Wasny de Roure saiu de licença. Ficou conhecido pelo trabalho em defesa do turismo e pelo combate à grilagem de terras. No governo Cristovam, foi secretário de Turismo. No pleito de 1998, elegeu-se deputado distrital, com 16 mil votos. Quatro anos depois, lançou a candidatura a governador, ficando com o terceiro lugar. Em 2003, assumiu a Secretaria Nacional de Inclusão Social, do Ministério da Ciência e Tecnologia, e em 2006 chegou à Câmara dos Deputados.




Fraga e Abadia magoados
Ao chegar por volta de 14h à Escola Classe 18 de Ceilândia Sul, onde vota, Maria de Lourdes Abadia (PSDB) não escondeu a revolta com o procurador regional eleitoral Renato Brill por ele ter recorrido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pedido a análise de ação de impugnação contra ela. Anteriormente, o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) não havia acatado a contestação da Procuradoria Eleitoral, baseada na Lei da Ficha Limpa, e permitiu a candidatura da tucana. ;Tenho mágoa desse procurador. Ele tem dois pesos e duas medidas,; desabafou Abadia. ;Eu me senti muito prejudicada e perseguida. Sinto ainda mais pelos meus eleitores, que não sabem se a minha candidatura está valendo ou não;, acrescentou.

Segundo ela, sua vitória foi prejudicada por Brill. ;Vi nas primeiras pesquisas que seria eleito um candidato do lado de lá (da coligação Um novo caminho) e um candidato do lado de cá. Eu estava à frente do Rollemberg e, depois da confusão com a impugnação, caí, porque o eleitor se sentiu inseguro;, lamentou. Os 348.842 votos recebidos por Abadia, que representam 15,6% do total, não poderão ser computados oficialmente enquanto não for julgado o recurso relativo à validade da candidatura. Por esse motivo, no ranking divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral, ela aparece entre as últimas posições, como se não tivesse recebido voto algum.

O deputado federal Alberto Fraga (DEM) mostrou-se indignado com a derrota na corrida e ironizou o resultado das eleições, ;parabenizando; o povo de Brasília pelo que chamou de ;vitória da hipocrisia e da mentira;. ;O povo mais tarde vai entender que essa foi uma derrota para a democracia de Brasília.; Agora, Fraga deseja fazer papel de oposição. ;Vou divulgar os podres desse governo nojento do PT nem que seja distribuindo panfletos na Rodoviária.;

Fraga votou na Escola Classe 08 do Cruzeiro. Acompanhado de familiares, ele chegou ao local às 10h05 e permaneceu lá por meia hora.