Porto Alegre ; ;É bom não comemorar tão cedo. Afinal, a capacidade dos nossos de fazer besteira é maior do que a dos adversários de acertar.; A frase, dita há quase um mês por um alto expoente da campanha de Dilma Rousseff (PT), parecia prever o futuro. Enquanto acompanhavam a apuração do resultado que levou a petista ao segundo turno, todos se perguntavam o que deu errado. Como a própria presidenciável declarou antes mesmo de abertas as urnas, o que faz levar uma disputa ao segundo turno é um conjunto de fatores, e não um fato específico.
Realmente, o adiamento da decisão nas urnas pode ser creditado a uma sucessão de eventos, a começar pelo excesso de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a falar em ;extirpar; o DEM, um oposicionista ferrenho. Essa postura, somada às denúncias de malfeitorias petistas que tomaram conta do país nessa reta final da eleição, aos ataques de Lula à imprensa e, para completar, a onda de boatos que pintaram Dilma como defensora do aborto e do casamento homossexual, podem ter contribuído para contestar as pesquisas que apontavam vitória da petista no primeiro turno.
Mas há outras variáveis importantes nessa equação. Uma delas foi a quebra de sigilo fiscal de personalidades ligadas ao PSDB. O assunto, fartamente explorado pela oposição, representou o pontapé inicial que deu mais fôlego ao tucano José Serra. E, quando o tema ;sigilo fiscal; começou a esfriar nos jornais, surgiu o escândalo envolvendo a então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, e as denúncias de tráfico de influência de seu filho Israel Guerra no ministério.
Dilma, num primeiro momento, se escondeu em um biombo, dando a Erenice o benefício da dúvida. Mas as explicações da chefe da Casa Civil não foram convincentes e, em 16 de setembro, ela acabou convidada a se retirar do ministério para facilitar a caminhada de Dilma e colocar o noticiário de volta ao leito natural: a disputa eleitoral.
Passado o caso Erenice, vieram os temas aborto e casamento homossexual, além de vídeos apócrifos na internet. Tanto se fez que, uma semana antes da eleição, Dilma reuniu pastores evangélicos em seu comitê para tentar afastar a tentativa de ;demonização; da sua imagem. Logo depois, foi a Porto Alegre batizar o neto Gabriel.
;Nossa campanha sofreu um processo de detratação ao longo dos últimos oito dias. Foi uma ação sórdida. O caso Erenice também teve participação, mas acho que foi menor. Agora vem outra eleição e temos que trabalhar;, resumiu o deputado reeleito Beto Albuquerque (PSB-RS).
Apoio
Ontem, em Porto Alegre, os petistas já começaram o trabalho para angariar votos. ;Farei o que a coordenação da campanha de Dilma me pedir;, avisou o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. O ex-ministro das Cidades Olívio Dutra foi incisivo com os militantes: ;Nossa vitória não está completa. Temos a missão de eleger Dilma presidenta;. Henrique Fontana (PT-RS), ex-líder do governo Lula na Câmara, também foi direto: ;Tivemos uma vitória expressiva no primeiro turno e todos os indicativos apontam que podemos ter uma votação ainda maior no segundo;, disse.
A princípio, a ideia dos petistas é puxar o discurso de 2006, que deu certo contra o tucano Geraldo Alckmin: comparar Lula a Fernando Henrique Cardoso e dizer ao eleitor que faça a escolha. Só resta saber se a velha fórmula que deu certo com Lula dará certo com Dilma.